“Meu pai era casado, tinha três filhos e a minha mãe. Ele era um empresário, tinha uma boa renda, entretanto ele pagava INSS sobre dois salários mínimos, teve um acidente e faleceu. Olha a dificuldade que a gente passou.” Essa é a história do professor em finanças pessoais na (UFSC) Universidade Federal de Santa Catarina, Jurandir Sell Macedo. Doutor em finanças comportamentais, ele defende a importância do planejamento para o período da aposentadoria: “se ele [seu pai] estivesse pagando por aquilo que ganhava, nós receberíamos 20 salários e estaríamos em uma situação muito tranquila”, avalia.
Essa é uma realidade comum em muitas famílias brasileiras, em que os planos para a tão sonhada aposentadoria não são acompanhados do planejamento necessário para sua execução com tranquilidade. No Brasil, a previdência pública foi historicamente financiada em regime de caixa, isso significa que quem está aposentado hoje é sustentado por quem está trabalhando, e quem se aposentar no futuro será sustentado por quem trabalhar no futuro. Contudo, o modelo tem se deteriorado nos últimos anos devido a uma questão demográfica: o aumento relativamente maior de pessoas aposentadas em relação às que trabalham.
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Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a distribuição da população do país mostra tendência de queda na proporção de pessoas abaixo de 30 anos: de 47,7% em 2012, para 42,3% em 2019. Enquanto isso, a população brasileira acima de 30 anos foi na contramão, para 57,7% em 2019, ante 52,4% em 2012.
O cenário leva muitas pessoas a explorar novas formas de garantir uma renda para a aposentadoria e o investimento privado torna-se uma alternativa para esse objetivo. Ainda assim, as possibilidades são muitas e é importante entendê-las para elaborar um planejamento próprio de renda na terceira idade, sem ignorar ainda o papel da previdência pública nesse processo.
Previdência Pública ou Privada
O INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), como dito anteriormente, projeta um cenário desafiador em relação à fonte de recursos, já que o número de pessoas contribuindo para ele diminui a cada ano. Apesar disso, Macedo recomenda que a previdência pública não deve ser deixada de lado, especialmente para os autônomos. Isso porque a proteção social oferecida vai além da aposentadoria e inclui benefícios que podem ser usados em outros momentos da vida adulta. “Imagine um jovem que ganha entre R$ 5 e R$ 6 mil sem ter carteira assinada e paga o INSS sobre um salário mínimo. Se esse jovem sofre um acidente que o incapacita para o trabalho e tem ao menos um dependente da renda dele, seja pai, mãe ou filho, o que acontece com esse dependente é receber apenas um salário mínimo”, explica.
A solução para quem deseja ter não apenas um presente tranquilo, mas garantir uma aposentadoria mais sólida para o futuro “é fazer uma aposentadoria complementar, o que chamamos de aposentadoria privada ou plano de previdência”, explica o professor.
Diversificação e disciplina
Na hora de investir para a aposentadoria, vale a regra utilizada nos investimentos em geral: diversificar. “É importante não ter 100% em único produto”, explica Mauro Calil, fundador da Academia do Dinheiro.
A frequência e disciplina também são fatores que precisam ser cultivados para a construção de um patrimônio. “Deve-se poupar no mínimo 10% da sua renda, da sua receita líquida. O ideal é poupar 30% e viver com 70%“, explica Calil. Esse valor, segundo o especialista, pode variar ainda conforme o nível de renda que se deseja alcançar na aposentadoria. “Com 30% [da renda investidos mensalmente] você alcança um nível de aposentadoria maior do que o seu padrão atual”, afirma.
Macedo explica também que quanto maior o salário atual, maior deverá ser a complementação ao valor já pago ao INSS para garantir o mesmo padrão de vida na aposentadoria. “Se você recebe dois salários mínimos, pagar o INSS é suficiente. Entretanto, quanto mais você aumenta a sua renda, menor vai ser a contribuição da previdência pública [em relação ao seu padrão de vida], portanto maior terá que ser o valor que você poupa”.
O especialista recomenda que os recursos da aposentadoria sejam divididos em, pelo menos, duas classes de ativos: “uma parte em ações, outra em títulos públicos e é ideal uma terceira parte em imóveis”, recomenda Macedo. Para quem não é familiarizado com o mercado, o professor de finanças pessoais sugere os fundos de previdência privada, mas alerta: “é preciso analisar bem e optar por um fundo que tenha uma boa estabilidade”.
Nos fundos de previdência, vale atenção ao plano de previdência a ser contratado. Segundo informações disponibilizadas pela Susep (Superintendência de Seguros Privados), a principal diferença entre os planos PGBL e VGBL consiste no tratamento tributário. Para ambos, o imposto de renda é cobrado apenas no momento do resgate dos recursos ou no recebimento da renda, mas a escolha entre um e outro irá variar para quem preenche o formulário de imposto de renda no modelo de declaração completa ou simplificado.
“Uma vez escolhido o plano e o regime tributário, você não consegue mais desfazer isso, mesmo com portabilidade”, alerta Calil.
Prazos
Uma preocupação constante quando se fala de investimentos é o tempo. Mauro Calil explica que não existe uma idade mínima para começar a investir em um plano de previdência, “mas quanto mais cedo, melhor para começar”.
Macedo concorda, reforçando ser importante investir desde cedo para construir uma aposentadoria aos poucos: “até os vinte e cinco anos é muito melhor você investir na sua formação. É hora da gente ficar caro, não ficar rico, mas aos 25 anos, se você começar a guardar 10% ao mês, você vai ter uma vida com bastante tranquilidade, mas é 10% para aposentadoria, não é 10% para viajar no final do ano.” Quem vai começar a poupar para a aposentadoria depois dos cinquenta anos tem um desafio a mais. “A situação começa a ficar extremamente complicada, porque mesmo que a pessoa poupe 50% da sua renda, ainda haverá dificuldades para atingir um valor ideal”. No entanto, cuidar da aposentadoria mais tarde não deve ser motivo para desânimo “é melhor você ter um complemento do que nada”, recomenda.
O professor narra uma percepção pessoal que adquiriu ao longo dos seus mais de 30 anos de experiência. “O brasileiro, de uma forma geral, tem dois comportamentos frente à aposentadoria: até os 40 ele diz ser muito cedo. Quando ele chega aos 40 e vê que precisa poupar quase 30% da renda para garantir uma boa aposentadoria, pensa que é muito tarde, então esse é o problema.”
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