O atual momento de crise hídrica no Brasil tem impulsionado as cotações no mercado livre de energia elétrica, que chegam a apresentar salto de 40% no acumulado deste ano, pressionando custos de grandes consumidores como indústrias que negociam diretamente com empresas do setor.
Em meio a uma seca história na região das hidrelétricas, principal fonte de geração do país, os contratos de energia para o segundo semestre e para 2022 dispararam, e há expectativa também de salto nos preços spot, utilizados nas operações de curto prazo, que devem tocar o teto regulatório nos próximos meses, disseram executivos do mercado elétrico à Reuters.
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Esse cenário tem potencial de resultar em forte aumento de custos para grandes companhias e indústrias que não fecharam antecipadamente contratos para atender toda sua demanda por energia, acrescentaram os especialistas.
No balcão eletrônico de venda de energia BBCE, negócios para suprimento por todo ano de 2022 são fechados hoje a uma média de R$ 350 por MWh (megawatt-hora), bem acima dos R$ 250 do início do ano, disse à Reuters um dos membros do conselheiro da empresa, Victor Kodja.
“O mercado está estressado, estressado para cima, evidentemente, e com viés de alta ainda forte. Essa é a impressão que tenho”, afirmou ele.
“Se você for ver o preço médio do ano passado ficou entre R$ 180 e R$ 200. Então está bem distorcido”, acrescentou Kodja, que vê espaço para queda das cotações apenas mais à frente, caso haja melhora no cenário de chuvas.
No mercado spot, de curto prazo, no qual a energia é valorada pelo chamado PLD (Preço de Liquidação das Diferenças), calculado pela CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), também há expectativa de disparada nas cotações nas próximas semanas ou meses.
A comercializadora de eletricidade Tempo Energia avalia que os preços spot médios podem tocar o teto regulatório de R$ 583,88 por MWh já em julho ou no máximo em agosto, contra média diária de R$ 279,74 hoje (8).
“Nós temos uma projeção altista para os preços. Em julho poderia já bater o teto, possivelmente se mantendo até outubro esses valores”, disse o sócio da empresa, Henrique Nagayoshi.
MAIS PRESSÃO
Além de um cenário bastante negativo em termos de chuva na região dos reservatórios, os preços serão pressionados também pela entrada em manutenção em 15 de agosto da plataforma de Mexilhão e do gasoduto Rota 1, da estatal Petrobras, destacou o sócio da Exponencial Energia, Laudenir Pegorini.
A Petrobras disse na sexta-feira (4) que a manutenção planejada desses ativos reduzirá em aproximadamente três gigawatts a geração termelétrica a gás durante o período de parada, de uma capacidade total de cerca de 15 gigawatts em usinas da fonte.
“Se (o preço spot) não bater o teto em julho, bate em agosto. Em agosto é praticamente inevitável, por causa da manutenção de Mexilhão, a não ser que São Pedro venha com um dilúvio”, disse Pegorini.
A Reuters antecipou no início de maio a parada de Mexilhão prevista para agosto.
As cotações de curto prazo ainda têm alguma influência sobre os preços de contratos mais longos negociados no mercado livre.
Com a tendência de alta, contratos de fornecimento de energia no segundo semestre têm sido vendidos a cerca de R$ 475 por MWh, com forte disparada frente aos cerca de R$ 175 em meados de março, antes do agravamento da crise hídrica, disse o presidente da Esfera Energia, Braz Justi.
“Em 2021 temos aí uma pressão muito grande em todos os meses, e tem uma pressão grande nos preços de 2022.”
Os maiores custos, que também têm atingido consumidores residenciais de energia, ocorrem diante de uma seca histórica no Brasil –as chuvas na região das usinas hídricas entre setembro e maio foram as piores em 91 anos de registros.
O governo ainda emitiu alerta de emergência hídrica para o período de junho a setembro em cinco Estados e criou uma “sala de situação” para acompanhar a questão.
O quadro tem gerado alguma preocupação entre especialistas do setor, que começaram a fazer cálculos sobre riscos de racionamento, embora essa hipótese ainda seja afastada por ora.
A consultoria PSR disse em relatório na semana passada que “a situação de suprimento energético de 2021 é preocupante, mas ainda não alarmante”, projetando reservatórios no final de novembro com 21% da capacidade na região Sudeste, em cenário conservador, ou 10% em um cenário “de estresse”. (Com Reuters)
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