Calculamos o benefício econômico das coisas o tempo todo. Em um restaurante, por exemplo, um cliente pode avaliar as opções no cardápio e escolher a que lhe traga mais satisfação pessoal, mas que também o alimente fisicamente e que ele possa pagar. Assim, ao escolher uma refeição que melhor atenda às suas necessidades, deixa-se de escolher tantas outras boas opções do cardápio.
Esse raciocínio pode parecer simplista, mas neste exemplo estamos considerando a viabilidade econômica, física e pessoal de uma escolha, ou seja, o custo-benefício. No campo das finanças, as escolhas empregam a mesma lógica: “alguém decide aplicar com um grande banco, porque pensa na segurança em detrimento de outras coisas, ou ainda, na conveniência de poder, em qualquer cidade do país, ir a uma agência daquele banco”, explica Mauro Calil, educador financeiro e fundador da Academia do Dinheiro.
No exemplo acima, quem escolhe investir através de um grande banco considerando comodidade, pode ter como consequência a cobrança de taxas mais altas em relação às corretoras, por exemplo.
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Esse raciocínio nas finanças é conhecido como custo de oportunidade: para cada escolha feita, várias outras são deixadas de lado. Portanto, as pessoas procuram a opção que possa lhe trazer maior satisfação ao menor custo.
Calculando o custo de oportunidade
Para determinar o custo de oportunidade de um investimento, o mercado tem a sua própria referência, que é o CDI (ou taxa DI). A lógica é: a rentabilidade de 100% do CDI é a referência para todos os outros investimentos.
Mas uma aplicação financeira não pode ser escolhida apenas pela rentabilidade que oferece. Quem investe deve olhar ainda para os riscos de cada investimento. Quanto maior o prazo, maior o risco de um investimento. Quanto maior o risco, maior também precisa ser a rentabilidade oferecida.
Um título de renda fixa que renda 100% do CDI, tenha proteção do FGC (Fundo Garantidor de Créditos) e liquidez diária (ou seja, pode ser convertido em dinheiro em até um dia útil) é a nossa referência para a comparação com outras aplicações.
Os títulos 100% do CDI são considerados os mais conservadores no mercado, pois garantem um rendimento mínimo, têm alta segurança e liquidez. Calil explica que qualquer investimento envolve segurança, rentabilidade e liquidez.
Ou seja, ao escolher um investimento, é preciso primeiramente comparar a aplicação financeira com a nossa referência, que é o título base de 100% do CDI nos critérios indicados. E o custo de oportunidade é o quanto você deixa de ganhar no CDI ao escolher outro investimento.
Em outras palavras, qualquer investimento de maior risco deve oferecer rentabilidade superior a 100% do CDI, já que ele é a referência base para se investir com segurança.
Outras comparações
A comparação entre rentabilidades fica mais complicada ao avaliar investimentos de diferentes classes, como a renda fixa e a renda variável. Já que os riscos de um investimento em ações é maior do que os riscos dos produtos de renda fixa.
Viviane Ferreira, planejadora financeira, recomenda que os ativos sejam comparados a partir de outras referências, dentro do universo da renda variável. “Se eu escolher ter uma carteira de ações e investir nessa carteira, eu posso comparar ela com o custo de oportunidade de investir em um ETF (Exchange Traded Fund) do Ibovespa, por exemplo.”
A lógica aqui é a seguinte: se eu investir em um ETF que segue o Ibovespa (índice da Bolsa brasileira), eu acompanho a rentabilidade do índice e não preciso me preocupar com a escolha de ações para a minha carteira de investimentos. Por outro lado, se eu escolher cada ação individualmente, estou correndo o risco de ter uma rentabilidade menor – ou maior – do que o desempenho do Ibovespa.
Viviane explica ainda que uma carteira de ações autoral conta com diferentes componentes comportamentais e emocionais em sua definição e, portanto, seria menos segura. “Se o investidor apostar no rendimento do índice, ele tem uma garantia maior de que aquilo irá render, mas se ele construir sua própria carteira já não é possível fazer essa previsão.”
Nesse caso, o custo de oportunidade é o retorno do Ibovespa.
Vamos pensar da seguinte forma: compare a rentabilidade de uma carteira autoral (em que você escolhe as ações) com a rentabilidade do Ibovespa durante o mesmo período de tempo. Se a carteira autoral render mais, pode ser uma melhor opção do que a segurança de investir no ETF do índice.
Um ponto de atenção para o investidor é que a rentabilidade obtida no passado por uma carteira de ações e índice pode não se repetir no futuro.
Investindo estrategicamente
Saber calcular o custo de oportunidade é um passo importante na formação da própria carteira. Mas entender essa lógica também permite realizar ações estratégicas no mercado, e aproveitar oportunidades de investimento.
Viviane explica que esse cálculo pode ser usado no momento de comprar ou vender um ativo. “O custo de oportunidade é algo que vai nortear o momento de eu tomar mais risco ou não. Se o custo de oportunidade está me dando um retorno bom, talvez não valha a pena eu me arriscar, mas se ele está dando um retorno muito baixo, fica mais fácil a gente se arriscar e procurar um retorno melhor”, explica.
A planejadora financeira traz como exemplo a taxa Selic. No último ano, ela era de 2% ao ano, “o custo de oportunidade ali é muito baixo, porque eu vou ganhar 2% ao ano ou eu vou arriscar para ganhar outra coisa. É mais comum [nesses casos] os investidores migrarem para uma opção mais arriscada.”
Nesse sentido, se a taxa de juros cresce a 7% a.a., como é esperado pelo Banco Central para o fim de 2021, o custo de oportunidade é mais alto. “O risco de eu não conseguir ter uma rentabilidade melhor do que o custo de oportunidade [que é essa opção mais conservadora que está rendendo 7%] pode ser alto”, conclui.
Portanto, o cálculo do custo de oportunidade de cada ativo varia conforme o valor da taxa básica de juros; ou do CDI, que tem rentabilidade próxima da Selic; ou até mesmo de outras referências, como o Ibovespa para as aplicações de renda variável.
Além disso, é preciso estar atento a mudanças no mercado, sempre avaliando se o custo de determinado ativo ainda compensa quando comparado com a sua referência.
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