A Aeris, empresa especializada na produção de pás de aerogeradores, se prepara para aproveitar o momento político nos Estados Unidos e conquistar o mercado americano de geração de energia eólica.
A decisão foi tomada após o presidente dos EUA, Joe Biden, anunciar planos para expandir a produção de energia eólica para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Seu plano é implantar, até 2030, 30 gigawatts em offshore (quando os equipamentos são instalados no mar), o que seria suficiente para abastecer cerca de 10 milhões de residências e eliminar 78 milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano.
A empresa já está presente, de forma indireta, no mercado americano, explica Lolli, diretor de RI (relações com investidores) da Aeris. Clientes como Siemens Gamesa, Weg, Nordex Acciona e Vestas levaram as pás para suas operações no exterior, que também incluem países como Alemanha, Índia, Chile e Portugal.
“Somos jovens… começamos as operações em 2010, mas já abocanhamos 90% do marketshare brasileiro de pás eólicas”, diz ele.
Quando o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) obrigou, em dezembro de 2012, a fabricação das pás eólicas com matérias-primas brasileiras, a empresa viu uma oportunidade. A medida levou as distribuidoras a optar por oferecer apenas o aerogerador completo e comprar suas peças de outros fabricantes, como a Aeris.
“Nosso crescimento nos últimos 11 anos é fruto da escolha de atuar em um segmento que quase nenhuma empresa quis”, diz Lolli.
Em 2020, a companhia entregou 3 GW (gigawatts) de energia, o equivalente a um quinto da produção anual da Usina Binacional de Itaipu. A meta, segundo Lolli, é aumentar a produção até 2022 e entregar 7 GW, “metade do que Itaipu gera anualmente”.
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A empresa também aposta no crescimento da energia eólica frente às hidrelétricas.
De acordo com a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), no mês de maio foram liberados 259,52 MW em geração de energia para a operação comercial e, pelo quinto mês seguido, as usinas eólicas foram “o tipo de geração com maior entrada operacional no período, equivalente a 90% no último mês”.
Lolli afirma que “a nossa vantagem frente às hidrelétricas é que temos maior previsibilidade do que vai acontecer com o preço da energia e com a nossa produção, em comparação com as usinas que precisam de água e em tempos de seca colocam a bandeira vermelha”. A tarifa, que hoje está na bandeira vermelha, gera um acréscimo de R$ 6,243 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos.
De olho nos planos de crescimento, a empresa decidiu abrir seu capital. Em novembro, a Aeris (AERI3) movimentou R$ 1,3 bilhão em uma oferta que precificou as ações em R$ 5,5. Ontem (22), o ativo fechou o pregão cotado a R$ 10,35.
Os recursos captados no mercado também serão destinados ao desenvolvimento de novas pás com maior capacidade de geração de energia. Até o momento, a companhia entrega 3 MW (megwatts) por produto, o suficiente para atender 5,4 mil residências ou cerca de 15 mil pessoas. Mas os novos equipamentos, de 5 MW, poderão abastecer 9 mil residências e 25 mil pessoas.
“Os nossos clientes estão produzindo aerogeradores com mais qualidade e potência, então, em paralelo, tínhamos que fornecer pás mais tecnológicas”, explica o diretor de RI.
Em uma live, o ex-CEO da Aeris, Alexandre Negrão, afirmou que a empresa investiu em uma reforma na sua infraestrutura para produzir pás de mais de 100 metros, na construção de um novo centro de distribuição de 35 mil m² e em uma expansão fabril de 51 mil m².
Em 2020, a Aeris entregou 2,7 mil pás, o que resultou em um lucro líquido anual de R$ 113,2 milhões, um aumento de 27,6% ante 2019 (R$ 88 milhões).
Já no balanço financeiro deste ano, o lucro líquido nos três primeiros meses de 2021 foi de R$ 23 milhões, um aumento de 38,8% em relação aos R$ 16 milhões do mesmo período do ano passado, e o Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) foi de R$ 64 milhões, 66% acima do mesmo período de 2020 (R$ 37 milhões).
Agenda ESG é o foco
Os planos de expansão não deixam de lado a preocupação da companhia com ESG (Ambiental, Social e de Governança).
Segundo Lolli, os resíduos da produção têm três destinos. O primeiro é as cimenteiras, como a Mizu, em Braúna (RN), que gera uma receita mensal média de R$ 55 mil a Aeris. “O nosso lixo tem bastante poder calorífico e os fornos deles possuem filtros suficientemente fortes para não emitir gases poluentes”, diz o diretor.
O segundo é a reciclagem. Por fim, a empresa gasta cerca de R$ 40 mil por mês para depositar o restante dos resíduos em aterros sanitários. Lolli explica que, entre a receita vinda das cimenteiras e os gastos com os aterros, a empresa recebe cerca de R$ 15 mil por mês. Apesar de ser um valor baixo para a Aeris, esse resultado serve como indicador para o gerenciamento da destinação dos resíduos. “Se percebemos que a receita caiu, quer dizer que praticamos algo errado em um determinado mês, como distribuir o lixo de forma incorreta, e precisamos mudar.”
O diretor de RI afirma que, em relação ao tema governança, a empresa possui um programa interno para premiar ideias e sugestões de melhoria –os beneficiados ganham vale-alimentação em dobro. Em média, são aprovados mil projetos por mês.
“Normalmente focamos propostas que visem a segurança, porque queremos garantir baixíssimos índices de perda de horas ou de risco ocupacional. Nada melhor que os funcionários para dizer o que eles precisam”, diz Lolli.
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