Trabalhando em um prédio comercial ao norte do centro de Atlanta, nos Estados Unidos, o consultor de fortunas John Cary está se preparando para uma nova temporada em Hollywood. Cary, diretor da Tyler Perry Studios e presidente da Cross Creek Pictures, está analisando uma lista de interesses com cerca de 30 nomes – todos produtores independentes que viraram alvos de aquisição.
“Estamos no início das discussões com algumas pessoas”, diz Cary, também diretor-gerente do banco de investimento NextGen Capital. “Vamos sentar à mesa e perguntar: ‘Quanto você acha que vale? Qual valor seria atraente?’”
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A resposta? Provavelmente muito, já que a corrida por conteúdo desencadeada pelo sucesso do streaming não mostra sinais de desaceleração. A indústria vai gastar US$ 225 bilhões por uma nova programação em todo o mundo este ano, de acordo com o pesquisador Ampere Analysis – US$ 60 bilhões a mais do que cinco anos atrás. Na esteira da compra da MGM Studios pela Amazon por US$ 8,45 bilhões, a atriz Reese Witherspoon vendeu sua participação majoritária na Hello Sunshine para uma nova empresa de mídia apoiada pelo Blackstone Group por US$ 900 milhões, o que um negociador diz ser o dobro do fluxo de caixa que tais empresas estavam recebendo apenas 18 meses atrás.
Isso colocou um novo preço em tudo, desde a Endeavor Content de Ari Emmanuel e a SpringHill Company de Lebron James, até o querido estúdio de filmes independentes A24, enquanto conversas surgiam sobre o potencial de conseguir empresas em alta como a Blumhouse Productions. Há também um grande interesse na Imagine Entertainment, de Ron Howard e Brian Grazer.
Em aposta está o lucrativo jogo de poder entre distribuidores e criadores que a revolução do streaming desordenou. Hitmakers, acostumados a décadas de acordos de participação nos lucros sem risco, andam desanimados desde que a Netflix – seguida por concorrentes de streaming, incluindo Disney+ e Amazon – invadiu a indústria com um novo tipo de negócio: aquisições lump sum (modelo de contrato onde o preço global cobrado pelo produto ou serviço é determinado antes da realização do projeto) que limitam o potencial de talento enquanto adicionam valor às suas plataformas.
Reese, que apostou em si mesma ao criar a Hello Sunshine, conseguiu alavancar os direitos que detinha sobre histórias com foco feminino, incluindo os filmes “Garota Exemplar” e “Livre” e séries que ela vendeu para Hulu, Apple e HBO. O preço da empresa de cinco anos – que supostamente obteve uma recompensa mais de sete vezes maior que a receita projetada – sugere um mercado crescente para produtores com um histórico bem-sucedido, uma vez que qualquer fluxo de caixa que a Hello Sunshine vê é muito menor do que os números da bilheteria principal que são registrados.
Esses valores são reduzidos pelo custo de reembolsar os investidores que financiaram a produção, as pesadas despesas de marketing e publicidade, as significativas ações reivindicadas por cinemas e redes de TV, bem como o pagamento de acordos de participação nos lucros com os diretores, estrelas e produtores que fazem tudo acontecer.
“Talento tem um enorme valor para as empresas construídas a partir de seus esforços e eles não estão vendo um retorno equivalente ao patrimônio líquido”, diz Kevin Mayer, que fez uma parceria com o ex-diretor de operações da Walt Disney, Tom Staggs, e a Blackstone no investimento pela Hello Sunshine. “Agora eles estão vendo maneiras de obter vantagens do tipo capital, criando suas próprias empresas e também fazendo parte de novas companhias independentes.”
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Isso deixa um ponto de interrogação pendente sobre todas as companhias, desde a Westbrook Entertainment, de Will Smith, até a potência do grande Steven Spielberg, a Amblin Entertainment. Também poderia atribuir um valor superior a uma marca como a Perry’s, que faz seu próprio financiamento e, portanto, é a dona da produção e tem apenas uma pessoa principal a pagar – Perry, que escreve, produz, dirige e, muitas vezes, estrela em seus próprios programas. O produtor bilionário não é vendedor, diz Cary, mas pode ser comprador.
Uma pista sobre o que os outros membros da indústria estejam pensando pode estar em Jason Blum, o criador por trás da Blumhouse: “Ele não tem uma placa de publicidade consigo mesmo”, de acordo com uma fonte, antes de acrescentar que ele também não descarta nada.
