Em uma mansão nos Hamptons, o brasileiro Douglas Strabelli, 45 anos, apresenta com riqueza de detalhes cada peça do acabamento do imóvel construído por sua incorporadora e à venda por US$ 40 milhões. A casa é uma das poucas disponíveis na região, que assim como outras áreas dos Estados Unidos é afetada pela forte demanda do mercado imobiliário desde o último ano.
Dados de maio da National Association of Realtors (Associação Nacional de Corretores de Imóveis, em tradução livre) mostram que o estoque total de moradias nos EUA é 20,6% menor em relação ao ano anterior no país. “As vendas de casas caíram moderadamente em maio e agora estão se aproximando da atividade pré-pandêmica. A falta de opções continua a ser o principal fator que impede as vendas de casas”, explica Lawrence Yun, economista-chefe da entidade, em análise oficial sobre os dados.
Há 20 anos no mercado norte-americano, a empresa de Strabelli, a Sagewood Corporation, foi obviamente uma das beneficiadas pelo aquecimento do setor durante a pandemia. A meta de faturamento, que era chegar aos US$ 100 milhões anualmente até 2025, por exemplo, foi conquistada nos primeiros 12 meses, levando a empresa a mirar mais alto na estratégia para os próximos anos.
A companhia, que já soma cerca de 350 projetos em portfólio e emprega em torno de 1.200 pessoas no país, aposta na construção não apenas de imóveis, mas também de relacionamentos com clientes, investidores e arquitetos para crescer. Um dos frutos dessa estratégia é a construção do Fasano Fifth Avenue – obra de US$ 45 milhões – feita pela Sagewood a convite do empresário José Auriemo Neto, presidente do conselho da JHSF.
Na outra ponta dessa rede estão profissionais como Cristiana Mascarenhas, Dado Castello Branco e Arthur Casas, alguns dos arquitetos que, entre inúmeros projetos, tornaram-se parceiros fundamentais para a expansão da companhia de Strabelli nos últimos anos, um imigrante que chegou aos EUA no início dos anos 2000 sem falar inglês e com o pouco capital conquistado trabalhando na construção civil europeia.
“Esse não é o American Dream”
O termo American Dream (sonho americano, em tradução livre) foi concebido pela primeira vez na década de 1930 e, ao longo dos anos, adaptado para representar a ideia de um país que oferece oportunidades de mobilidade social para todos, inclusive para imigrantes, como Strabelli.
A primeira vivência fora do Brasil, no entanto, foi na Espanha, a melhor opção encontrada pelo jovem de 18 anos para deixar Maringá, no Paraná, e conquistar o desejo de viver no exterior. Sem falar espanhol e sem estudos, o executivo encontrou trabalho naquela que é uma ocupação comum entre imigrantes: o canteiro de obras.
“Eu era carpinteiro, helper, fazia de tudo”, relembra Strabelli, que dois anos mais tarde começou a sua própria construtora no país europeu, poucos anos antes de migrar aos EUA com o sonho de se tornar milionário. “A minha concepção de American Dream, quando eu ainda estava no Brasil ou mesmo na Espanha, era de ser milionário, mas quando eu cheguei aqui eu entendi que não era bem isso”, conta.
Atualmente, ele acredita que o sonho do norte-americano comum é ter uma boa casa, um bom carro e independência financeira. Não por acaso, o desenvolvimento de propriedades para famílias de classe média é uma das frentes de negócios da Sagewood na Flórida.
Considerando os dois estados de atuação, Nova York e Flórida, a companhia soma US$ 210 milhões em projetos e 444 mil m² de área construída.
Os segredos da experiência
Em sua vivência no mercado norte-americano, Strabelli pode compreender diferenças estruturais entre o ambiente de negócios no Brasil e nos Estados Unidos que, muitas vezes, são ignoradas por quem deseja empreender em outro país. “Aqui existe muita oportunidade e muito incentivo de todos os órgãos governamentais, municipais, estaduais, federais e as pessoas não utilizam. Eu mesmo demorei um tempão para conhecer o caminho”, comenta.
Uma dessas diferenças, segundo ele, é a facilidade de acesso e diálogo com autoridades locais, como as prefeituras. “Nós vamos para a prefeitura, falamos com o prefeito, abrimos o Plano Diretor e entendemos tudo. Só aí decidimos investir”, explica.
Outro recurso pouco utilizado por empreendedores estrangeiros nos Estados Unidos é a oferta de produtos e serviços direcionados a programas e órgãos públicos. Um caminho que, no Brasil, depende de uma boa rede de contatos para tornar-se viável. “Você não precisa ser amigo do prefeito”, conta o executivo, acrescentando que “muita gente não tem o que nós [Sagewood] temos, que são investidores, então é possível definir um produto baseado em um programa [governamental] que já está financiado, aí não é necessário um investidor.”
O empresário avalia também que o foco nos objetivos é fundamental para quem empreende em outro país, principalmente porque as oportunidades são muitas e frequentes, testando ainda mais a habilidade de se manter firme nas metas traçadas.
“Um milionário, um bilionário, como muitos que eu conheço, está em busca de talentos, de gente com boa reputação, que seja honesto, que queira crescer para pegar dinheiro e falar ‘toma, vai fazer mais dinheiro’. Isso é a coisa mais procurada”, finaliza.
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