Falar sobre educação financeira é assunto ainda novo em muitos lares brasileiros, mas as opções para levar o tema de forma lúdica a crianças e adolescentes já existem há algum tempo – os jogos de tabuleiro que o digam – e têm se popularizado, permitindo que os jogadores, independente da idade, se deparem com questões como endividamento, investimentos e independência financeira de uma forma fluída e divertida. No fim das contas, tudo não parece passar de um desafio lúdico.
O Monopoly é um dos “clássicos” desse segmento. Criado em 1904, mas publicado na sua versão atual em 1935, o jogo lida com o mercado imobiliário e conceitos como propriedade, aluguel, salário e falência. No Brasil, os direitos do game foram repassados à Estrela, que adequou seu nome para Banco Imobiliário e se tornou o jogo mais vendido na história do país, de acordo com o diretor de marketing da empresa, Aires Fernandes.
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As situações apresentadas nos jogos podem ser fictícias, mas as lições retiradas delas podem ser aplicadas a questões na vida real. “O jogo é uma ferramenta que funciona para a criação de novos hábitos. Quando eu crio um jogo de educação financeira, eu quero proporcionar uma situação de impacto decisional e emocional no participante, e é justamente esse tipo de situação que propicia a criação de novos caminhos neurais, que estarão em atuação no dia a dia.”, diz Ana Pregardier, educadora financeira e criadora de 18 jogos nesse modelo.
Um dos games criados por Ana é o Parque do Tempo, um livro-jogo que lida com múltiplos universos que se abrem ao jogador dependendo das escolhas que ele faz ao ler a história. Tudo começa em um parque de diversões, quando os personagens do livro estão comemorando um aniversário e o jogador pode escolher onde prefere ir depois. Dependendo da escolha, o restante da história poderá ser completamente diferente.
“É uma das formas de criar impacto decisional e emocional”, diz Ana. Ao longo da história, temas como criptomoedas, câmbio, inflação e bolhas especulativas vão surgindo, incorporando a temática econômica ao processo de tomada de decisão.
O jogo de tabuleiro Renda Passiva é outro que promove a educação financeira. Vence quem conseguir conquistar uma renda passiva igual ou maior ao seu total de gastos, e quitar todas as suas dívidas. Para atingir esse objetivo, é possível investir em negócios, renda fixa, imóveis e ações, por exemplo.
Desenvolvido por Daniel Frechiani e concebido com base nos livros e na filosofia do educador financeiro Gustavo Cerbasi, o jogo é indicado para crianças a partir de 12 anos de idade e faz sucesso com o público. Leonardo Mathias, gerente de marketing da Pais & Filhos, que lançou o jogo, explica que “como o Renda Passiva já é apresentado como uma proposta educativa, os pais adquirem na expectativa de terem um material rico em informação, sem abrir mão da diversão. Já as crianças se divertem bastante com a possibilidade de ganhar e multiplicar seu dinheiro.”
A sua recepção foi tão boa que uma metodologia de educação financeira baseada no jogo foi desenvolvida para escolas, sendo aplicada para alunos do 6º ano do Ensino Fundamental até o 3º ano do Ensino Médio. O material abrange desde assuntos básicos, como carreira e orçamento, aos mais complexos, como investimentos e empreendedorismo. Até o final de 2021, a metodologia terá sido aplicada para mais de 30 mil alunos.
Para Fernandes, da Estrela, a vantagem de utilizar jogos como uma ferramenta de aprendizado advém de uma preferência inerente aos seres humanos: “Os jogos acompanham o desenvolvimento da humanidade. Os primeiros jogos descobertos datam de 3.000 a 4.000 a.C.. Eles fazem sucesso com questões genéticas do ser humano, como competitividade, socialização, estratégia e planejamento.”
A importância da educação financeira
A demanda por educação financeira já é uma realidade em escolas públicas e privadas no Brasil. No começo de junho, o Banco Central anunciou a expansão do seu programa Aprender Valor, que leva às escolas públicas a ideia de que mesmo pessoas de baixa renda podem poupar se tiverem o hábito e a disciplina necessários. E os jogos são um instrumento auxiliar nesse movimento.
“O objetivo de criar jogos assim é para que as pessoas possam ter uma vida mais feliz e tranquila. E como as pessoas têm uma vida mais tranquila? Quando elas podem fazer escolhas financeiras mais coerentes, conscientes e sustentáveis”, argumenta Ana. Para a educadora, não basta conhecer todos os conceitos e fórmulas do mercado financeiro. A educação financeira é viva, e é no dia a dia, através de cada escolha e comportamento, que ela se manifesta.
