A inflação ao consumidor no Brasil iniciou 2022 em desaceleração mas com a maior taxa para o mês de janeiro em seis anos, permanecendo acima de 10% no acumulado em 12 meses e mantendo a pressão sobre o Banco Central.
O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) subiu 0,54% em janeiro, depois de avanço de 0,73% em dezembro, resultado em linha com a expectativa em pesquisa da Reuters de alta de 0,55%.
No entanto, a taxa foi a mais elevada para um primeiro mês do ano desde 2016, quando foi de 1,27%.
No acumulado em 12 meses até janeiro, a alta do IPCA acelerou para 10,38%, depois de ter encerrado 2021 com taxa de 10,06%, bem acima do teto da meta, mostraram os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) hoje.
O resultado também ficou em linha com a previsão em pesquisa da Reuters, de alta de 10,39%, e permanece bem acima do teto do objetivo para este ano, que é de 3,5%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
“A alta de preços em janeiro de 2022 mostra uma inflação que está mais disseminada, embora tenha sido menor que em dezembro. Um aumento dos custos como combustíveis e energia, dos custos de produção e prestação de serviços, aluguel mais elevado, tudo isso chega ao consumidor final”, disse o analista do IBGE André Filipe Almeida.
Em janeiro, a maior pressão foi exercida pelo avanço de 1,11% de Alimentação e Bebidas, com a alimentação no domicílio subindo 1,44%, segundo o IBGE. Os principais destaques foram as carnes (1,32%) e as frutas (3,40%), enquanto os preços do café moído subiram pelo 11º mês seguido, a uma taxa de 4,75% em janeiro.
“Janeiro foi um mês marcado por chuvas fortes e isso prejudica culturas e lavouras. No caso do café, houve impacto do clima, estoques menores e expectativa de quebra de safra 2022/2023”, disse Almeida.
O que impediu uma alta mais acentuada do IPCA foram as quedas de 18,35% das passagens aéreas e de 1,23% dos combustíveis, o que levou o grupo Transportes a uma deflação de 0,11% no mês, depois de alta de 0,58% em dezembro.
Os custos da gasolina caíram 1,14% em janeiro, enquanto os do etanol recuaram 2,84% e os do gás veicular tiveram queda de 0,86%. O óleo diesel foi o único a subir em janeiro, com alta de 2,38%.
“As passagens sobem mais no fim do ano e em janeiro elas sazonalmente caem mais. No caso dos combustíveis, especialmente a gasolina, que tem maior peso no IPCA, houve queda promovida pela Petrobras em dezembro e uma alta em janeiro. A queda já chegou ao consumidor e a alta não completou o ciclo”, explicou Almeida.
A pressão inflacionária levou o Banco Central a aumentar a taxa básica de juros Selic na semana passada em 1,5 ponto percentual pela terceira vez consecutiva, a 10,75% ao ano, mas indicando redução no ritmo de ajuste na próxima reunião de política monetária.
Na véspera, o BC demonstrou preocupação com a adoção de políticas fiscais que buscam controlar a inflação no curto prazo, ressaltando que as medidas podem gerar efeito contrário, de alta nos preços.
A pesquisa Focus realizada com uma centena de economistas mostra que a expectativa do mercado é de que a Selic feche este ano a 11,75%, com a inflação em 5,44%.