Hui Ka Yan finalmente revelou seu plano para salvar a chinesa Evergrande. Ele quer que a imobiliária em apuros mude seu foco do mercado imobiliário para a fabricação de veículos elétricos, mas o ceticismo é enorme.
Apesar de nunca ter vendido um veículo, o objetivo de Hui é se afastar do negócio principal da Evergrande e fazer dela uma fabricante de veículos elétricos na próxima década, informou o Securities Times na noite de sexta-feira (22), citando uma reunião interna realizada mais cedo naquele dia.
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A proposta fez as ações da Evergrande New Energy Vehicle Group, unidade de carros elétricos do grupo listada em Hong Kong, subirem 17% na segunda-feira antes de fecharem o dia com ganho de 11,4%. No entanto, a empresa ainda é negociada por apenas uma fração de seu valor de mercado mais alto, de US$ 86,7 bilhões, marca alcançada em meados de abril e que já se desvalorizou 94% desde então.
Os analistas expressaram ceticismo. Ainda não está claro se a Evergrande, agora perto de entrar em colapso sob um passivo de US$ 305 bilhões, tem a experiência ou o capital para competir no cada vez mais lotado segmento de veículos elétricos da China.
“A Evergrande costumava ter uma estratégia de comprar, comprar e comprar”, diz John Zeng, diretor de previsões na consultoria LMC Automotive, com sede em Xangai, referindo-se às aquisições anteriores relacionadas ao setor de carros elétricos da incorporadora. “Sua abordagem era muito simples e pouco sofisticada, e ninguém sabe realmente quanta tecnologia eles dominam.”
Hui tem atualmente um patrimônio líquido de US$ 11,6 bilhões, grande parte dele vindo de dividendos recebidos ao longo dos anos. Ele era um ex-trabalhador de uma fábrica de aço quando fundou a Evergrande em 1997. Embora não tivesse experiência anterior na produção de veículos elétricos quando anunciou sua ambição de fazê-lo, em 2019, desde então ele destinou mais de US$ 1 bilhão em uma série de aquisições que o fizeram ganhar o controle da National Electric Vehicle Sweden AB e uma participação majoritária na fabricante de baterias Shanghai CENAT New Energy.
A empresa disse que seu primeiro modelo elétrico, o Hengchi, seria entregue de sua fábrica em Tianjin no início do próximo ano, de acordo com uma publicação de 11 de outubro no site da Evergrande.
Porém, a unidade de veículos elétricos avisou, há menos de um mês, que estava enfrentando uma “séria escassez de fundos”, de acordo com um documento apresentado ao órgão regulador do mercado de capitais em 24 de setembro. A empresa disse que “suspendeu o pagamento de algumas de suas despesas operacionais e alguns fornecedores suspenderam o fornecimento para projetos”.
A própria Evergrande afirmou na semana passada que “não havia garantia” de que conseguirá cumprir suas obrigações financeiras. A empresa não respondeu aos pedidos de comentários por email.
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Mesmo que Hui consiga começar a produzir veículos elétricos, como ele os venderá é outra questão sem uma resposta clara, diz Yale Zhang, diretor-gerente da consultoria Automotive Foresight, com sede em Xangai.
“Construir um canal de vendas do zero requer muito capital e a Evergrande não parece ter canais próprios”, diz Zhang. “Além disso, seu modelo atual é um carro-conceito que ainda está bastante distante da fabricação e venda em massa.”
Justin Tang, chefe de pesquisa asiática do grupo de consultoria e investimentos United First Partners, com sede em Nova York, diz que o bilionário pode simplesmente estar tentando aumentar a confiança de seus investidores. Hui também se comprometeu, durante a mesma reunião, a entregar os empreendimento inacabados da Evergrande aos compradores dos imóveis, dizendo que a empresa “em princípio” não compraria terras nos próximos dez anos e reduziria a escala de seu negócio de incorporação imobiliária “por uma grande margem”, de acordo com o relatório do Securities Times.
A empresa afirmou, por meio de sua conta pública na rede social WeChat, que seus 40 projetos imobiliários em locais como Guangzhou e Foshan estão progredindo “de maneira harmoniosa e ordenada”. Na semana passada, a Evergrande evitou por pouco um calore ao pagar um bônus de US$ 83,5 milhões pouco antes da expiração de um período de carência de 30 dias.
Mas a Evergrande tem mais pagamentos de juros no futuro – US$ 3,5 bilhões de seus títulos offshore têm vencimento em março. Sem caixa, a empresa tem lutado para levantar fundos vendendo ativos e por outros meios, mas as dúvidas do mercado sobre se ela pode honrar esses compromissos financeiros persistem.
“De onde está vindo o dinheiro?” pergunta Tang, acrescentando que a Evergrande “não tem o tempo a seu favor”, e que a proposta de se salvar fabricando carros elétricos tem “muitas perguntas, mas nenhuma resposta real”.