Segundo Fernandes, a pandemia também foi um momento que propiciou o ressurgimento dos jogos de tabuleiro: “Nos últimos dois anos, dentro da categoria de brinquedos, o segmento de jogos foi o que mais cresceu. E isso está muito ligado ao home office”, avalia o diretor da Estrela. A reaproximação das famílias também fez com que jogos tradicionais, como o Banco Imobiliário e o Jogo da Vida, fossem alguns dos mais escolhidos. “O crescimento no e-commerce nesse segmento ultrapassou os 3 dígitos desde o ano passado, foi um verdadeiro boom”.
A Forbes listou 11 jogos de educação financeira disponíveis no Brasil para crianças e adolescentes:
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Justin Sullivan/Getty Images 1. Clássicos
Banco Imobiliário, Monopoly e Jogo da Vida
Os três jogos simulam situações reais em que os participantes precisam lidar com seus ganhos e gastos, incluindo conceitos como aluguel, empréstimo, propriedade, salário, etc. Ao lidar com imprevistos da vida, os jogadores aprendem a lidar com cada situação de forma lúdica.
O Banco Imobiliário é a versão brasileira do Monopoly, e mesmo após ter passado por algumas modificações, ambos os jogos continuam sendo o mesmo em essência: eles lidam com a compra e venda de propriedades como casas, hotéis e empresas, e vence o jogador que não for à falência ou que tiver mais propriedades. Já no Jogo da Vida, o jogador trilha uma vida fictícia, com opções de carreira, casamento, compra de casa, e falência, determinados através do girar da roleta, e vence quem tiver a vida mais bem-sucedida. -
Ana Pregadier/Divulgação 2. Parque do tempo
Recomendação: infantojuvenil
Um livro-jogo no qual os participantes estão dentro de um parque de diversões, ali eles comemoram o aniversário dos personagens do jogo. No final dessa primeira introdução, o livro pergunta o que o participante quer fazer, se vai para a bilheteria, para a loja de souvenirs, ou para a lanchonete. Nessa primeira escolha, o leitor vai para outra parte do livro, e aí começa a mudar a história de acordo com as decisões tomadas.
A escritora do livro, Ana Pregardier, conta que nesse ambiente, o leitor-jogador vai interagindo com o Parque do Tempo e tomando decisões. “Tem desafios e, dependendo do que você fizer, podem acontecer várias coisas, dentre elas viajar no tempo parar na Holanda durante a crise das tulipas, e para conseguir continuar o jogo, é preciso resolver um desafio falando sobre criptomoedas. Se escolher outra opção, pode ser que o leitor nunca veja esse caminho que vai parar na Holanda, mas descobre que foi parar na Florença de 1329, e tem que resolver um desafio sobre câmbio com a família Médici”, conta a autora.
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Nig Brinquedos/Divulgação 3. Dia de Mesada, Turma da Mônica
Recomendação: entre 5 a 12 anos
O jogo proporciona conhecimentos e ideias para a criança aprender a como lidar com sua mesada. Entre os ensinamentos estão técnicas para ganhar, gastar, trocar e poupar dinheiro para a compra das peças do tabuleiro. A proposta é que a partir do jogo, a criança possa aprender a administrar sua mesada.
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Reprodução/YouTube 4. Pique-nique
Recomendação: a partir de 6 anos
No jogo, os participantes devem cumprir alguns desafios, comprando produtos pré-selecionados. O objetivo é guardar mais dinheiro que os adversários, mas comprar tudo o que for necessário, com o intuito de ensinar como economizar nas finanças pessoais. Por isso, o ganhador da brincadeira é quem chega ao fim do jogo com a cesta cheia e saldo em conta.
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Reprodução/YouTube 5. Bons Negócios
Recomendação: ente 10 e 14 anos
O Bons Negócios é um jogo de cartas no qual os participantes são incentivados a negociar uma compra, com o intuito de descobrir quem consegue adquirir o produto pelo melhor preço. Na segunda etapa, os papéis se invertem e os jovens precisam vender o produto em questão. Todo o processo é elaborado através de desafios, que privilegiam a capacidade de negociação e geram gastos ou ganhos. Quem termina o jogo com mais dinheiro é o ganhador.
