A inflação na zona do euro subiu para nova máxima recorde no mês passado, frustrando expectativas de grande desaceleração e pressionando o Banco Central Europeu a finalmente admitir que as pressões de preços não são tão benignas e temporárias como há muito previsto.
A inflação nos 19 países da zona do euro acelerou a 5,1% em janeiro, ante 5% em dezembro, bem acima das expectativas de desaceleração a 4,4% em pesquisa da Reuters com analistas, mostraram dados da agência de estatísticas da União Europeia, Eurostat, hoje (2).
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A leitura reflete a alta nos preços da energia conforme esperado, mas os custos de alimentos não processados também saltaram mais de 5%, uma potencial fonte de pressão política sobre o BCE, conforme os preços de combustíveis e alimentos afetam o bolso dos eleitores.
A inflação está agora em um patamar acima do dobro da meta de 2% do BCE.
O banco central, que terá reunião de política monetária amanhã (3), minimiza os dados que mostram um aumento nos preços há meses, argumentando que fatores temporários estão por trás da alta e que a inflação vai diminuir sozinha em breve.
Mas o histórico do BCE em prever a inflação é iregular e o banco foi forçado várias vezes no ano passado a aumentar com força suas projeções.
“Eles precisam reconhecer que há riscos de alta e que o trajeto (da inflação) que eles traçaram em dezembro parece muito benigno”, disse Dirk Schumacher, economista da zona do euro no banco de investimento francês Natixis. “As pressões de preços subjacentes permanecem altas e colocam o BCE em uma posição desconfortável.”
Enquanto o Federal Reserve dos Estados Unidos abandonou a narrativa de que a inflação é “transitória”, o BCE manteve essa avaliação, argumentando que o crescimento salarial, uma pré-condição para a inflação sustentada, ainda é moderada e o crescimento dos preços é fraco.
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Embora o núcleo da inflação tenha desacelerado, ele permanece acima da meta do BCE e também superou as expectativas.
A inflação excluindo alimentos e combustíveis, observada de perto pelo BCE, desacelerou para 2,5%, de 2,7%, enquanto uma medida mais restrita que também exclui produtos de álcool e tabaco desacelerou para 2,3%, de 2,6%. Ambas as leituras ficaram bem acima das expectativas.
A inflação alta é o motivo pelo qual os mercados esperam aumentos de 30 pontos-base nos juros até o fim do ano, apesar da insistência do BCE de que qualquer mudança na taxa é “muito improvável”.
As autoridades do BCE, que se reunirão amanhã, quase certamente deixarão a política monetária inalterada após ampliarem o estímulo em dezembro por meio de um pacote complexo.
Embora a presidente do BCE, Christine Lagarde, reconheça que a inflação corre o risco de exceder as projeções, ela também deve rebater perspectivas crescentes para alta dos juros, repetindo que quaisquer mudanças na taxa neste ano são improváveis.