Os planos de Elon Musk para promover a Tesla como uma empresa líder em tecnologia e divulgar os avanços que a companhia tem obtido com IA (inteligência artificial) se tornaram um pouco inconvenientes na última semana. Isso porque as declarações do CEO bilionário ocorreram em meio a indícios de que o governo dos Estados Unidos pode fazer uma rígida investigação da montadora de veículos elétricos.
No último dia 19, a Tesla transmitiu ao vivo o seu evento “Dia da IA”. Assim como fez na apresentação do “Dia da Bateria”, em 2020, e do “Dia da Automação”, em 2019, analistas e investidores foram convidados a participar da convenção, ao contrário da imprensa que, ao que tudo indica, não foi chamada.
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O evento de tecnologia da empresa aconteceu dias depois da NHTSA (Administração Nacional de Segurança de Tráfego Rodoviário, na sigla em inglês) abrir sua maior investigação até agora sobre o recurso de piloto automático da Tesla, baseada em 11 acidentes com os veículos da montadora. Os incidentes resultaram em vários ferimentos e pelo menos uma fatalidade e, em cada uma das colisões, o piloto automático ou o controle de cruzeiro com reconhecimento de tráfego estavam em uso.
No dia 18, os senadores Ed Markey, de Massachusetts, e Richard Blumenthal, de Connecticut, pediram à FTC (Federal Trade Commission, agência norte-americana voltada à proteção do consumidor) que investigasse as tecnologias parcialmente automatizadas da Tesla, com foco no uso do piloto automático e do FSD (Full Self Driving, ou auto-condução completa).
“O marketing da Tesla exagerou repetidamente as capacidades de seus veículos, e essas declarações representam cada vez mais uma ameaça aos motoristas e passageiros”, disseram os senadores em uma carta à presidente da FTC, Lina Khan . “Por isso, pedimos que você abra uma investigação sobre práticas potencialmente enganosas e injustas na publicidade da montadora, em relação a seus sistemas de automação de direção, e tome as medidas de fiscalização adequadas para garantir a segurança de todos.”
A Tesla, que não tem mais uma equipe de relações públicas, não respondeu aos nossos pedidos para comentar o tema e não se manifestou no site ou em suas redes sociais.
O piloto automático, um recurso que a empresa promove desde 2014, está relacionado a dezenas de acidentes e múltiplas fatalidades nos Estados Unidos e no exterior. Exemplo disso é o acidente de 2016, na Flórida, que matou o motorista Joshua Brown, que dirigia o Model S. No ano seguinte, a NHTSA encerrou a investigação sem encontrar a falha do veículo. Já em 2018, um caso fatal envolvendo o engenheiro do Vale do Silício Walther Huang levou a família do motorista, que dirigia o Modelo X Huang, a processar a montadora, afirmando que piloto automático da Tesla é uma tecnologia defeituosa.
O portal “Electrek”, conhecido por sua cobertura amplamente positiva da Tesla, aparentemente obteve um convite para participar do “Dia da IA” e forneceu alguns detalhes sobre o que se esperava do evento. “A convenção apenas para convidados contará com uma palestra de Musk; demonstrações de hardware e software; passeios de teste no Model S Plaid, e muito mais”, disse. “Os participantes serão os primeiros a ver os mais recentes desenvolvimentos em supercomputação e treinamento de redes neurais. Além disso, eles terão uma visão interna do que vem por aí para a inteligência artificial na Tesla, para além da frota de veículos.”
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Embora as notícias da investigação da NHTSA parecessem golpear as ações da Tesla no início da semana passada, os papéis subiram na quarta-feira (18), fechando 3,5%, a US$ 688,99, nas negociações da bolsa norte-americana Nasdaq. Até agora, a montadora teve uma queda de 2,4% neste ano.
“O evento ‘Dia da IA’ se tornou muito mais importante para a Tesla diante da investigação na última semana, com o objetivo de mostrar os avanços de software e o progresso de segurança que a marca almeja para a próxima década”, disse Dan Ives, analista de ações da Wedbush Securities. “O ‘The Street’ [site norte-americano de notícias financeiras] estará observando este evento de perto em busca de dicas sobre o futuro da inteligência artificial, FSD e avanços tecnológicos que diferenciam ainda mais a Tesla da concorrência crescente no mercado de veículos elétricos.”
Segundo Ives, os recursos de software e inteligência artificial da Tesla são essenciais para a “tese de alta ao longo prazo” da empresa. O especialista espera ouvir atualizações sobre o supercomputador Dojo, que a montadora está desenvolvendo. “A semana foi difícil para a Tesla, e o ‘The Street’ precisa de boas notícias para este evento de IA.”
Os defensores de segurança levantaram preocupações de que o nome do piloto automático (Autopilot, em inglês) leve muitos usuários a depositar demasiada confiança no recurso de assistência ao motorista. Isso foi confirmado ao longo dos anos por vários proprietários de veículos Tesla postando vídeos tratando o recurso como um sistema autônomo, com algumas pessoas dormindo frente ao volante ou sentados no banco de trás enquanto viajam pela rodovia. O piloto automático é um ADAS (Sistema de Assistência ao Motorista Avançado), e a empresa alerta que os usuários devem estar prontos para assumir o controle do veículo a qualquer momento.
Em 2020, um tribunal alemão determinou que chamar o sistema de Autopilot era enganoso, e proibiu que a Tesla usasse esse e o termo Full Self Driving para os automóveis vendidos naquele mercado.
“Atualmente, não há veículos totalmente autônomos disponíveis”, disseram Markey e Blumenthal em sua carta. “Compreender essas limitações é essencial, pois quando as expectativas dos motoristas excedem as capacidades de seus veículos, podem ocorrer acidentes graves e fatais.”
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