Na última sexta-feira (26), o Instituto Butantan e o governo de São Paulo anunciaram uma vacina 100% brasileira: a ButanVac. Pouco tempo depois, o hospital Mount Sinai, de Nova York, afirmou que, na realidade, a pesquisa para a produção do imunizante havia sido desenvolvida em seu laboratório, nos Estados Unidos. A arquitetura científica da vacina foi toda criada no exterior e licenciada de graça para o Butantan – além de mais duas instituições, uma na Tailândia e outra no Vietnã.
“A ButanVac é e será desenvolvida integralmente no Brasil. Mas o consórcio internacional tem um papel importantíssimo na concepção da tecnologia e no suporte técnico para o desenvolvimento do imunizante”, afirmou o Instituto Butantan em nota oficial, incluindo o nome do hospital norte-americano nos comunicados à imprensa. No entanto, o que muitos não sabem, é que existe um bilionário por trás da capacidade tecnológica do laboratório internacional. Carl Icahn, um dos homens mais ricos do mundo segundo o ranking da Forbes, com patrimônio líquido de US$ 14,5 bilhões, doou US$ 200 milhões para o que hoje é a Escola de Medicina Icahn no Monte Sinai.
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Aos 85 anos, o filantropo já explorou diversos caminhos profissionais. Com formação em filosofia, cursou dois anos de medicina e fez parte do exército dos Estados Unidos. Mas foi apenas em 1961, como corretor, que Icahn se tornou conhecido por sua atuação agressiva no mercado financeiro. Seu método era identificar e comprar ações baratas para, em seguida, assumir o controle acionário e intervir na administração das companhias. Foi o que fez com a TWA (Trans World Airlines), quando adquiriu o controle da linha área após um investimento audacioso. Por essas e outras, foi taxado de “invasor corporativo” pelo mercado financeiro e pela imprensa.
Em 1987, os ganhos de Icahn se multiplicaram ao ponto de ele decidir fundar sua própria empresa, a Icahn Enterprises. O resultado foi uma extensa lista de aquisições. O executivo adquiriu a XO Communications e comprou participações na Kodak, na Xerox e na farmacêutica Mylan Laboratories. Mais do que isso: nos últimos anos, lucrou em negócios feitos com empresas da categoria de Apple, eBay, Western Union, Motorola, Blockbuster, Time Warner, Gannet, Herbalife, Hertz, Google e Netflix.
Além de ousados, os investimentos do bilionário também contêm uma dose de ativismo. Ao identificar empresas com grande potencial de crescimento e lucratividade, o executivo adquire o controle com o propósito de realizar mudanças drásticas e salvar o cenário financeiro das organizações. A partir disso, ele e os demais acionistas lucram com a valorização dos papéis. Viacom, Motorola, Blockbusters e Time Warner foram algumas das companhias que passaram por esse processo.
Embora tenha passado por momentos turbulentos quando aceitou o cargo de assessor de Donald Trump nas questões ligadas à reforma regulatória, em 2016 – união política que durou pouco devido a desavenças -, Icahn tem uma imagem consolidada como um grande investidor. Mas, como nem tudo são flores, ele tomou decisões equivocadas recentemente, como a venda de sua posição na Netflix – o que lhe causou uma perda de quase US$ 17 bilhões, já que as ações da gigante do streaming valorizaram mais de dez vezes após sua saída. A Forbes estima que o bilionário tenha perdido outros US$ 5 bilhões em negociações nos últimos sete anos.
As batalhas perdidas de Icahn ilustram uma grande mudança em Wall Street. Na era da Amazon e do Bitcoin, o bilionário, aos 85 anos, é um dos últimos invasores corporativos do mercado financeiro. “Sou um cara de valor, e o modelo de ativismo ainda é o melhor se você encontrar uma empresa com valor oculto e o conselho não estiver tirando proveito disso”, insistiu em uma entrevista recente para a Forbes. De certa forma, sua convicção não o está prejudicando completamente. Mesmo em um cenário por vezes desfavorável, o mercado continua estimando suas iniciativas.
A consagração como filantropo também ajuda na construção de sua imagem, algo que ficou claro quando ele fez sua doação para a Escola de Medicina Mount Sinai, em 14 de novembro de 2012. O valor de US$ 200 milhões destinado à instituição fez com que o local fosse, inclusive, renomeado como Escola de Medicina Icahn em Mount Sinai em sua homenagem.
O instituto médico, responsável pelo desenvolvimento da ButanVac, foi fundado em 1963 e é o braço de ensino acadêmico do Mount Sinai Health System, que administra oito campus hospitalares na área metropolitana de Nova York. A instituição também foi responsável por conduzir os estudos clínicos do imunizante divulgado pelo Instituto Butantan e divulgar as descobertas em revistas científicas dos Estados Unidos.
Nascido em uma família de classe média no bairro de Queens, na cidade de Nova York, Icahn cresceu ao lado do pai advogado e da mãe professora, que tinham pouco interesse no mercado financeiro. O bilionário acredita que sua atuação tenha como base a ambição e a vontade de vencer. “Pouca gente teve a tenacidade que eu tive”, disse o investidor para Tony Robbins, estrategista e escritor, em uma entrevista. “Eu sou muito competitivo, passional ou obcecado – como quiser chamar. Está na minha natureza que, qualquer coisa que eu faça, eu tento ser o melhor”, finaliza.
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