A notícia de que o presidente-executivo da Tesla, Elon Musk, vai assumir um assento no conselho de administração do Twitter deixou alguns funcionários da rede social preocupados sobre as chances da empresa conseguir moderar conteúdo, disseram integrantes da companhia à Reuters.
Poucas horas após a revelação nesta semana de que Musk adquiriu ações suficientes para se tornar o principal acionista do Twitter, políticos conservadores começaram a inundar as mídias sociais com pedidos pelo retorno de Donald Trump à plataforma. Trump foi banido do Facebook e do Twitter após o ataque de 6 de janeiro do ano passado contra o Capitólio. O ataque foi promovido por simpatizantes do ex-presidente norte-americano.
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“Agora que @ElonMusk é o maior acionista do Twitter é hora de levantar a censura política. E trazer de volta Trump!”, escreveu a congressista republicana Lauren Boebert, na segunda-feira (4).
Apesar do Twitter ter reiterado nesta semana que seu conselho de administração não toma decisões políticas, quatro funcionários da plataforma que conversaram com a Reuters disseram estar preocupados com a capacidade de Musk de influenciar as decisões da empresa sobre usuários abusivos e conteúdo prejudicial.
Os funcionários, que pediram para não serem identificados por medo de represálias, apontam para o histórico de Musk de usar o Twitter para atacar críticos. Em 2018, Musk acusou um mergulhador britânico que ajudava no resgate de crianças presas em uma caverna na Tailândia de ser um pedófilo. O bilionário acabou vencendo um processo de difamação aberto pelo mergulhador contra ele em 2019.
“Acho difícil acreditar que (o conselho) não tenha influência”, disse um funcionário. “Se não for esse o caso, por que Elon iria querer um assento no conselho?”
Mas outros funcionários com quem a Reuters conversou disseram que o envolvimento de Musk pode ajudar a acelerar o ritmo de lançamentos de novos recursos e produtos, além de fornecer uma nova perspectiva como usuário ativo do Twitter.
Representantes da Tesla e de Musk não comentaram o assunto.
O conselho de administração do Twitter aparece com destaque nas discussões dentro da rede social, mais do que em outras empresas de tecnologia, disse um funcionário. Isso porque, diferentemente da Meta, onde o fundador e presidente-executivo, Mark Zuckerberg, controla a empresa por meio de uma estrutura de ações de duas classes, o Twitter tem apenas uma única classe de ações, tornando a companhia mais vulnerável a ativistas como Musk. As equipes do Twitter geralmente consideram como comunicar uma estratégia ou decisão ao conselho, por exemplo, disse o funcionário.
Hoje (7), Musk publicou uma imagem de 2018 dele fumando maconha no podcast de Joe Rogan no Spotify, com o texto: “A próxima reunião do conselho de administração do Twitter vai ser iluminada.”
Um funcionário familiarizado com as operações da empresa disse que não há planos atuais para reintegrar a conta de Trump. Um porta-voz do Twitter disse que não há planos de reverter nenhuma decisão política.
Mas um analista automotivo veterano que acompanha o estilo operacional de Musk na Tesla disse que uma mudança nessa postura do Twitter pode ser apenas uma questão de tempo.
“Se Donald Trump fosse mesmo rico, ele teria feito a mesma coisa, mas ele não podia bancar. Então, Elon está fazendo o que Trump gostaria que fosse feito”, disse Sam Abuelsamid, da Guidehouse Insights.
“Eu não ficaria surpreso se o Twitter recuperar a conta de Trump agora que Elon detém quase 10% da companhia”, disse Abuelsamid.
A longo prazo, os funcionários disseram que o envolvimento de Musk pode mudar a cultura corporativa do Twitter, que eles dizem que atualmente valoriza a diversidade. Musk foi altamente criticado por publicar memes que fazem piada sobre transgêneros e esforços de combate à Covid-19. Ele também chegou a comparar nestes memes alguns líderes mundiais a Hitler.
Vários funcionários do Twitter estão alarmados com a calorosa recepção dada a Musk pelo presidente-executivo, Parag Agrawal, e pelo co-fundador Jack Dorsey, e já começaram a procurar vagas de trabalho em outras companhias.
“Algumas pessoas estão arrumando seus currículos”, disse uma fonte. “Não quero trabalhar para alguém como ele (Musk)”, afirmou.