As cadeias de suprimentos globais estão no centro dos desafios de negócios com a reabertura das economias. Os efeitos da escassez de matérias-primas e produtos, bem como as dificuldades de contratação de pessoas, têm colaborado para impulsionar o aumento da inflação. Apoiar organizações a gerenciar melhor essas cadeias, portanto, é tarefa que têm um efeito dominó no dia a dia de empresas e consumidores ao redor do mundo.
Otimizar cadeias de suprimentos é uma tarefa que a Neogrid abraçou há mais de 20 anos com um modelo de negócios conhecido como SaaS (Software as a Service), em que os softwares são baseados em nuvem e sua utilização oferecida mediante o pagamento regular, como uma assinatura ou conforme o uso da tecnologia.
Na pandemia, a demanda pelos serviços da companhia fundada em Joinville (SC) cresceu em ritmo acelerado. Como resultado, o lucro líquido da empresa aumentou 42,8% em 2020, para R$ 12,3 milhões. Foi na pandemia também que o mexicano Eduardo Ragasol viveu seu primeiro ano como CEO da empresa. Aos 54 anos, ele assumiu o posto no Brasil um mês antes do primeiro caso de coronavírus ser detectado no país. “O cenário em que assumi foi o maior desafio da minha vida”, relembra.
Entre as missões que levaram o executivo ao cargo está a expansão das operações na América Latina, o que ele considera “quase obrigatória para uma empresa brasileira”. De acordo com pesquisa do IDC na América Latina, as soluções SaaS devem crescer 19,9% em 2021. Já um relatório da Sherlock Communications aponta crescimento de pelo menos 25% no mercado latino-americano até 2022.
Na região, a companhia atua apenas no Brasil e no Chile, embora tenha presença em 140 países. Entre os sete mil clientes em portfólio estão marcas como P&G, Vigor, Kraft Heinz, Pernambucanas, Sony, Fini, Adidas e C&C.
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Blockchain as a Service
Para crescer, a empresa tem as suas próprias demandas e estratégias em tecnologia, e uma delas é o investimento em blockchain. “O blockchain pode transformar a cadeia de suprimentos, reduzindo o volume de transações feitas entre clientes, distribuidores e varejistas, deixando-as mais claras e garantindo maior segurança”, avalia o CEO.
A Neogrid ainda não definiu qual será o sistema blockchain utilizado para atingir seus objetivos. Empresas como BMW, Coinbase e Google, por exemplo, utilizam o blockchain do ethereum, já a Amazon e a chinesa Ant Financial usam o blockchain Hyperledger Fabric, da IBM.
Nos últimos cinco anos, a companhia destinou R$ 112,3 milhões na criação de novas tecnologias.
Três grandes avenidas
São três os pilares de trabalho da Neogrid e o primeiro é a conectividade. A inteligência da companhia conecta os fabricantes com varejistas e distribuidores, com o objetivo de otimizar os estoques e deixar as operações entre as partes mais eficientes.
Já a segunda solução busca aproveitar as informações de estoque e venda para evitar excesso de produtos, sincronizando o consumo a quantidade de volume disponível. “Uma das coisas mais importantes para um varejista é ter os produtos certos na hora certa”, explica o CEO.
Por fim, a terceira via é chamada de DDR (Demand Driven Replenishment), tecnologia baseada em algoritmos que utiliza informações diárias dos clientes para indicar a quantidade ideal dos produtos em estoque – e para onde os bens devem ser enviados. “A Neogrid ajuda os clientes a liberar fluxo de caixa”, explica Ragasol. “Excesso de estoque é capital parado. A velocidade do giro de estoque é a vida de uma loja.”
A Salsa, companhia portuguesa de vestuário, é uma das clientes Neogrid da pandemia. A marca possui mais de 200 pontos de venda na Europa, mas seus estoques estavam desnivelados e as planilhas utilizadas tomavam muito tempo da equipe. Segundo a empresa, com o uso de ferramentas de inteligência artificial, a demanda real pelos produtos passou a ser calculada e ajustada mensalmente, considerando a previsão de estoque conforme as vendas nas lojas.
“Muitas vezes, não tínhamos a agilidade necessária na tomada de decisão. Agora, a inteligência artificial analisa os dados com agilidade e nos aponta quantos produtos temos de enviar às lojas e para quais pontos específicos”, explica Ana Esteves, diretora de Supply Chain da Salsa.
Thiago Grechi, CFO da Neogrid, avalia que via inteligência artificial, empresas podem otimizar não apenas seus estoques e ter uma alocação de capital mais assertiva, como também disponibilizar produtos que atendam melhor às demandas de seus clientes.
“Um dos graves problemas da nossa sociedade hoje é o excesso. A quantidade de comida que é jogada fora, o crescimento de plástico desperdiçado. Tudo isso polui o ambiente. Essa é uma das grandes doenças da nossa sociedade”, avalia Ragasol.
M&As e o futuro
O IPO da Neogrid em dezembro de 2020 movimentou R$ 486 milhões. Do montante, 20% tem como destino a área de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias, enquanto 80% do capital será destinado para fusões e aquisições.
Até o momento, a companhia realizou apenas a compra por R$ 17 milhões da startup brasileira Smarket, que trabalha com gestão de promoções para supermercados, farmácias e varejistas. Em 2020, a startup cresceu 33%, fechando o ano com 68 clientes e um faturamento de R$ 374 mil.
Marcela Graziano, CEO da Smarket, explica que “além da gestão das ofertas, mapeamos as lojas, identificamos e garantimos se os produtos nas pontas da gôndola são os melhores para os negócios dos nossos clientes.”
Já David Abuhab, CSO da Neogrid, acrescenta que “a Smarket atua em um processo muito relevante no mercado varejista: o promocional. Mais de 40% dos produtos disponíveis para venda no varejo alimentar, por exemplo, são itens em oferta. A soma das duas empresas vai potencializar as estratégias dos nossos clientes”.
Para o futuro, o CFO da Neogrid afirma que a companhia avalia mais de 100 empresas, sendo 80% brasileiras e 20% no exterior. “Boa parte do recurso que conquistamos na oferta será usado para M&As que faremos nos próximos meses”, diz Grechi.
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