Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) deste ano, que começa hoje (7), o Banco Central (BC) decidirá se reajustará ou não a taxa básica de juros brasileira, a Selic. A decisão, que é acompanhada de perto pelo mercado, pode afetar a Bolsa, o câmbio e as projeções de crescimento econômico para os próximos anos.
Os analistas ouvidos pela Forbes indicam que a autoridade monetária deve elevar a Selic em 150 pontos-base, ao menos. Eles divergem, no entanto, sobre os impactos dessa decisão.
Na visão de Lucas Cintra, especialista da Valor Investimentos, o cenário daqui para frente tem uma certa previsibilidade e inclui outros aumentos da taxa de juros pelo Banco Central, que busca conter a alta da inflação. Ele aposta em uma alta de 150 pontos-percentuais da Selic.
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“A ata do Copom da última reunião já projeta como vai ser o comportamento do BC no ano que vem e no início de 2023; a ideia é de que vão continuar os aumentos. Ainda é um pouco incerto até onde, [a Selic] pode chegar a 11%, que é mais ou menos onde o Banco Central acredita que vá parar. Assim, após analisar a economia no momento, a expectativa é fechar 2021 próximo aos 9%”, afirma Cintra.
Na visão dele, as iniciativas da reunião sozinhas não serão capazes de segurar a alta da inflação, que tem relação direta com o choque de oferta e demanda visto em todo o mundo, o aumento dos preços das commodities e a desvalorização do real.
“O aumento da taxa de juros no Brasil não influencia na alta das commodities e na capacidade produtiva, então a política monetária não vai poder sanar tudo que está impactando a inflação”, diz ele. “Por outro lado, [o reajuste] ajuda na questão da demanda. A explicação é simples: com juros mais altos, o dinheiro no país fica mais caro, o que faz as pessoas gastarem menos e, consequentemente, diminuir a demanda por produtos.”
Ainda que o aumento da taxa Selic não consiga atacar todas as causas da inflação, Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos, lembra que esse é o único instrumento que o Copom tem para tentar conter a alta dos preços, que é a principal preocupação do órgão. Nesse sentido, o crescimento econômico não será o foco do debate de hoje, segundo ele.
Por outro lado, o que será dito pelas autoridades do Copom terá impacto direto nas decisões que a equipe econômica terá que tomar para evitar uma recessão ou um processo de crescimento reduzido em 2022.
Eduardo Levy, diretor de investimentos da Kilima Asset, já vê 2022 como um ano perdido. “Estamos em um cenário que envolve a macroeconomia internacional e uma situação política extremamente conturbada, o que forma a tempestade perfeita”, diz. Para ele, são baixas as chances de a inflação ceder até o fim do ano que vem.
Eduardo Cavalheiro, gestor da Rio Verde Investimentos, alerta para o risco de excessos no reajuste da Selic. Segundo ele, esse é o grande temor do mercado: um aumento muito grande que deprima a economia como um todo.
A dívida do país também deve estar no radar dos economistas após o encontro, já que ela acompanha a taxa de juros e também prejudica o crescimento econômico. Para Lucas Cintra, da Valor, o Banco Central não está muito preocupado com o endividamento. Já Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos, considera que esse é um assunto complicado e que requer atenção.
“A cada um ponto percentual que o juros sobe, o custo da dívida, que já está ruim, sobe junto. Então, se o risco fiscal aumenta, o custo Brasil acompanha, fazendo com que a Bolsa fique menos atraente e prejudicando o crescimento”, diz ele.
Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos, também alerta para o impacto da decisão do Copom no cenário fiscal.
“O sentimento agora é uma continuidade da atenção com a oferta e demanda, além da maior preocupação com o lado fiscal. As expectativas pioraram bastante, as condições de financiamento no mercado também, e o BC sabe que tudo isso reflete numa maior percepção de risco fiscal”, avaliou a economista.
Uma certeza compartilhada pelos analistas ouvidos pela Forbes é a de que, apesar do aumento da taxa de juros, ainda há muito para se fazer em áreas que ficam fora da alçada de atuação do Copom.