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Pais & Filhos/Divulgação 6. Administrando o Seu Dinheiro
Recomendação a partir de 8 anos
Um jogo de tabuleiro em que as crianças percorrem casas e precisam lidar com tarefas do dia a dia que podem aumentar ou diminuir o seu patrimônio. O intuito é administrar seu dinheiro ao longo das rodadas, para que ele não acabe até o fim da partida. Dentre as atividades do jogo, estão o pagamento de contas, a compra e venda de produtos, o recebimento de salários, pedidos de empréstimos e etc.
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100% Cristão/Divulgação 7. Vamos Prosperar com a Turma da Keka
Recomendação: a partir dos 8 anos
O jogo simula situações da vida real, mostrando as diferentes possibilidades de utilização do seu dinheiro. Nele, as crianças precisam encontrar um equilíbrio entre as boas ações e o consumo responsável. Segundo a editora do jogo, ao participar, fica muito mais fácil perceber as consequências de suas escolhas.
De uma forma lúdica, as crianças percebem que nem sempre comprar, comprar e comprar é a melhor saída. Vence aquele que tiver a melhor combinação entre os resultados de suas boas ações e o dinheiro acumulado.
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Pais & Filhos/Divulgação 8. O Pequeno Empresário
Recomendação: a partir de 6 anos.
Trata-se de um jogo elaborado para pequenos empreendedores. No início da partida, o dinheiro é igualmente dividido entre todos os participantes, e cada participante deve escolher uma cor que irá usar. Os jogadores deverão cair sempre nas casas de sua própria cor; caso contrário, terão de girar a roleta para saber quanto irão pagar de aluguel ao dono da propriedade. Quando um peão atingir a chegada, cada jogador pagará a este que chegou o valor de 1000 e o peão será retirado. Quando o jogador concluir o circuito com seu primeiro peão, ele deve deixá-lo no centro do tabuleiro e iniciar com o segundo peão e assim sucessivamente. O jogo só termina quando todos os peões saírem, e vence aquele que terminar o jogo com mais dinheiro.
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Reprodução/YouTube 9. Cashflow
Recomendação: para mais de 10 anos
O jogo desafia os participantes a administrar recursos financeiros, que são pagos a cada rodada através de um salário em meio a simulação de situações da vida real. O tabuleiro é dividido entre a pista de rico (pista rápida) e pista de rato (pessoas comuns), e o objetivo final é que cada participante construa uma renda passiva, proveniente de seus investimentos. O jogo possui uma versão adulta e infantil, além de estar disponível no modelo digital e em tabuleiro físico.
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Estrela/Divulgação 10. Jogo da Mesada
Recomendação: a partir de 6 anos
Um jogo de tabuleiro que conta com uma série de situações em que os participantes precisam ganhar ou gastar dinheiro, ajudando a trabalhar o controle de gastos e metas. Um dos participantes é responsável por anotar o controle das dívidas, e o jogo inclui conceitos como juros e investimentos. Cada jogador recebe uma mesada, e tem como objetivo terminar as rodadas com mais dinheiro.
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Pais & Filhos/Divulgação 11. Renda Passiva
Recomendação: a partir de 12 anos
O jogo de tabuleiro busca simular as decisões da vida adulta para boas escolhas financeiras sem depender da sorte dos dados ou das cartas. Vence quem alcançar a independência financeira ao adotar as melhores estratégias para administrar dívidas e investir em negócios, renda fixa, imóveis e ações.
O objetivo é criar um ambiente que simula bem vários elementos da vida financeira, dando a oportunidade para que os jogadores possam tomar decisões importantes sobre dinheiro e aprender com os erros e os feedbacks que o próprio jogo oferece.
1. Clássicos
Banco Imobiliário, Monopoly e Jogo da Vida
Os três jogos simulam situações reais em que os participantes precisam lidar com seus ganhos e gastos, incluindo conceitos como aluguel, empréstimo, propriedade, salário, etc. Ao lidar com imprevistos da vida, os jogadores aprendem a lidar com cada situação de forma lúdica.
O Banco Imobiliário é a versão brasileira do Monopoly, e mesmo após ter passado por algumas modificações, ambos os jogos continuam sendo o mesmo em essência: eles lidam com a compra e venda de propriedades como casas, hotéis e empresas, e vence o jogador que não for à falência ou que tiver mais propriedades. Já no Jogo da Vida, o jogador trilha uma vida fictícia, com opções de carreira, casamento, compra de casa, e falência, determinados através do girar da roleta, e vence quem tiver a vida mais bem-sucedida.
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