O uso da expressão “nova economia” se popularizou no final dos anos 1990, quando a bolha da internet surgiu e impulsionou uma forte alta nas ações das novas empresas de tecnologia da informação. Foi o primeiro sinal da transição de uma economia baseada na indústria para uma focada nos serviços prestados. No entanto, foi apenas na última década, após 20 anos dos primeiros burburinhos sobre o assunto, que o movimento realmente começou a ser perceptível no mercado, seja pelo surgimento de novas companhias inovadoras ou pela mudança no comportamento das tradicionais.
“Quando tratamos do assunto, não falamos apenas de startups. Magazine Luiza, Dasa, XP e Inter são alguns exemplos de empresas que conseguiram levar as novas tecnologias e comportamentos para dentro de casa”, revela Diego Barreto, CFO e VP de estratégia do iFood. Participante ativo da transição de mercado, o executivo escreveu o livro “Nova Economia – Entenda por que o perfil empreendedor está engolindo o empresário tradicional brasileiro”, com lançamento previsto para abril.
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“Nos últimos dez anos, fiquei encantado pela nova economia por perceber que era uma oportunidade para que pessoas, não só de famílias privilegiadas, pudessem alcançar o sucesso. Com a chegada da pandemia e o consequente aumento do abismo financeiro, ficou ainda mais claro que esse é o caminho certo a seguir”, explica Barreto sobre sua motivação para ingressar no mundo editorial e falar sobre o assunto. De certa forma, a pandemia também impulsionou a popularização do termo, visto que diversas empresas tiveram que acelerar suas transformações para sobreviver à crise. “Deveríamos perguntar para essas empresas: por que você está fazendo isso apenas agora? Precisava esperar uma pandemia colocar uma arma na sua cabeça?”
No entanto, embora alguns conceitos da nova economia estejam sendo explorados pelas companhias em forma de trabalho remoto e investimento em tecnologia, Barreto destaca que é preciso entender o movimento para realmente fazer a diferença no mercado. “Na velha economia, a mudança acontece por uma necessidade, enquanto na nova ela acontece porque você entende que é preciso acompanhar o avanço do mundo. Todas essas empresas compreenderam a transição ou estão apenas em modo sobrevivência?”, questiona o executivo.
Mais do que investimento em delivery e website próprio, Barreto explica que a nova economia diz respeito à substituição da tradicional lógica manufatureira pelo fornecimento e desenvolvimento de produtos associados à tecnologia proprietária. “Eu preciso desenvolver a minha tecnologia para potencializar o meu diferencial em relação a outras companhias. Quando o mercado não entende isso, temos um ambiente sem concorrência, em que empresas arcaicas têm bons resultados porque não tem competição”. Dessa forma, o avanço fica estagnado em uma bolha de conformismo e práticas ultrapassadas.
Em outra reflexão levantada pelo CFO, fica claro a importância da concorrência para outro cenário: o de oportunidades. “Quando olhamos para o histórico socioeconômico brasileiro, enxergamos características que se perpetuam por décadas. Uma sociedade hierarquizada que gera pouca oportunidade para quem não faz parte de um grupo restrito de privilegiados. Se não há diversidade no mercado, não há competição”, destaca. “Eu sou o típico privilegiado e enxergo isso”, completa Barreto, explicando que sua passagem por empresas nacionais e multinacionais geraram bagagem para que ele entendesse a importância da nova economia.
“Em 2014, fui fazer meu MBA com foco em estratégia e liderança pelo IMD (International Institute for Management Development), na Suíça, e me deparei com as primeiras diferenças de gestão em relação ao Brasil. Quando voltei, como diretor financeiro da Suzano Papel e Celulose, a ficha finalmente caiu”, relembra. Foi nesse momento que começou a lidar com startups, mentorando nomes como Mob.Go e 99 App antes de entrar no iFood. “Após todo esse processo, entendi que a velha economia é a condição de empresas que se mantém ligadas a práticas e gestões que não conversam mais com a sociedade, seja em termos de tecnologia ou diversidade.”
