Em sua famosa carta anual aos acionistas da Berkshire Hathaway, publicada ontem (26), Warren Buffett lamentou a falta de boas oportunidades de investimento para a sua empresa, que comemora lucro recorde mesmo após recomprar uma enorme quantidade de suas próprias ações.
O bilionário de 91 anos expressou grande confiança na Berkshire, dizendo que seguirá investindo em grandes negócios e em ações com foco no longo prazo – sua expertise.
“As pessoas que estão confortáveis com seus investimentos, em média, alcançarão melhores resultados do que aquelas motivadas por manchetes, conversas e promessas em constante mudança”, escreveu Buffett.
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Observando os riscos de mudanças na política mundial, o terrorismo e os ataques cibernéticos, a Berkshire permanece cautelosa. O caixa da companhia atingiu um recorde de US$ 146,7 bilhões (R$ 757,2 bilhões), mesmo depois que recomprou US$ 51,7 bilhões (R$ 266,8) em ações em 2020 e 2021.
“Temos encontrado pouca coisa que nos empolga [no mercado de ações]”, completou Buffett, afirmando que grandes aquisições continuam difíceis de acontecer depois de seis anos sem nenhum negócio desta natureza. Para ele, as oportunidades internas oferecem retornos muito melhores do que as aquisições.
O lucro operacional da companhia aumentou 25%, chegando a uma cifra recorde de US$ 27,46 bilhões (R$ 141,75 bilhões), com mais de um terço vindo da ferrovia BNSF e da Berkshire Hathaway Energy, apesar das interrupções na cadeia de suprimentos em função da Covid-19. No quarto trimestre, o lucro operacional cresceu 45%.
O lucro líquido do ano mais que dobrou alcançando um recorde de US$ 89,8 bilhões (R$ 463,5 bilhões), impulsionado pelos ganhos dos investimentos de Buffett na Apple, no Bank of America, na American Express e em outras ações do vasto portfólio da Berkshire.
“Ele está mostrando a história de uma matriz de crescimento multifacetado”, disse Tom Russo, sócio da Gardner, Russo & Quinn na Pensilvânia, nos Estados Unidos, um investidor de longa data da Berkshire. “A mensagem principal é que a Berkshire encontrou alguns negócios magníficos, então vamos celebrá-los.”
Só a participação na Apple totalizou US$ 161,2 bilhões (R$ 832,1) em 31 de dezembro – mais de cinco vezes os US$ 31,1 bilhões (R$ 160,5) que a Berkshire pagou por ela. Buffett chamou Tim Cook, da Apple, de um presidente-executivo “brilhante”.
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As recompras de ações totalizaram US$ 27 bilhões (R$ 139,37) em 2021, mas desaceleraram em 2022, somando US$ 1,2 bilhão (R$ 6,2 bilhões). O preço das ações da Berkshire está 2% abaixo de seu valor recorde.
“A paciência e a disciplina de Buffett permitiram que ele fizesse o que é essencialmente a maior aquisição da história da Berkshire: suas próprias ações, com um desconto substancial em relação ao preço de mercado atual”, disse Jim Shanahan, analista da Edward Jones & Co.
“Quatro gigantes”
Em sua carta, Buffett elogiou o que chamou de “quatro gigantes” da Berkshire, incluindo suas enormes operações no mercado de seguros, a BNSF, a Berkshire Hathaway Energy e a participação na Apple.
“Nosso objetivo é ter investimentos significativos em negócios que deem vantagens econômicas duráveis e tenham um presidente-executivo de primeira classe”, escreveu Buffett.
Ele também disse que a Berkshire favorece um “tipo de lucro antiquado”, incluindo os US$ 6 bilhões (R$ 30,9 bilhões) no ano passado oriundos da ferrovia BNSF, criticando empresas que podem manipular seus resultados para aumentar os preços de suas ações.
Buffett disse que a enorme participação em dinheiro na Berkshire “não é uma expressão de patriotismo”, mas sim um escudo contra perdas em suas vastas operações de seguros, incluindo o negócio de seguros contra grandes catástrofes.
O Tio Sam se beneficia do tamanho da Berkshire, disse Buffett, coletando US$ 3,3 bilhões (R$ 17 bilhões) em imposto de renda da empresa em 2021, dos mais de US$ 402 bilhões (mais de R$ 2 trilhões) em receitas totais de imposto de renda corporativo recebidos pelo Tesouro dos EUA.