Cinco anos após sua fundação, a fintech Conta Black prepara a sua primeira rodada de captação via venture capital para levantar R$ 25 milhões, montante que, segundo o CEO da empresa, Sergio All, deve ser destinado a investimentos em tecnologia. Com sete em cada dez brasileiros sem uma conta em banco declarando-se negros, a meta da empresa é oferecer serviços financeiros e promover a bancarização da população preta.
“Eu quero trazer a população negra para o setor bancário, buscando também abraçar a população desbancarizada”, explica All. “Quantas pessoas igual eu não têm um pedido de crédito negado simplesmente pelo seu tom de pele?”, questiona o executivo. Segundo dados do Sebrae e a FGV (Fundação Getúlio Vargas), 66% dos empreendedores negros têm seus pedidos de crédito negado pelas instituições financeiras.
A Conta Black nasceu de uma experiência negativa vivida por All no acesso a um empréstimo para uma empresa anterior. A IBeats, agência de publicidade também fundada pelo empresário, atendeu por 20 anos pequenas e grandes empresas que buscavam migrar do offline para o ambiente digital. Apesar do portfólio de clientes, que tinha nomes como Puma e Ford, a empresa não conseguia obter crédito para investimentos em sua infraestrutura.
Essa agência abriu caminho para All criar a Conta Black de muitas maneiras. Após ajudar um cliente do mercado financeiro, ele recebeu uma proposta para liderar a área de relacionamento com bancos dessa instituição em São Paulo. O empresário passou então a dividir o seu tempo entre a agência de publicidade e o mercado financeiro.
“Com a experiência que eu tive nas instituições financeiras, pude mapear qual era a posição da população preta no setor bancário”, comenta All, que realizou um estudo sobre afro empreendedorismo e percebeu que era necessário fundar uma instituição que fizesse levantamentos sobre a população negra. Assim, em 2015, ele criou o Afro Business Brasil.
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Dos games à Apple
Por muitas vezes durante a sua trajetória, Sergio All foi na contramão das estatísticas e acreditou no seu sonho. Enquanto trabalhava como office boy da antiga loja de departamento Mappin, aos 22 anos, ele fundou sua primeira empresa, a SOS Games.
O empreendedor transformou o hobby de jogar videogame em negócios. A SOS disponibilizava cerca de 50 mil dicas e técnicas na internet sobre como passar nas fases de jogos clássicos, como Donkey Kong e Street Fighter. Os clientes pagavam pelo conteúdo.
“Nós virávamos a madrugada jogando videogame. Parece bom, mas é muito diferente brincar e jogar profissionalmente”, relembra All, “se o jogo era ruim, nós precisávamos terminar mesmo assim.”
Em 1997, aos 23 anos, All teve a ideia de questionar a Apple sobre o ‘porquê da companhia não disponibilizar jogos online para seus clientes’. A empresa de tecnologia o convidou para uma reunião em seu escritório em São Paulo. “Você acha que poderíamos ampliar o nosso leque de clientes através de videogames?” perguntaram os representantes da empresa a All, “eu disse que sim”, relembra.
Assim, a SOS Games fez um acordo com a Mac Games Brasil, à época, divisão da Apple responsável pelos jogos disponíveis no mercado brasileiro, disponibilizando códigos e dicas dos jogos disponíveis para MacBooks. O trabalho com a gigante tecnológica durou cerca de dois anos.
Ao lado da Apple, All também participou do lançamento do WOW (World of Warcraft) para computadores. Um dos jogos online mais populares ao redor do mundo e em operação há 17 anos.
O empresário que ajudou a popularizar e a explicar o mundo dos games, agora quer aplicar a mesma estratégia às finanças. Aos 46 anos, All e sua esposa, Fernanda Ribeiro, COO da Conta Black, planejam lançar um aplicativo nos próximos seis meses com ensinamentos financeiros aos pretos, “desmistificando o mercado bancário”, além de criar em uma jornada do cliente focada em serviços e consumo. Para os próximos 10 anos, o casal planeja chegar aos 100 mil clientes, ampliar seus negócios para América Latina e não descarta planos para um IPO.
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