Para o executivo, a hora de aderir a nova economia é agora. “Para as empresas que ainda não entenderam, espero que meu livro seja uma mensagem de esperança e clareza”, diz. No entanto, enquanto a obra não é lançada, Barreto revela para a Forbes alguns comportamentos presentes no movimento.
Veja, na galeria abaixo, cinco características da nova economia:
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Getty Images/Narisara Nami O cliente como centro de tudo
Para Barreto, uma das conclusões mais surpreendentes em sua trajetória foi perceber que a importância central do consumidor ainda não é um conceito claro para todo mundo. “A necessidade do Procon é um exemplo disso. Nossa sociedade precisa de um meio para providenciar atendimento e prestação de serviço adequados, o que não precisaria acontecer se o cliente fosse colocado como centro de tudo”, destaca. Basicamente, é preciso oferecer o que o consumidor realmente deseja e procura, seja no serviço final ou no posicionamento das empresas sobre causas sociais.
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Getty Images/Bloom Productions Tecnologia proprietária é necessidade urgente
Como o CFO explicou, a falta de tecnologia proprietária faz com que as companhias entrem em um ciclo de comodismo que atrasa o avanço e dificulta a criação de um ambiente de concorrência. Mais do que um termo do mundo dos negócios, a competitividade é ferramenta essencial para que as empresas trabalhem com dedicação a fim de oferecer o melhor serviço do mercado. Com muitas opções, o cliente não é refém de um serviço mal prestado, podendo facilmente recorrer à concorrência caso não goste do produto final. “Até quando você vai depender da tecnologia dos outros?”, questiona Barreto. “Isso não quer dizer que a sua empresa tem que produzir tudo, mas o controle do serviço que você presta ao consumidor precisa ser seu.”
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Getty Images/MoMo Productions Diversidade e inclusão sob a ótica dos negócios
Mais do que uma ótica social, a diversidade e a inclusão devem ser observadas pela ótica dos negócios na nova economia. Para o CFO, o importante é enxergar o quanto as temáticas são importantes para o funcionamento das empresas, não apenas para criar um discurso bonito nas mídias sociais. “O mundo mais complexo e ágil pede a voz dos grupos minorizados. Hoje, essas pessoas têm espaço para conversar nas redes sociais. Eles podiam se esconder antes, mas agora estão transparentes e precisam ter suas visões incluídas. Suas decisões de gestão provavelmente estão erradas sem uma visão diversa”, conclui.
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Getty Images/dowell Orientação por dados é essencial
Em meio a um mundo cada vez mais ágil, em constante transformação, não dá mais para acompanhar a gestão de forma exclusivamente manual. As empresas precisam de uma orientação por dados para entender as mudanças no comportamento do consumidor e nas estratégias de liderança. “O Instagram, há alguns anos, não era uma plataforma de marketing e vendas. O Mercado Livre não era essa potência que é hoje. Essa velocidade abrupta de mudanças faz com que você necessite de uma ajuda tecnológica”, explica o executivo. “Com os dados em mãos, você usa sua criatividade como ser humano para decidir como agir”. De certa forma, o momento pede um trabalho conjunto entre máquinas e profissionais capacitados.
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Getty Images/Oscar Wong Sustentabilidade é ação, não discurso
Assim como a inclusão, a sustentabilidade não pode mais ser observada como apenas um discurso bonito. “Estamos falando sobre comportamento, não sobre conceito. Sustentabilidade não é falar sobre o assunto na mídia, é agir de forma constante e consistente. Acreditar em algo e colocar em prática de modo a influenciar na sociedade”, explica Barreto. “Todo mundo está entendendo a importância de não depender mais do Estado para decidir sobre sustentabilidade. Os próprios consumidores cobram posicionamento das empresas.”
O cliente como centro de tudo
Para Barreto, uma das conclusões mais surpreendentes em sua trajetória foi perceber que a importância central do consumidor ainda não é um conceito claro para todo mundo. “A necessidade do Procon é um exemplo disso. Nossa sociedade precisa de um meio para providenciar atendimento e prestação de serviço adequados, o que não precisaria acontecer se o cliente fosse colocado como centro de tudo”, destaca. Basicamente, é preciso oferecer o que o consumidor realmente deseja e procura, seja no serviço final ou no posicionamento das empresas sobre causas sociais.
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