Na semana passada, a gestora de ativos Blackstone lançou um fundo de investimento de US$ 1 bilhão junto com a firma de direitos autorais Hipgnosis para investir em música. Este é apenas um dos anúncios mais recentes envolvendo casas de investimentos tradicionais, que representam fundos de pensão, fundos soberanos e outros investidores, que passaram a se interessar em direitos musicais como investimentos.
Esse movimento inclui a Round Hill Music, que gastou US$ 342 milhões em 83 catálogos musicais no ano passado, e a Primary Wave, que levantou US$ 800 milhões de firmas como Black Rock e Oaktree Holdings para investir em músicas. Algumas semanas atrás, a Primary Wave também gastou US$ 50 milhões na compra do catálogo do cantor norte-americano Bing Crosby, que faleceu em 1977.
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Outra transação que chamou a atenção do mercado envolveu a Kobalt Music Publishing, que vendeu seu catálogo de 62.000 direitos autorais para a KKR Ventures por US$ 1,1 bilhão no início desta semana. Como a Bloomberg previu no início do ano, os direitos musicais estão se tornando uma das classes de ativos alternativos mais lucrativos de Wall Street.
O setor também vive uma fase de mudanças, como o crescimento das Independent Management Entities (entidades independentes de gestão, em inglês), pessoas jurídicas que captam e monitoram royalties; e da receita de direitos autorais por meio do metaverso (como na plataforma Roblox). A emissão de tokens não fungíveis (NFTs) também aumentou consideravelmente. Em resumo, as formas para se ganhar dinheiro com direitos autorais musicais estão aumentando.
Os direitos musicais são investimentos de capital lucrativos e de longo prazo para aqueles que buscam rendimentos consistentes e de baixa volatilidade. Segundo o direito norte-americano, quando uma canção ou peça musical é protegida por copyright, seus proprietários têm direito aos lucros por 70 anos contados a partir do primeiro ano após a morte do autor. Cada vez que uma música é tocada, não importa onde e quando, aqueles que possuem seus direitos são pagos. Os pagamentos podem ser apenas centavos, mas, somados, representam um retorno interessante, especialmente à medida que o consumo de música continua a aumentar.
Em 2020, por exemplo, o valor de músicas gravadas aumentou 7,4%, com 443 milhões pessoas pagando por licenças de streamings de música. Quanto mais pessoas utilizarem Netflix, Spotify e AppleMusic, por exemplo, mais receita os detentores de direitos autorais ganharão.
É uma pena que nem todos que poderiam se beneficiar com isso estejam prestando atenção a esse movimento do mercado. Enquanto Wall Street e o setor privado estão apostando que as músicas de Bob Dylan e Fleetwood Mac continuarão sendo tocadas, pouco se pensa em como as cidades podem investir – e lucrar com – obras protegidas por direitos autorais.
Embora o foco esteja nos direitos já existentes e em artistas de grande nome, qualquer música escrita em qualquer lugar pode se tornar um sucesso. Portanto, investir na infraestrutura para maximizar as chances de isso acontecer, ao mesmo tempo em que participa dos lucros, caso isso aconteça, é uma boa ideia investimento.
Mas esse pensamento – aumento dos gastos com educação musical, oportunidades de performance e patrocínio de artistas – para criar uma riqueza futura ainda não se consolidou. Em vez disso, há uma dissonância cognitiva segundo a qual presume-se que esses artistas, cujos catálogos valem bilhões, nasceram famosos. Todo mundo vem de algum lugar. E todos utilizam serviços públicos locais quando crianças e adolescentes, sejam eles de educação, saúde, infraestrutura física ou cultura.
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Há precedentes para isso. O Michigan State Teachers Pension Fund (Fundo de Pensão dos Professores Estaduais de Michigan) investiu US$ 1,1 bilhão de seus US$ 72 bilhões na Concord Music, que detém os direitos das obras de Ariana Grande, Paul McCartney e outros artistas.
Mas esta é uma exceção, e não a regra. O que aconteceria se os fundos de pensão municipais, ou outras estruturas de investimento regionais, começassem a investir em compositores locais e suas obras? Uma abordagem de economia circular faria que, se uma música fosse bem-sucedida, parte dos direitos fosse devolvida para a comunidade.
Esse tipo de investimento é bastante comum em outros setores. Prédios, estradas, esgotos, hospitais e outros projetos de infraestrutura são financiados por meio de aumentos de impostos – o valor potencial de um projeto de infraestrutura é medido pelo prazo de 10 ou 20 anos e, a partir desse parâmetro, os valores necessários à construção são liberados. É possível fazer o mesmo com direitos autorais de música. As canções são como estradas; uma vez construídas, seu impacto é imediatamente sentido por aqueles que a utilizam. E se mantido, seu valor permanece consistente. Só podemos construir um número limitado de estradas, mas nunca se tem músicas demais.
Outra opção é emitir títulos, uma área em que o cantor David Bowie foi pioneiro em 1997. Seu esquema de “Títulos Bowie” produziu um retorno anual de 7,9% em 10 anos. Um título de compositores municipais no qual são agrupados percentuais dos direitos de cada música poderia produzir um retorno similar.
Quando as músicas se tornam parte de nossas vidas, investimos nosso tempo nelas – cerca de três a cinco minutos, em média, de nossa atenção. E cada vez que isso acontece, aqueles que possuem a música se beneficiam e continuam se beneficiando por 70 anos. Wall Street percebeu isso, mas esse movimento não se traduziu em investimentos em infraestrutura nas comunidades para fomentar compositores e novas músicas. As cidades e as estruturas de investimento usadas para construir para o futuro não estão aproveitando esta oportunidade. A Blackstone está.
Nunca atingiremos o limite da música. O que tiramos do solo tem limites, mas o que as pessoas criativas extraem de suas cabeças é ilimitado. Uma música não precisa ser apenas uma pensão, ela pode ajudar a manter um fundo de pensão inteiro. É hora de as cidades se atentarem para essa possibilidade.