A Peloton, empresa de equipamentos e softwares voltados para exercícios em casa, realizou seu IPO na Nasdaq no final de 2019 e se tornou a queridinha dos investidores durante a pandemia, com ações que chegaram a subir aproximadamente 500%.
Em 2020, no período de maior alta dos papéis, os valores passaram de US$ 29 para US$ 162,70 por papel. Esse impulso teve como pano de fundo o fechamento das academias nos piores momentos da pandemia do coronavírus.
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Como não era possível se exercitar fora de casa, os norte-americanos compraram as esteiras e bicicletas da marca, que custam em torno de US$ 2,5 mil (R$ 13,5 mil) cada, além de adquirir o plano de exercícios oferecido pelo aplicativo da companhia.
Diversas celebridades e até mesmo o presidente Joe Biden foram flagradas usando os equipamentos. Na época, os estoques acabaram e o tempo de espera pelos produtos chegou a dez semanas. As ações dispararam e brilharam os olhos dos investidores. Mas a felicidade durou pouco.
Logo no início de 2021, os papéis da Peloton começaram a mostrar uma tendência negativa – o avanço da campanha de vacinação nos EUA e a possível reabertura do comércio, incluindo as academias, desencadearam um movimento de baixa.
O começo das quedas
As ações resistiram por algum tempo, já que muitos clientes ainda preferiam se exercitar em casa. O quadro começou a mudar quando relatos de acidentes com os equipamentos vieram à tona. A esteira da marca causou a morte de uma criança em março do ano passado, além de mais de 40 acidentes.
Em maio, a Peloton anunciou o recall de dois modelos de esteiras – uma decisão que, na visão de analistas, foi tomada tarde demais. Os papéis imediatamente começaram a cair e encerraram o mês com perda de 45% em comparação com a máxima registrada no final de 2020.
Em junho, passado o auge da crise, as ações voltaram a subir junto com a confiança dos investidores na companhia. Um mês depois, a Peloton divulgou seu balanço financeiro, que informou receita muito abaixo do esperado por analistas, por causa do recall e da má fama que o seguiu.
Em quatro meses, o número de usuários do aplicativo da Peloton caíram em 42%, enquanto as ações seguiam em queda.
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Sex And The City
A série norte-americana Sex And The City, que conta a história de vida de quatro amigas que moram em Nova York, lançada em 1998, teve enorme sucesso até o seu final, em 2004.
Em 2021, a produção da série decidiu lançar uma nova temporada, “And Just Like That…”. Os episódios foram alvo de críticas e causaram polêmica entre os fãs e espectadores. Uma delas envolve diretamente a Peloton.
Na trama, o personagem do ator Chris Noth, que é par romântico da protagonista, morre enquanto pedala em uma bicicleta da companhia. As ações, que já sofriam com fortes quedas no ano, acumularam 70% de desvalorização depois que o episódio foi ao ar.
O diretor de marketing da Peloton afirmou que nunca assinou um contrato formal com a HBO, produtora da série, autorizando o uso do equipamento na cena. Mesmo assim, as vendas caíram, e a crise, que já era grande, continuou a crescer.
Para tentar reverter a situação, a empresa decidiu contratar Noth como garoto-propaganda. No anúncio, que foi ar três dias após a estreia da série, o ator aparece dizendo que a vida é curta demais para ficar sem pedalar.
O plano, porém, falhou. Menos de uma semana depois, Noth foi acusado de assédio sexual por duas mulheres. Com a notícia, a Peloton tirou imediatamente a publicidade de circulação e afirmou que não tinha conhecimento dos casos.
A empresa pode se recuperar?
De acordo com a CNBC, a empresa perdeu US$ 2,5 bilhões (R$ 135,6 bilhões) em valor de mercado com todos esses acontecimentos e tem sofrido para tentar recuperar e atrair clientes. Na última quinta-feira (20), as ações da companhia caíram 23,9% e ficaram abaixo do valor de precificação do IPO, atingindo US$ 24,22 por papel.
O jornal norte-americano divulgou na data que a Peloton estaria paralisando a sua produção de equipamentos por tempo indeterminado, mas o CEO da companhia, John Foley, negou as informações na sexta-feira (21). Ele também afirmou que a receita da empresa deve crescer no 2º trimestre.
Os investidores agora aguardam a divulgação do balanço financeiro do 4º trimestre da Peloton, programada para fevereiro, e esperam que a maré de más notícias tenha chegado ao fim.