O fundador da Amazon, Jeff Bezos, tinha acabado de ir ao espaço – o que não é uma façanha ruim para uma terça-feira como todas as outras – mas não havia terminado os feitos impressionantes do dia. Vestido com o macacão azul de sua empresa de viagens espaciais Blue Origin e seu chapéu de cowboy marrom, Bezos – a pessoa mais rica do mundo, com fortuna estimada em US$ 200 bilhões – se inclinou para falar ao microfone em uma coletiva de imprensa: “Tenho uma pequena surpresa para vocês”, disse, cercado por sua tripulação. “Estou anunciando uma nova iniciativa filantrópica.”
A iniciativa atende pelo nome de Courage & Civility Award, e reconhecerá os líderes que almejam alto e buscam soluções com coragem.” Na sequência, ele soltou a bomba: o prêmio consistia em duas doações de US$ 100 milhões, uma para o analista da CNN e ativista Van Jones, e uma para o famoso chef José Andrés.
Bezos disse que Jones e Andrés poderiam usar os valores da maneira que quiserem – investindo em suas próprias instituições de caridade ou compartilhando com outras entidades. “Sem burocracia”, afirmou. As doações vieram logo depois que Bezos fez um compromisso de US$ 200 milhões em 14 de julho para o museu Smithsonian Washington DC e, no ano passado, uma promessa de US$ 10 bilhões para combater a mudança climática por meio de seu fundo Bezos Earth Fund, entre outras iniciativas.
Uma fonte próxima a Jones disse à Forbes que ele “recebeu autonomia absoluta em todas as tomadas de decisão” sobre a distribuição dos fundos e acrescentou que “o presente foi uma surpresa para o ativista, então, embora ele esteja entusiasmado, ele planeja ser estratégico e metódico ao examinar uma série de organizações para garantir elas farão o melhor uso dos recursos para ajudar os outros.”
As conhecidas doações de Bezos, que somam mais de US$ 13 bilhões, o colocam entre os maiores doadores de todos os tempos. Exceto que quase US$ 1,5 bilhão desse montante são promessas – o que significa que ele ainda não deu o dinheiro. Enquanto isso, outro grande acionista da Amazon está dando uma porcentagem maior de sua fortuna, e fazendo isso muito mais rápido: MacKenzie Scott, ex-mulher de Bezos. Ela é a terceira mulher mais rica do mundo, com fortuna de US$ 61 bilhões.
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Scott se casou com Bezos em 1994, no mesmo ano em que ele fundou a Amazon em sua garagem em Bellevue, no estado de Washington. Quando o casal se separou em 2019, Scott ficou com um quarto das ações de Bezos na Amazon, uma participação de 4% no avaliada em US$ 34 bilhões à época. Ela rapidamente arregaçou as mangas.
Em julho de 2020, Scott anunciou sua primeira rodada de doações: um total de US$ 1,6 bilhão foi concedido a 116 organizações, incluindo a Howard University, uma universidade historicamente negra, e a Jackie Robinson Foundation, que apoia a igualdade na educação. As doações vieram sem amarras – algo incomum em grandes ações de filantropia, onde os dólares tendem a ser reservados por seus doadores para determinados programas ou usos. Outra rodada de doações, totalizando US$ 4,1 bilhões para 384 entidades, veio em dezembro, seguida por uma terceira rodada de US$ 2,7 bilhões para 286 entidades em junho de 2021. Ao todo, cerca de 780 organizações filantrópicas receberam fundos de Scott até agora e foram imediatamente capazes de colocar esses valores em uso, de acordo com os líderes que conversaram com a Forbes.
As maiores doações de Bezos, por outro lado, costumam ser distribuídas por um longo período de tempo, fazendo com que a oferta “sem burocracia” de terça-feira seja uma exceção. Observe, por exemplo, a recente doação de US$ 200 milhões para o Smithsonian: é uma promessa, o que significa que o museu receberá o dinheiro em parcelas. Um representante do museu recusou-se a divulgar o cronograma de pagamento.
O Fundo Bezos Earth também é uma promessa. Apesar de um compromisso surpreendente de US$ 10 bilhões, Bezos doou publicamente apenas US$ 791 milhões até o momento, com um plano de entregar todo o montante até 2030. Sua primeira iniciativa filantrópica multibilionária veio em 2018 com o Bezos Day One Fund, que visa estabelecer uma rede de pré-escolas sem fins lucrativos e organizações de assistência social que trabalham com pessoas sem-teto. Bezos doou pouco mais de US$ 300 milhões dos US$ 2 bilhões que prometeu à iniciativa. O Bezos Day One Fund se parece em muitos aspectos com as doações de Scott, com fundos indo para organizações sem fins lucrativos em todos os Estados Unidos.
No total, as promessas de Bezos de US$ 12 bilhões equivalem a 6% de sua atual fortuna de US$ 200 bilhões. No entanto, com U $ 1,5 bilhão em doações externas conhecidas, até agora Bezos doou menos de um por cento de seu patrimônio líquido atual. Scott, por sua vez, já doou 14% de seu patrimônio líquido atual (que é de US$ 60 bilhões, graças ao preço exorbitante das ações da Amazon) – em apenas um ano, ela abriu mão de 10% de sua fortuna.
No auge da agitação nacional por causa do assassinato de George Floyd, Scott direcionou a maior parte de suas doações a grupos com foco na igualdade racial e mobilidade econômica, como o Advancement Project, o Black Girls Code e o Center for Policing Equity. Ela também se comprometeu a continuar doando sua riqueza “até que o cofre se esvazie”. Nas três rodadas de doações que Scott fez até o momento, ela divulgou uma lista completa dos grupos que receberam fundos, mas não revelou quanto foi dado a cada um – os grupos são livres para divulgar os valores, se desejarem.
Os objetivos filantrópicos de Bezos são certamente mais vagos. Seu Earth Fund tem como missão simplesmente fornecer recursos a “cientistas, ONGs, ativistas e ao setor privado para ajudar a impulsionar novas tecnologias, investimentos, mudanças de políticas públicas e comportamento”. Mas ele deu um pouco mais de detalhes do que Scott quando se trata de valores específicos: 16 organizações receberam parte dos quase US$ 800 milhões doados até agora, com a maior quantia, US$ 100 milhões, indo para a ONG World Wildlife Fund. Bezos disse ao jornalista Charlie Rose em 2016 que tentaria se igualar à prolífica filantropia do colega bilionário Bill Gates “se sobrar alguma coisa depois que eu terminar de construir a Blue Origin”.
Os dois também divergem quanto às organizações que escolheram apoiar. Bezos tem priorizado até agora nomes importantes (o Smithsonian, Instituto de Neurociência da Universidade de Princeton), enquanto Scott faz questão de selecionar grupos comunitários de base e hiperlocais. Scott escreveu em seu blog em junho que ela está “tentando dar uma fortuna que foi viabilizada por sistemas que precisam de mudança” e “seria melhor se a riqueza desproporcional não estivesse concentrada em um pequeno grupo de pessoas”.
A World Central Kitchen, organização sem fins lucrativos de Andrés, não respondeu às perguntas; nenhum dos grupos revelou se o valor foi doado em uma única parcela ou se será entregue ao longo de vários anos.
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