O dólar recuou pelo sexto pregão seguido ante o real e atingiu o menor patamar em dois anos, com o Brasil continuando a se beneficiar da disparada nos preços das commodities e a atrair recursos de investidores que buscam rentabilidade.
A divisa norte-americana à vista perdeu 1,44%, e fechou a R$ 4,8446 na venda, menor valor para encerramento desde 13 de março de 2020 ( quando fechou a R$4,8128), numa sessão em que a moeda brasileira liderou os ganhos entre seus pares globais.
Perdendo terreno pelo sexto dia consecutivo, o dólar marcou sua maior sequência de desvalorizações diárias desde uma série de sete baixas que terminou em 22 de abril de 2021, tendo acumulado uma queda de 6,1% no período.
Os contratos futuros de produtos como petróleo e commodities agrícolas voltaram a avançar hoje (23), dando sequência à tendência desencadeada pela guerra na Ucrânia, que levantou temores generalizados de disrupção da oferta global.
Nesse contexto, a América Latina “de modo geral está muito bem estruturada para atender à demanda global em decorrência da falta de oferta gerada pelo conflito”, o que tem impulsionado várias divisas regionais –como pesos colombiano e chileno– neste início de ano, disse à Reuters Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital.
O Brasil tem surgido como opção especialmente atraente para agentes estrangeiros, dizem especialistas, uma vez que o patamar elevado da taxa Selic torna investimentos locais atrelados aos juros básicos mais rentáveis.
Juros em alta
A taxa está atualmente em 11,75%, depois que o Banco Central iniciou, há um ano, um ciclo de aperto monetário que tirou os custos dos empréstimos de uma mínima histórica de 2%. Ontem (23), na ata da última reunião do Copom, o Banco Central sinalizou que pode encerrar a era de aumentos de juros em maio, com ajuste de 1 ponto percentual, embora tenha mostrado disposição de endurecer sua postura caso o cenário evolua desfavoravelmente.
A desvalorização sucessiva do dólar vem mesmo em meio a acenos de autoridades do banco central norte-americano a um endurecimento de seu recém-iniciado ciclo de aumento de juros. Depois de na semana passada o Federal Reserve elevar os custos dos empréstimos em 0,25 ponto percentual, algumas autoridades disseram que podem optar por ajuste de 0,5 ponto já em maio, caso a inflação assim exija.
Da mesma forma que uma Selic mais alta no Brasil tende a beneficiar o real, aumentos de juros nos EUA são vistos como fator de apoio para o dólar, já que elevam a atratividade da extremamente segura dívida norte-americana.
Mas o real, por ora, parece imune aos ruídos envolvendo o Fed. Argenta disse que, mesmo nos cenários mais agressivos para a trajetória de alta dos juros norte-americanos, os custos dos empréstimos da maior economia do mundo encerrariam o ano bem abaixo dos patamares oferecidos no Brasil.
Em projeções econômicas divulgadas na semana passada, as autoridades do Fed previram que os juros acabarão o ano em 1,9%. Desde então, alguns formuladores de política monetária estimaram taxas mais altas, com James Bullard, do Fed de St. Louis, defendendo patamar acima de 3%. “No Brasil, a gente está oferecendo taxa de dois dígitos”, ponderou Argenta.
Dólar em queda
Em 2022, o dólar acumula queda de mais de 13% frente à moeda brasileira, o que deixa o real com a melhor performance global acumulada até o momento.
De acordo com Argenta, é difícil prever um piso para a tendência de desvalorização do dólar, já que a moeda vem cruzando suportes importantes –5,00 reais, 4,90 reais, 4,85 reais– de forma sucessiva.
“Não conseguimos identificar qual seria um nível de reversão”, disse Argenta. “Contra fluxos não há argumentos.”