Durante alguns anos, as manhãs de domingo da minha infância foram marcadas por uma rotina. Eu ia, junto com meu pai, até a casa dos pais dele, onde meu avô invariavelmente estava sentado em uma cadeira de balanço, de terno e gravata, nos esperando para ir à missa da igreja Católica. Ele era um velhinho que se movimentava lentamente e reclamava de não poder mais dirigir. Ao chegar da missa, encontrávamos minha avó nos esperando para irmos ao culto da igreja Luterana.
Minha avó sempre voltava apressada para preparar o almoço do meu avô. Alguns anos antes, ele tinha sido diagnosticado com uma séria cardiopatia. Parou de trabalhar e dirigir, e recebeu a recomendação de ter uma alimentação leve e evitar esforço. Minha avó engordava as galinhas no quintal de casa para preparar o almoço preferido do meu avô. Logicamente, não demorou para ele ter o derradeiro e fulminante infarto que lhe tirou a vida. Ainda lembro de pessoas conformadas em seu funeral afirmando que ele já era um homem muito velho. Meu avô faleceu, em 1969, com 59 anos.
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Muita coisa mudou neste último meio século. Uma delas foi o aumento da longevidade, o que não é novidade para ninguém. James Vaupel, um dos maiores demógrafos da atualidade, demonstrou que a expectativa de vida não está aumentando com um prolongamento da velhice, mas é o processo de envelhecimento que está sendo adiado. A velhice está chegando mais tarde porque as pessoas estão ficando novas por mais tempo.
Desde que meu avô morreu, a expectativa de vida do brasileiro aumentou quase 30 anos. Viver mais é muito bom, porém este tempo a mais traz grandes desafios. Certamente uns dos maiores deles são o de se sustentar e o de manter o padrão de vida durante este tempo a mais que ganhamos.
Felizmente, é possível se preparar para esse futuro e formar um pecúlio para a aposentadoria, mesmo sabendo que as necessidades de consumo são tantas outras e os juros, quando baixos, reduzem a expectativa de retorno das nossas reservas.
Aqui estão sete passos para você se preparar para viver mais e melhor:
- Escolha um bom plano de previdência privada, principalmente da parcela dedutível do Imposto de Renda. Para quem paga imposto de renda pelo formulário completo, os PGBLs trazem grande vantagem tributária que dificilmente serão superadas por outras aplicações financeiras. Porém, aqui vai um alerta: existem muitos planos de previdência com retornos muito ruins e, infelizmente, estes planos são os que têm maior número de participantes;
- Vá além do plano de previdência. Crie o hábito de reservar uma parte dos seus rendimentos para fazer bons investimentos. Lembre-se que poupar é gastar menos do que se ganha e investir é fazer essa poupança render. Definitivamente, é preciso entender os conceitos de risco e retorno e aprender a conviver com mercados que apresentem maior volatilidade, como as bolsas de valores;
- Aloque um tempo da sua vida para se educar financeiramente. E volte a atenção também para a educação financeira de seus filhos. Filhos sem educação financeira desestruturam as finanças dos mais regrados pais. Pais que não têm educação financeira serão enormes pesos no futuro de seus filhos;
- Pense longe. Com juros menores e mais tempo de vida é fundamental pensar em planos de aposentadoria que durem mais do que 30 anos. Ao aumentar o tempo de contribuição de 30 para 40 anos o valor dos aportes mensais cai 40%, considerando uma rentabilidade real de 4% ao ano;
- Aposente-se aos poucos. Maior expectativa de vida significa aposentadoria cada vez mais distante. Sendo assim, pense em alternativas para melhorar e incentivar esse tempo extra de trabalho. Pense em uma segunda ou terceira carreira. Em um passado recente, aposentar significava parar de trabalhar. Atualmente, aposentar pode ser simplesmente mudar de trabalho ou reduzir a jornada para poder ter mais tempo para aproveitar a vida;
- Pense em tirar todos os excessos da sua vida, procure torná-la mais simples e mais leve. Lembre-se que uma vida simples é muito diferente de uma vida pobre;
- Evite todos os gastos com bens posicionais. Bens posicionais são aqueles bens que servem para demonstrar o poder econômico e a posição social de seus proprietários frente aos demais. Basicamente, eles servem para hierarquizar a sociedade, mostrar quem tem ou não tem poder econômico. O desejo por posição social, ao contrário de nossas necessidades físicas, pode ser infinito.
Estes sete passos não são, de maneira alguma, os únicos possíveis no campo financeiro. Porém, eles são um bom começo!
Além disso, nunca esqueça de cuidar do seu maior patrimônio, a sua saúde! Lembre-se dela para não converter todo o seu tempo em dinheiro, pois tempo é vida, e de nada adianta ter muito dinheiro se não tiver uma vida saudável.
Jurandir Sell Macedo Jr é doutor em finanças comportamentais, professor universitário e, desde 2003, ministra na Universidade Federal de Santa Catarina a primeira disciplina de finanças pessoais do Brasil. É autor de inúmeros livros sobre educação financeira e tem pós-doutorado em psicologia cognitiva pela Université Libre de Bruxelles. Escreve sobre Finanças 50+ quinzenalmente, às quintas-feiras. Instagram @jurandirsell E-mail [email protected]
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