Os mercados globais ainda não se recuperaram completamente dos efeitos da pandemia da Covid-19, ainda que os investidores estejam mais otimistas. No dia 26 de novembro, o Ibovespa registrou sua queda expressiva mais recente, de 4,7%, quando a nova cepa do coronavírus, Ômicron, foi classificada como variante de preocupação pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
Descoberta na África do Sul e já detectada em mais de 40 países, incluindo o Brasil, a variante trouxe receios por apresentar maiores taxas de transmissão do que as demais. Porém, ainda não há comprovações de que a Ômicron seja mais letal.
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O impacto da nova cepa foi maior nos mercados estrangeiros do que no Brasil. Nos Estados Unidos, o S&P 500 VIX, um dos principais indicadores que medem a volatilidade e o medo dos mercados, teve alta de 23% em apenas um dia. “O grande problema foi a imprevisibilidade. A incerteza de não saber quais seriam os impactos da Ômicron gera venda de ativos de risco”, explica Fred Nobre, analista sênior de investimentos da Warren. Ele considera como ativos de risco ações, ETFs, BDRs e Fundos Imobiliários.
Porém, com o passar dos dias, os mercados se acalmaram com as notícias de que a Ômicron não é mais letal que outras variantes, pode ser detectada por testes PCR e não resiste às doses de reforço da vacinação.
“No primeiro momento, houve um pânico no mercado, mas depois o sentimento de risco diminuiu e as bolsas voltaram ao normal. Hoje, a variante Ômicron não é o principal risco para os investimentos no Brasil”, avalia Nobre. Para ele, os investidores devem se preocupar muito mais com o risco fiscal do país e com as eleições de 2022.
Para investimentos nos Estados Unidos, ele afirma que o crescimento da inflação pode ser mais relevante para os mercados do que a nova variante, caso os estudos continuem comprovando sua letalidade baixa.
Por outro lado, José Giraz, analista financeiro e diretor da corretora Skilling para a América Latina, acredita que a nova cepa pode trazer dificuldades para os países emergentes, como o Brasil, atraírem investimentos estrangeiros.
“Estávamos passando por um momento de otimismo e recuperação forte. Uma nova variante causa receios, incertezas, e faz com que o investidor deixe de investir na renda variável e em países de risco e migre para instrumentos mais seguros, como dólar e ouro”, diz.
Para Ulisses Ruiz de Gamboa, professor de Economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, também alerta para o risco de fuga de capitais. Caso a nova variante traga impactos para a China ou Estados Unidos, a demanda por matérias primas diminui e isso impacta diretamente o mercado brasileiro, diz ele.
“Podemos ter menos entrada de dólar com a queda das exportações, e menos investimento estrangeiro, com a saída [dos investidores] de países emergentes”, explica. “Neste sentido, o preço do dólar também aumenta, com a maior demanda por segurança, e a nossa Bolsa, em consequência, poderia entrar em queda”.
Giraz, da Skilling, afirma que, ainda que a pandemia já seja conhecida, se as fronteiras voltarem a fechar os prejuízos para a economia serão semelhantes aos do último ano. “Já temos a experiência do que aconteceu, mas aos mercados interessa saber sobre o funcionamento do comércio e do turismo. A espera de uma nova onda muda o comportamento dos consumidores”, afirma.
Para aqueles que querem aproveitar o momento para investir ou analisar suas carteiras, Fred Nobre considera que setores de turismo, aviação e commodities ligadas a combustíveis são os que têm maior risco de sofrer com novas variantes. “O anúncio da Ômicron fez o petróleo desabar, assim como as [ações das] empresas aéreas. Essa queda já foi corrigida, mas são setores que podem se manter voláteis”, diz.
A queda no petróleo tem a ver com o receio de diminuição da demanda pela commodity. Caso medidas de isolamento e fechamento de fronteiras retornem, por exemplo, será necessário menos combustível para aviões e transportes. Ainda assim, as companhias de turismo, na visão do analista, são as que mais podem sofrer.
Sobre o dólar, Nobre, da Warren, explica que há um consenso no mercado de que a moeda está cotada acima do câmbio neutro. Ou seja, por receio dos investidores, segue mais valorizada do que o esperado. “As incertezas aqui no Brasil devem manter essa desvalorização [do real] tanto quanto a nova variante. Ainda não temos como dizer se os patamares vão ou não cair”, comenta.