Quando o tema são os unicórnios – as startups avaliadas em mais de R$ 1 bilhão (ou mesmo US$ 1 bilhão) –, o Brasil vai bem. No Crunchbase, um dos rankings internacionais que mapeiam o número de unicórnios por país, o ecossistema brasileiro se mantém entre os dez primeiros. E as expectativas para o futuro próximo são positivas.
De acordo com a Associação Brasileira de Startups (ABStartups), em cinco anos, o país deve saltar dos atuais 21 para 100 unicórnios. Em setembro, o SoftBank anunciou o compromisso de investir US$ 3 bilhões em um segundo fundo destinado a empresas de tecnologia na América Latina. No ano de 2019, o banco já havia criado um primeiro fundo de US$ 5 bilhões. Bruno Rondani, CEO da 100 Open Startups, relembra que o Brasil viveu a primeira onda do private equity e agora é beneficiado pelo aquecido mercado de venture capital.
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“Estamos entre os dez do mundo em diversos indicadores, do PIB ao investimento em tecnologia. Nesse contexto, era natural que, em algum momento, isso também se refletisse na valorização de nossas startups”, afirma. “Outro fato importante é o movimento da inovação aberta que se fortaleceu por aqui. Hoje, temos mais de 5 mil empresas que se abrem para startups, e isso cria liquidez de mercado e possibilita a atração de mais investimentos”, conclui Bruno.
Apresentamos a seguir quatro startups que chamaram a atenção da Forbes e de seus parceiros na elaboração da lista das 10 Empresas Mais Inovadoras do Brasil – e que também aparecem no radar dos investidores por seu potencial de valorização e escalabilidade. Uma delas, a Unico, já é classificada como unicórnio, após um aporte de R$ 625 milhões no início de agosto.
Conta Azul: foco no que as PMEs fazem de melhor
Criada em 2012, a startup de software de gestão aparece, há algum tempo, nas principais apostas do ecossistema de inovação como candidata a se tornar o próximo unicórnio brasileiro.
De acordo com Vinicius Roveda, cofundador e CEO da Conta Azul, a pandemia forçou micro e pequenos empreendedores a enfrentarem situações extremas, favorecendo o crescimento desse mercado. “Quem estava preparado, com informações do negócio atualizadas, disponíveis pela internet, tomou decisões rápidas que foram cirúrgicas para manter sua empresa viva. Essa situação extrema acelerou a adoção de ferramentas em nuvem como ERPs. Percebemos um aumento significativo da procura da nossa solução, principalmente em 2021”, explica, destacando que, com a evolução do sistema financeiro e iniciativas como o Open Banking, o cenário é ainda mais promissor.
Digibee: transformação pela integração
Inserida no Cubo Itaú, a startup especializada em tecnologia para integração de sistemas foi fundada em 2017 por Rodrigo Bernardinelli, Vitor Sousa e Peter Kreslins.
Dois anos depois, viveu um momento determinante, com crescimento de seis vezes em número de clientes. Em junho de 2020, captou US$ 5 milhões em uma rodada que contou com o GAA Investments e Laércio Albuquerque, executivo da Cisco. Atualmente, tem 110 funcioná-rios e clientes como Bradesco, Carrefour e Porto Seguro. Em agosto, recebeu um novo aporte, de R$ 13,5 milhões, do Brasil Venture Debt, fundo especializado em crédito para startups.
Investimento atraído principalmente pelos resultados de 2020, quando a Digibee viu sua receita passar de R$ 860 mil para R$ 2 milhões, alta de 246%. “Os gastos das empresas com transformação digital deverão atingir US$ 1,8 trilhão no mundo em 2022, o que, apesar da crise sanitária e econômica que vivemos, nos deixa com uma visão extremamente otimista para o futuro”, diz Bernardinelli, CEO da Digibee.
Olist: muito além do carrinho de compras
O e-commerce vem registrando crescimento recorde nos últimos meses, e isso tem relação direta com o crescimento do Olist, startup que oferece soluções para o comércio eletrônico. Em abril, a empresa recebeu um investimento de US$ 23 milhões em uma rodada conduzida pelo Goldman Sachs Asset Management. Em outros momentos, a Redpoint eventures, SoftBank Latin America Fund, Valor Capital, Velt Partners, FJ Labs e Península também aportaram na startup.
Criado em 2015, e atualmente com 1.200 colaboradores, o Olist oferece aos comerciantes ferramentas para que operem em plataformas como B2W, Via e Mercado Livre. “Nosso crescimento é um indicativo de que o processo de digitalização acelerado provocado pela pandemia mostrou novos horizontes aos lojistas de maneira geral, que se adaptaram rapidamente à nova realidade e seguem realizando investimentos em suas lojas online, mesmo após a retomada do comércio físico”, diz Tiago Dalvi, CEO do Olist.
Unico: menos fricção e mais segurança digital
Com o aporte de R$ 625 milhões liderado pelos fundos da General Atlantic e do SoftBank, a idtech Unico alcançou o status de unicórnio em agosto deste ano. Uma outra rodada havia sido feita 11 meses antes, no valor de R$ 580 milhões. Criada em 2007, a empresa surgiu como Acesso Digital e cresceu oferecendo soluções de segurança digital para 800 clientes, entre eles Magazine Luiza, Pernambucanas, C6Bank, Banco Original e B2W.
O segmento cresceu de forma acelerada, sobretudo pela demanda por serviços de identificação digital consequente da pandemia. A trajetória da Unico, que tem 700 colaboradores, inclui aquisições de outras startups, como Meerkat, Vianuvem e CredDefense.
“A identidade digital já é a base para a ascensão das fintechs, que explodiram nesse período, e da ban-carização de milhões de brasileiros que estavam excluídos. Mas, por outro lado, as fraudes ainda são um problema constante no Brasil e, nesse contexto, a Unico ascendeu”, explica Diego Martins, fundador e CEO.
*Reportagem publicada na edição 91 da Revista Forbes Brasil