Popularizado pelo bilionário e investidor Warren Buffett, o value investing é uma estratégia de investimento em ações que aposta na compra de ações depreciadas, mas que possuem alto potencial de valorização. A abordagem está há muitas décadas presente no mercado de ações e agora começa a ser incorporada pelo mercado de criptomoedas, indicando a chegada de uma nova fase de amadurecimento no setor, mas que ainda apresenta riscos.
No início deste mês, a casa de análises e pesquisa em criptoativos Mercurius Crypto anunciou o lançamento do primeiro fundo de gestão ativa fundamentalista que adapta essa estratégia ao mercado das criptos. “É uma estratégia nova em praticamente todos os lugares”, diz o CEO Gabriel Faria. “Tem pouquíssima gente estudando algo sobre isso, praticamente ninguém aplicando ainda no mundo.”
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O value investing tradicional avalia o valor intrínseco dos ativos para determinar o seu potencial, utilizando referências como governança, consistência de lucros, fluxo de caixa e balanço no processo. Porém, aplicar a filosofia ao mundo das criptos é um pouco mais complexo, principalmente quando se trata de moedas como bitcoin e ether: “É muito difícil você calcular o valor intrínseco [dessas moedas], porque seria a mesma coisa que falar, qual é o valor intrínseco da internet? Ninguém sabe calcular. Principalmente do bitcoin, que se assemelha muito mais a uma commodity.”
Para Claudio de Moraes, professor de Banking Internacional do COPPEAD/UFRJ, aplicar essa estratégia em amostragens mais amplas ainda demonstra desafios: “Para utilizar a estratégia do value investing é preciso obter informações econômicas e financeiras de forma organizada. Assim, as criptos, além de não terem um fluxo de caixa, não possuírem indicadores bem estabelecidos que permitam analisar seu comportamento em relação ao ambiente econômico, também não dispõem de informações organizadas, o que dificulta bastante a utilização da estratégia de value investing, como ocorre no mercado de ações com uma visão de longo prazo.”
A saída para criação do fundo com base na estratégia, segundo Faria, é encontrar ativos menores, mas que apresentam governança, geram receita e pagam dividendos, atuando como empresas descentralizadas. A exemplo disso há a Uniswap, uma corretora de criptomoedas descentralizada que possui o token de governança UNI. Como a corretora possui um modelo de negócios bem definido e tem uma taxa de crescimento consistente, é possível calcular qual deveria ser o valor do seu ativo. Por via de regra, portanto, um ativo é apto para estar na metodologia de value investing, já que é possível encontrar fatores que explicam a qual preço ele deveria estar.
Faria também destaca os riscos inerentes ao value investing ao se fazer uma análise incorreta e “achar que o ativo é bom quando ele não é”, por exemplo. Também é possível uma análise estar correta, mas no tempo errado – ou seja, o mercado não enxergar o potencial do ativo, e ele demorar para atingir o valor esperado. Em alguns casos, é preciso esperar mais de cinco anos para avaliar se as análises se confirmaram ou não.
O value nas criptos
Por isso, de acordo com Faria, a técnica nas criptomoedas deve se concentrar sobre o fundamento, e não sobre o preço ou o timing: “Ou seja, todos os fundamentos tanto de forma qualitativa: qual é a equipe do projeto, quando foi criado, qual é a infraestrutura que está por trás dele, bem como quantitativa: o número de usuários, qual é a rate, qual é a taxa de crescimento, enfim. Sempre baseado no fundamento, e nunca em preço ou timing, em tentar comprar e vender rápido.”
Também é necessário ter paciência e pensar a longo prazo, considerando os investimentos em anos, e não meses. São geralmente necessários entre três e cinco anos para que os ativos escolhidos cheguem ao preço projetado pelas análises. A Mercurius Crypto avalia que o setor com maior potencial dentro das criptos possui apenas 2 milhões de usuários e gerou mais de US$ 1 bilhão em receita apenas em 2021. “Existe uma alta assimetria entre preço e valor e é nisso que queremos atacar, buscando retornos no longo prazo”, comenta o CEO.
O especialista da UFRJ pondera que os riscos advêm da utilização de ativos que existem há pouco tempo para análises a longo prazo: “Tem que se levar em consideração as mudanças tecnológicas, novos projetos de criptos, mudanças regulatórias muito graves, como, por exemplo, o BIS, que vem se manifestando com muito incômodo a respeito dos criptoativos, ou seja as questões regulatórias que podem surgir são ameaças ao preço das criptos. Há o risco de todo o tipo de mudança: tecnológicas, regulatórias, geracionais e etc. Nada que se sustente no longo prazo para um value investing confiável.”
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