O mercado varejista do Rio de Janeiro vem atraindo players importantes durante a pandemia, apesar dos desafios das medidas de restrição social. Depois de quase 20 anos fora do mercado fluminense, a Pernambucanas intensificou seu movimento de abertura de lojas físicas e já soma 30 pontos no estado, além de outros 12 que devem ser inaugurados ainda neste ano. Já o Magazine Luiza, que descartava a possibilidade de entrar no mercado local, inaugurou 23 pontos no Rio no começo de julho e já iniciou investimentos para abrir mais 27 lojas ainda em 2021.
A mudança estratégica das companhias tem um motivo: “a crise também gera oportunidades. Há uma menor oferta de produtos e de lojas, e uma possibilidade de negócios mais bem-sucedidos no aluguel de pontos comerciais. Há mais pontos comerciais disponíveis e a preços mais acessíveis”, explica Sérgio Borriello, CEO da Pernambucanas.
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Razões semelhantes são apontadas por Fabrício Garcia, vice-presidente de operações do Magazine Luiza: “o mercado imobiliário do Rio de Janeiro é muito caro. O momento fez com que a gente conseguisse melhores contratos de aluguel.”
De fato, o comércio fluminense é a moradia de valiosos endereços para os negócios varejistas, a exemplo dos calçadões de Duque de Caxias, Madureira e Nova Iguaçu. E segundo, João Gomes, diretor do IFec RJ (Instituto Fecomércio de Pesquisas e Análises), cerca de 40 a 50 mil empresas do estado tiveram que fechar suas portas definitivamente desde o início da pandemia, aumentando a vacância de pontos comerciais e reduzindo seus aluguéis.
Um levantamento realizado pelo FipeZap, índice que faz o acompanhamento sistemático da evolução dos preços do mercado imobiliário brasileiro, revelou que em maio de 2021, os aluguéis na cidade do Rio Janeiro acumulavam queda de 5,10% em 12 meses para os imóveis comerciais. Essa foi a maior queda registrada por qualquer cidade no Brasil.
Grandes oportunidades
O Rio de Janeiro é o segundo maior mercado consumidor do Brasil, e responde por 15% do varejo nacional, segundo Garcia. Ainda assim, até 2019, duas das maiores marcas varejistas do Brasil não tinham presença física no estado, embora por motivos diferentes.
A Pernambucanas já havia marcado presença no Rio de Janeiro há algumas décadas. Originalmente, a empresa era formada por duas companhias: uma responsável pelas operações do Sul, Centro-Oeste e São Paulo, e outra sediada no Rio de Janeiro, que cuidava das operações fluminenses e do Nordeste. O retorno ao Rio aconteceu em 2019, quando 10 pontos físicos foram abertos.
Já o Magazine Luiza, até 2021, operava no estado apenas através do e-commerce. Em 2017, em um evento da Associação Comercial do Rio, Luiza Trajano afirmou que o estado estava fora dos seus planos de expansão para a marca por conta de preocupações com segurança e roubo de carga.
“O Rio de Janeiro foi o grande epicentro da grande crise que vinha ocorrendo desde 2014”, diz Gomes. “A ponto de 2017 ser aquele caos todo que a gente viu na parte econômica, social, e de segurança”, acrescentando que “na Fecomércio, a gente tem o Conselho de Combate ao Mercado Ilegal, que trata dessas variáveis de segurança. Roubo a transeunte, a estabelecimento comercial, roubo de carga. A gente analisa todas essas variáveis e sem dúvida alguma elas mudaram do patamar que estavam em 2017.”
Para José Antonio Brito, presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro, fatores como a venda da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos), em abril, colaboram para um melhor ambiente de negócios no estado. “Essa venda criou um enorme canal de oportunidades para a cidade do Rio e o estado. As receitas provenientes desta venda vão tirar um enorme atraso de algumas obras de infraestrutura que estavam paralisadas. A Olimpíada ajudou muito, mas sozinha foi insuficiente. Acreditamos que novas cadeias produtivas serão criadas a partir desta privatização”, avalia.
União do físico ao digital
Investir em lojas físicas pode parecer uma estratégia pouco intuitiva para a saída da pandemia, quando os serviços digitais se tornaram mais relevantes do que nunca. O que a Pernambucanas e o Magazine Luiza têm em comum, no entanto, é que nenhuma das companhias planeja deixar o mundo digital fora disso.
“A gente não enxerga o futuro do varejo de vestuário 100% no mundo digital, e também não enxerga ele 100% no mundo físico, mas enxerga sim a complementariedade entre os dois mundos.” Segundo Borriello, a estratégia da Pernambucanas é “figital”, e busca trazer a facilidade dos pagamentos digitais à experiência mais abrangente das lojas físicas.
Os clientes vão às lojas, sacam seus telefones, e com o aplicativo da loja vão selecionando os produtos que desejam, acumulando em uma sacola de compras. No final, vão a um caixa específico e resgatam tudo. Essa estratégia, que apoia principalmente a venda de roupas, agiliza o processo de compra, e ainda preserva a experiência de “ir ao provador, interagir num atendimento humanizado com os nossos colaboradores, fazer sugestões de produtos, de moda”, que Borriello considera importante.
Já o Magazine Luiza busca utilizar as lojas físicas principalmente para diminuir o tempo de entrega das compras feitas digitalmente. “O Magalu tem um modelo de varejo multicanal. Metade de nossas vendas online passam pela loja – sendo para retirada ou saem delas direto para casa do cliente. Com a loja física, chegamos mais rápido e mais barato aos nossos clientes”, diz Garcia.
Segundo o vice-presidente, as lojas físicas também proporcionam um elo mais próximo com os consumidores, fazendo com que, nos lugares onde existem lojas físicas, as vendas online também aumentem. “E essa operação fica ainda mais segura com nossa presença física. Antes, os produtos saíam do nosso Centro de Distribuição e iam até a casa do cliente. Agora, saem da loja e chegam bem mais rápido, rodando menos. Menor o período do produto em transportes, menor o risco. A operação do Rio só traz ganhos à nossa segurança”, avalia.
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