A Forbes, então, fez uma tentativa de determinar quais valores estão sendo sugeridos para alguns dos principais alvos de Hollywood. Veja na galeria de fotos a seguir:
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Reprodução/Forbes Legendary Entertainment
Maiores sucessos: “Godzilla vs Kong”, “Pokémon: Detetive Pikachu”, “Mamma Mia: Lá Vamos Nós de Novo!” e “Jurassic World: Reino Ameaçado”.
Valor: US$ 4 bilhões
A produtora de filmes e empresa de cofinanciamento, que estabeleceu um recorde de bilheteria global pandêmica com “Godzilla vs Kong”, está explorando silenciosamente suas opções. O Dalian Wanda Group assumiu o controle da Legendary em 2016 em uma transação de US$ 3,5 bilhões que, na época, representava o maior negócio entre a China e Hollywood (embora esse preço tenha sido considerado inflado por muitos). Mais recentemente, Wang Jianlin, o bilionário chinês que controla a Wanda, vem se desfazendo de seus ativos internacionais, entre eles uma participação no projeto do hotel de luxo One Nine Elms e a maior parte de seu interesse nos cinemas AMC Theatres. Acredita-se que a Legendary também esteja procurando um novo pretendente. O estúdio é lucrativo e tem produzido uma série de sucessos recentes, então pode valer cerca de US$ 4 bilhões.
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Reprodução/Forbes A24
Maiores sucessos: “Minari: Em Busca da Felicidade”, “Moonlight: Sob a Luz do Luar”, “Joias Brutas” e “Oitava Série”.
Valor: US$ 3 bilhões
O estúdio de cinema independente que produziu ou distribuiu uma série de filmes aclamados também está procurando um pretendente, flutuando por um preço inicial de até US$ 3 bilhões, de acordo com a “Variety”. Esse número parece alto, especialmente devido ao modesto desempenho de bilheteria de seus filmes, o que sugere um preço mais realista de cerca de US$ 591 milhões – embora um suposto comprador, a Apple, pudesse muito bem pagar a mais pelo prestígio da companhia. O estúdio, lançado com capital inicial da Guggenheim Partners, já produz filmes para Apple TV+, e negociadores de Hollywood dizem que o aclamado indie se encaixa no posicionamento que os chefes da Apple TV, Jamie Erlicht e Zack Van Amburg, querem dar ao seu serviço de streaming: um lar para conteúdo de prestígio.
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Reprodução/Forbes Blumhouse Productions
Maiores sucessos: “O Homem Invisível”, “Atividade Paranormal”, “Corra!”, “Infiltrado na Klan”, “Halloween” e “Uma Noite de Crime”.
Valor: US$ 2 bilhões (possivelmente mais)
A empresa de Jason Blum, o maestro do filme de terror moderno, seria um alvo atraente para vários compradores. Seus filmes e programas são produzidos com custos baixos, mas explodem com o público, gerando uma receita de bilheteria de quase US$ 4 bilhões nos últimos 15 anos. O tempo está se esgotando em um acordo inicial com a Universal Pictures que termina em 2024, embora o estúdio também esteja prestes a fechar um acordo de US$ 400 milhões para Blum criar três novos longas da franquia “O Exorcista”. “Não consigo nem imaginar quanto valeria a Blumhouse”, comentou um agente.
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Reprodução/Forbes Imagine Entertainment
Maiores sucessos: “Uma Mente Brilhante”, “Apollo 13 – Do Desastre ao Triunfo”, “O Código Da Vinci”, “8 Mile – Rua das ilusões”, “24 Horas”, “Arrested Development”.
Valor: US$ 800 milhões
A companhia de sucesso em contação de histórias ligada ao diretor Ron Howard e ao produtor Brian Grazer atraiu propostas de compradores em potencial ao longo do ano passado, de acordo com uma fonte bem informada, enquanto um investimento de US$ 100 milhões do banco comercial focado na mídia, o Raine Group, em 2016, ajudou a financiar aquisições próprias, incluindo a Jax Media (de séries como “Emily em Paris”, “Boneca Russa” e “Broad City”) e uma participação majoritária na produtora de documentários Jigsaw Productions (“A Inventora: À Procura de Sangue no Vale do Silício” e “Freakonomics”). O preço relatado de US$ 800 milhões pela Imagine parece subestimado, dado o dinheiro que seu catálogo de filmes e programas de TV provavelmente gera.
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Reprodução/Forbes SpringHill
Maiores sucessos: “The Shop” e “A Vida e a História de Madam C.J. Walker”.
