Quando Alan Trefler começou a jogar xadrez aos 7 anos, em 1963, ele certamente não se preocupava em fazer negócios. Nem mesmo aos 19 anos, quando foi campeão do World Open Chess Championship (campeonato mundial aberto de xadrez, em tradução livre), não poderia prever que os ensinamentos do tabuleiro iriam guiá-lo para a criação de uma empresa e para uma fortuna bilionária.
Hoje, aos 65 anos, o empresário self-made tem certeza de que as incontáveis horas dedicadas ao esporte foram fundamentais para a criação da Pegasystems, empresa de softwares com quase 6 mil funcionários, que levou a fortuna do enxadrista para US$ 5,1 bilhões, de acordo com estimativa da Forbes.
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Carinhosamente chamada pelo bilionário de “Pega”, a companhia foi criada na mesa da cozinha de Trefler, na década de 1980, quando ele tinha apenas 26 anos. “Não foi uma decisão que tomei de ânimo leve, passei por muitas reflexões antes, mas foi uma experiência incrível”, relembra.
Globalmente, a Pega atende empresas como Santander, HSBC, Ford, Dell, Vodafone, Siemens, Heineken, Toyota e Unilever. Atuando em um setor altamente competitivo e com demanda crescente, o empresário defende que estratégia, paciência e pensamento crítico são fundamentais para o sucesso. Não por acaso, a empresa alcançou a marca de US$ 1 bilhão em receita anual neste ano.
Inspiração para a Pegasystems
O xadrez não foi a escolha de carreira de Trefler, mas com certeza abriu portas para outras experiências profissionais. Após ganhar o campeonato, ele foi recrutado para ensinar computadores a jogar xadrez em um programa no Dartmouth College, universidade em que cursava ciência da computação.
“A minha grande vitória no World Open foi um cheque de pouco mais de US$ 2 mil. Em 1975, isso não era ruim. Mas assim que subtraí minha taxa de inscrição e os custos da viagem para Nova York, percebi que provavelmente teria dificuldades para ter uma vida decente como jogador”, relembra.
Para o bilionário, a prática do xadrez o preparou para desafios futuros nos negócios e na vida. “Isso acabou se tornando a base para o que a Pega faz hoje: tomar processos complexos, reconhecer padrões e criar etapas lógicas, compreensíveis e sequenciais para criar os resultados certos, de uma forma que os empresários possam entender”, explica.
A Pegasystems é especialista em planos de omnicanalidade para outros negócios, ou seja, a companhia trabalha para que a jornada final do cliente de uma empresa seja a mais consistente possível.
O omnichannel pode ser resumido como a jornada do cliente em diferentes canais de contato com uma empresa: por telefone, presencialmente ou pela internet. O papel da Pega é fazer com que, independente do canal escolhido, o cliente fique satisfeito com os serviços prestados por aquela empresa.
“Uma estratégia omnicanal é parte essencial de um negócio de sucesso. Os clientes estão ficando mais jovens, mais experientes tecnicamente, com expectativas e preferências maiores por canais digitais. Se você não consegue acompanhar, não consegue ser relevante”, afirma.
Além de aplicar uma estratégia omnicanal, o desafio é fazer com que ela seja clara para todos os funcionários da empresa contratante, ainda que eles não tenham conhecimentos em informática. “Isso inclui dar a eles ferramentas de software que não exigem que os funcionários conheçam linguagens de programação”.
Essa abordagem defendida por Trefler é chamada pela indústria de low code, ou “poucos códigos”, em tradução livre. “Nossos clientes usam nosso software para analisar de forma inteligente o contexto e os dados, e para antecipar as necessidades de seus clientes”, explica.
Para o Trefler, todo este plano de negócios está bastante relacionado com o xadrez e, principalmente, à experiência que teve ensinando o esporte às máquinas na faculdade. A semelhança entre o xadrez e o desenvolvimento do software é resumida por Trefler em três etapas: “faça muitas perguntas, aprenda com as falhas e antecipe o próximo movimento antes que outra pessoa o faça”.
Xadrez na vida e nos negócios
Trefler defende que o xadrez pode trazer conhecimentos valiosos de negócios para aqueles que o praticam, não por acaso os 5700 funcionários da Pega são incentivados a incluir o esporte em suas rotinas. “No xadrez você sempre precisa analisar os movimentos de seus oponentes, tentando antecipar o que eles farão em seguida. É preciso de uma abordagem muito semelhante para administrar uma empresa”.
Outra vantagem que o xadrez pode trazer para o mundo dos negócios é o aperfeiçoamento da prática de resolução de problemas, habilidade fundamental para administrar uma empresa. “Operar a Pega é mais complicado do que manobrar as peças em um tabuleiro de xadrez, mas existem alguns fundamentos que se aplicam a ambos os casos”, diz.
O primeiro fundamento é o reconhecimento de padrões, a capacidade de reconhecer, compreender e interpretar coisas que podem ou não funcionar. O segundo é, com base nesses padrões, determinar os próximos movimentos para chegar a um resultado desejado. E, por fim, é necessário dar um passo atrás para ter uma visão holística.
“Para não cometer um grande erro e perder para o oponente, é preciso pensar ‘estou deixando de ver algo que pode me levar à derrota no futuro?’, seja no xadrez ou nos negócios”, aconselha Trefler.
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Por fim, um componente crítico para ser um bom empresário e um bom jogador de xadrez é, segundo o CEO, a experiência de perder jogos. “Pode parecer contra-intuitivo no início, mas foi assim que melhorei. Perder obriga você a se perguntar como isso aconteceu”, diz.
Para aqueles que desejam criar uma empresa de sucesso, ele defende que cometer erros não é necessariamente ruim, contanto que seja possível aprender com as situações e fazer o melhor para não errar novamente. “Não tenha medo de falhar. Um bom líder encontra maneiras de fazer coisas ousadas, das quais também é possível se recuperar caso algo não saia de acordo com o planejado”.
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