O mercado de capitais sempre foi influenciado por grandes investidores, como Bill Miller, Peter Lynch e Warren Buffett. A pandemia de Covid-19, no entanto, remodelou estruturas e acelerou tendências, apresentando ao mercado novos influenciadores que, da internet para as ações, têm grande impacto nos preços, como o rapper Snoop Dogg e o mais popular entre eles, o CEO da Tesla, Elon Musk.
Não precisamos ir longe para encontrar exemplos. Nesta semana, por exemplo, Musk, com 49 milhões de seguidores até a publicação desta matéria, protagonizou mais um disparo nas criptomoedas. Na manhã da última quarta-feira (23), o CEO publicou em seu perfil no Twitter que os norte-americanos poderão comprar carros da Tesla com bitcoins, alavancando a cotação da cripto. Logo após o anúncio de poucos caracteres, o bitcoin superava os US$ 56 mil no exterior e, no mercado doméstico, era cotado acima dos R$ 317 mil.
Essa não foi a primeira vez que Musk mexeu nas cotações. Apenas em 2021, o CEO da Tesla foi responsável por mais cinco elevações nos preços dos ativos. A primeira ocorreu em 7 de janeiro, quando o bilionário tuitou “use Signal” (“usem Signal”, em tradução livre), uma sugestão para que seus seguidores parassem de utilizar o WhatsApp e migrassem para o aplicativo de mensagens Signal. As ações da Signal – que não são negociadas no Brasil – passaram de US$ 0,60 para US$ 70,85 em apenas quatro dias.
Outro caso que parou o mercado de capitais foi o da GameStop (que também não é negociada na Bolsa brasileira). Após o fechamento do mercado, em 26 de janeiro, Musk publicou também no Twitter o link do fórum do Reddit onde pequenos investidores se articulavam para impulsionar ações da companhia. Os papéis saíram de US$ 76,79 no dia anterior ao tuíte, para US$ 347,51 dois dias depois.
Até o momento, os únicos ativos que investidores brasileiros podem negociar no Brasil e caíram nas mãos do CEO foram as criptomoedas e a ação da própria Tesla. Quando Musk adicionou em sua bio do Twitter a palavra “Bitcoin” em 29 de janeiro, a cripto subiu 15% em 15 minutos e, apenas nove dias depois, a Tesla anunciou a compra de US$ 1,5 bilhão em bitcoins, levando a um novo aumento na cotação de aproximadamente 20%. Hoje (26), a criptomoeda é negociada no exterior cotada a US$ 52 mil e, no Brasil, a R$ 299 mil .
Em 4 de fevereiro, foi a vez do Dogecoin, outra criptomoeda, que apesar do CEO ainda não ter confirmado a compra da cripto, valorizou quase 50% após vários memes feitos por Musk, já que o símbolo da moeda é um cachorro.
ur welcome pic.twitter.com/e2KF57KLxb
— Elon Musk (@elonmusk) February 4, 2021
Como uma tendência global, o mercado brasileiro não passa ileso ao peso dos influenciadores. De acordo com levantamento da B3, 73% dos investidores costumam se informar sobre investimentos pela internet, 60% pelo YouTube e por influenciadores e 32% afirmam que estão dispostos a investir com base nas informações fornecidas pelos influencers.
Felipe Miranda, estrategista-chefe da Empiricus, destaca que os maiores riscos de seguir influenciadores nas decisões de investimento é cair em um ‘mapa errado’ e acabar perdendo dinheiro, “o influenciador não tem a menor ideia de onde está indo e pode fazer com que o influenciado perca dinheiro”, explica.
Miranda também acredita ser fundamental diferenciar influenciadores digitais com certificações de mercado de profissionais que utilizam apenas técnicas de comunicação em rede. “Os influenciadores são profissionais da fala e passam sugestões e dicas como se fossem autoridades no assunto, mas não são”. Para os influencers, também existem riscos, já que estão submetidos às regras do mercado de capitais.
Em 11 de novembro de 2020, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) publicou um ofício aos investidores informando que os influenciadores que podem analisar o mercado e fazer recomendações são apenas os que possuem credenciamento ou certificado CNPI, os demais dão opiniões sem bases técnicas.
No entanto, a CVM não regula o mercado de criptomoedas e, consequentemente, os movimentos que ocorrem no exterior, como o disparo no preço dos ativos após os tuítes de Musk. Procurados pela Forbes, a SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos), órgão responsável por regulamentar o mercado de capitais norte-americano, não quis comentar o assunto.
Em 25 de fevereiro, o CEO da Tesla publicou em seu Twitter que seria maravilhoso se a SEC investigasse seus tuítes sobre a criptomoeda Dogecoin, “I hope they do! It would be awesome” (“Eu espero que eles façam isso, seria incrível”, em tradução livre).
I hope they do! It would be awesome 🤣🤣
— Elon Musk (@elonmusk) February 25, 2021
Outros influenciadores
O estrategista da Empiricus acredita que o poder dos influenciadores no mercado de capitais é algo que tem origem em outros setores: “hoje, um comentário da Kim Kardashian vale mais que uma notícia no The New York Times, e isso também pode acontecer no mercado financeiro.”
Ao mesmo tempo, ele destaca que no Brasil ainda não temos alguém com o poder e tamanho de Elon Musk, “provavelmente os nossos maiores influenciadores são a Nathalia Arcuri e o Thiago Nigro, mais conhecido como Primo Rico”. Nathalia possui 5,1 milhões de seguidores no YouTube e Nigro tem 4,5 milhões até a publicação desta matéria.
Em reportagem recentes, o The Wall Street Journal apontou outro influenciador no universo das criptomoedas: o rapper norte-americano Snoop Dogg, com 19 milhões de seguidores até a publicação desta matéria e creditado por fazer o preço do dogecoin disparar depois de tuitar em 6 de fevereiro uma versão alterada da capa de um dos seus álbuns. Após a publicação, a moeda disparou mais de 100%.
@elonmusk pic.twitter.com/KElwKghpei
— Snoop Dogg (@SnoopDogg) February 6, 2021
Segundo análise do jornal, “os seguidores muitas vezes afirmam não se importar com a profundidade da análise por trás de uma negociação. Se o ícone deles estiver comprando algo, eles também apostarão nisso”.
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