Valor: entre US$ 600 e US$ 750 milhões
Fundada por um dos atletas mais famosos do mundo, o jogador de basquete LeBron James, a companhia está explorando opções de investimento ou venda, com a Nike supostamente entre as partes interessadas. A empresa que ele fundou com seu parceiro de negócios, Maverick Carter, foca em conteúdo específico de atletas – de filmes e programas de TV a podcasts, conteúdo patrocinado e vestuário. No ano passado, levantou US$ 100 milhões de investidores (incluindo Guggenheim Investments e UC Investments, da Universidade da Califórnia) e juntou-se à Warner Bros. para uma nova versão de “Space Jam”, enquanto também produz filmes e séries originais para uma variedade de plataformas de streaming. “Quem comprar a SpringHill está pagando para fazer negócios com LeBron”, disse uma fonte do setor.
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Reprodução/Forbes Endeavor Content
Maiores sucessos: “La La Land”, “Luta por Justiça”, “Hamilton” e “See”.
Valor: US$ 500 milhões
A Endeavor Content também está começando a cortejar investidores com um preço flutuante de US$ 500 milhões. Este setor da companhia foi criado para capitalizar a revolução do streaming, financiando e produzindo filmes e séries de televisão que pudessem ser vendidos a compradores famintos por conteúdo original. Desde a sua fundação em 2017, já financiou ou vendeu mais de 200 projetos. Mas a empresa, com sua grande agência de talentos, concordou em vender 80% de sua participação na Endeavor Content como condição para seu acordo com a Associação de Escritores da América, que viu um potencial conflito de interesses.
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Reprodução/Forbes Millennium Media
Maiores sucessos: “Invasão à Casa Branca”, “Dupla Explosiva” e “Assassino a Preço Fixo 2 – A Ressurreição”.
Valor: US$ 250 milhões
O estúdio de cinema independente foi fundado por Avi Lerner, ex-barman e carpinteiro que começou sua carreira como gerente dos primeiros cinemas drive-in de Israel. Ele começou produzindo o que uma publicação de negócios apelidou de “merdas de baixo orçamento”, como “Tubarões” e “Crocodilo”, através do estúdio de cinema Nu Image. Sua Millennium Films, fundada em 1996, tornou-se um veículo para longas mais sofisticados, notavelmente filmes de ação como a franquia “Os Mercenários”. Duas fontes dizem que Lerner está à procura de, pelo menos, US$ 250 milhões pelo ativo.
Legendary Entertainment
Maiores sucessos: “Godzilla vs Kong”, “Pokémon: Detetive Pikachu”, “Mamma Mia: Lá Vamos Nós de Novo!” e “Jurassic World: Reino Ameaçado”.
Valor: US$ 4 bilhões
A produtora de filmes e empresa de cofinanciamento, que estabeleceu um recorde de bilheteria global pandêmica com “Godzilla vs Kong”, está explorando silenciosamente suas opções. O Dalian Wanda Group assumiu o controle da Legendary em 2016 em uma transação de US$ 3,5 bilhões que, na época, representava o maior negócio entre a China e Hollywood (embora esse preço tenha sido considerado inflado por muitos). Mais recentemente, Wang Jianlin, o bilionário chinês que controla a Wanda, vem se desfazendo de seus ativos internacionais, entre eles uma participação no projeto do hotel de luxo One Nine Elms e a maior parte de seu interesse nos cinemas AMC Theatres. Acredita-se que a Legendary também esteja procurando um novo pretendente. O estúdio é lucrativo e tem produzido uma série de sucessos recentes, então pode valer cerca de US$ 4 bilhões.
Metodologia para a avaliação das empresas
As produtoras são vendidas por um múltiplo do fluxo de caixa, o que é difícil de calcular sem acesso aos termos de negociação das séries ou o dinheiro gerado pelo acervo de filmes e TV. Para chegar aos preços de venda potenciais dos estúdios, a Forbes usou dados de bilheteria da Comscore e BoxOfficeMojo para estimar a receita anual usando a média de vendas de ingressos de cinemas ao longo de cinco anos. Um múltiplo de 7,2 foi aplicado, com base no que a Blackstone supostamente pagou pela Hello Sunshine. As estimativas também refletem o feedback de 19 executivos, agentes, investidores e banqueiros. Apenas as empresas que estão sendo ativamente discutidas pelos negociadores de Hollywood estão incluídas na seleção.
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