A Visa está tomando medidas robustas para conectar moedas digitais à sua rede global de pagamentos eletrônicos, a fim de se preparar para um futuro no qual esses ativos tenham uma participação significativa no patrimônio de seus clientes.
Até o momento, 54 empresas de criptomoedas fizeram parceria com a Visa para permitir gastos nesse modelo de pagamento. Muito desse progresso vem da emissão de cartões de débito usando o programa FastTrack da Visa, que busca integrar empresas de fintech à rede de pagamentos. Nos últimos meses, a empresa lançou mais dois produtos, um cartão de crédito com programa de recompensas em criptomoedas em parceria com a BlockFi e um cartão de débito com a FTX, principal exchange de criptomoedas que arrecadou um recorde de US$ 900 milhões e é avaliada em US$ 18 bilhões.
Outros parceiros de cartões compatíveis com criptomoedas incluem CoinZoom, Coinbase, Zap, Crypto.com, Bitpanda, Fold, Upgrade, Wirex e ZenGo.
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“Percebemos essa oportunidade à medida que as plataformas de criptoativos crescem e os consumidores desejam ter acesso à liquidez desses ativos. A emissão de um cartão Visa pode se tornar uma ponte que desbloqueia esse valor e permite que seja gasto em qualquer comerciante que aceita essa bandeira”, disse Cuy Sheffield, chefe da divisão de cripto da Visa.
Esses projetos vêm ganhando força. Os cartões de débito Visa vinculados a criptomoedas facilitaram mais de US$ 1 bilhão em transações entre os 70 milhões de comerciantes que usam a bandeira em todo o mundo apenas no primeiro semestre de 2021, embora esse montante seja apenas uma pequena da indústria de pagamentos, que movimenta cerca de US$ 1 trilhão. No entanto, o interesse em criptomoedas está aumentando, sugerindo que o mercado tem espaço para crescer, especialmente entre as gerações mais jovens. Sheffield diz que não foi identificada nenhuma categoria de gasto predominante pelos usuários dos cartões de cripto.
Pesquisas sugerem que as gerações mais jovens estão cada vez mais alocando seus patrimônios em criptomoedas e ativos digitais. Isso fica mais claro entre os membros mais ricos desse grupo, que são muito cobiçados por instituições financeiras e redes de cartões.
Uma pesquisa da Michelmores com 501 ‘millennials ricos’ no Reino Unido revelou que um em cada cinco investiu em criptomoedas, e uma pesquisa da CNBC com 750 investidores conduzida entre abril e maio de 2021 relata que quase metade dos millenials milionários têm pelo menos 25% de seus riqueza em criptomoedas.
O interesse da geração Y em criptoativos não se limita ao mundo ocidental – uma pesquisa recente da Mastercard descobriu que jovens da geração Y do Oriente Médio e da África, ouvidos em fevereiro e março de 2021, estão especialmente interessados nesses ativos, com 67% concordando que estão mais abertos ao uso das criptos agora do que em 2020.
Na Ásia, Índia e China respondem cada uma por 33% do total de US$ 9,4 milhões de volume de pagamentos semanais peer-to-peer na região. Em ambos os países, os millenials com aspirações de riqueza e familiarizados com tecnologia estão liderando esse movimento. A pandemia da Covid-19 apenas acelerou essa tendência ao estimular simultaneamente as ambições de acumular patrimônio e o interesse em criptomoedas.
Aproximadamente 70% dos US$ 80,9 bilhões em ativos sob custódia da corretora de varejo Robinhood vieram de usuários com idade entre 18 e 40 anos. Criptomoedas correspondem a US$ 11,5 bilhões dessa parcela, de acordo com documentos apresentados pela empresa à Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC, na sigla em inglês). Nos três primeiros meses deste ano, 17% da receita total da Robinhood veio de transações de criptomoedas – no último trimestre de 2020, eram apenas 4%. Todos esses dados sugerem um alto interesse por ativos em cripto entre os investidores pessoas físicas que têm entre 18 e 40 anos.
Com o boom das contas de corretagem de varejo, o mercado de criptomoedas também atingiu novos patamares. O bitcoin atingiu seu preço mais alto de US$ 64.654 em 14 de abril de 2021, logo após o aniversário de um ano do início da pandemia. O mercado despencou um mês depois, atingindo o fundo do poço em julho, com um valor de US$ 1,2 trilhão para todas as criptomoedas em circulação. Desde então, a criptoeconomia começou a se recuperar. O mercado ultrapassou os US$ 2 trilhões novamente na última quarta-feira, 11 de agosto, pela primeira vez em quase três meses.
Embora os investidores ainda estejam pensando principalmente no longo prazo, chegará um momento em que eles precisarão de liquidez em seus investimentos. Nesse sentido, Sheffield argumenta que mesmo que os proprietários de criptomoedas pretendam HODL (esperar por toda a vida, na sigla em inglês comumente usada no mercado de criptos), chegará o dia em que eles vão querer gastar esses valores.
Quando isso acontecer, Lisa Ellis, sócia e analista sênior da empresa de pesquisa MoffettNathanson, afirma que esses investidores não vão querer passar pelo processo, muitas vezes árduo, de converter seus criptoativos em moedas fiduciárias, como o dólar e o euro, graças à alternativa oferecida pela Visa está fazendo.
“Corretoras como a Fidelity e o banco Merrill Lynch descobriram há muito tempo os benefícios de emitir um cartão vinculado ao saldo da conta de corretagem dos clientes, porque assim eles podem manter o dinheiro investido sem ter que transferi-lo para uma conta bancária tradicional toda hora”, diz Ellis. “É basicamente o mesmo princípio. Isso permite que as pessoas mantenham fundos no que é essencialmente uma conta de corretora, e esses fundos seguem sendo ativos de cripto. E então se eles precisam do dinheiro para gastar, as pessoas têm essa opção.”
É improvável que esses desenvolvimentos parem com a conversão de criptoativos em moedas fiduciárias. Em busca de criar oportunidades para transações de criptomoedas facilitadas, a Visa está encontrando novas maneiras de atrair plataformas cripto que buscam expandir as ofertas a clientes. Entre essas novidades está a possibilidade de as empresas liquidarem pagamentos usando o USDC, uma criptomoeda estável (stablecoin) indexada ao dólar e de rápido crescimento. Atualmente, a capitalização de mercado do USDC é de US$ 27,39 bilhões.
Normalmente, quando as transações são realizadas com um cartão de débito em cripto oferecido por uma empresa como a Crypto.com, essa empresa converte os criptoativos em moedas fiduciárias e, em seguida, envia o montante para a Visa, que então os envia para o banco do comerciante no valor apropriado e na moeda correta. Por meio de uma parceria com o Anchorge, o primeiro banco de ativos digitais licenciado pelo governo federal dos EUA, a Visa agora aceitará o USDC de provedores de cartão como o Crypto.com em vez de moedas fiduciárias.
“O objetivo é tornar mais fácil para as plataformas de criptomoedas emitir cartões Visa e interagir com a Visa, e já estamos vendo uma enorme de demanda de empresas de criptoativos nos procurando. Pensamos que muitas mais terão um caminho para criar um Cartão Visa”, disse Sheffield. “Estamos empenhados para que a empresa seja a rede preferida para carteiras com cripto, e, por isso, queremos ir até elas.”
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