Depois de duas semanas confusas e cheias de drama lutando para encontrar um nome para o cargo mais alto da estatal Petrobras, o governo do Brasil recorreu esta semana ao tecnocrata José Mauro Coelho, e os investidores saudaram a decisão.
O histórico de Coelho indica que ele não está interessado em sacrificar os lucros da Petrobras para manter os preços dos combustíveis baixos para os motoristas brasileiros, ou para atingir outros objetivos políticos.
Ele foi escolhido ontem (6), e as ações preferenciais da Petrobras subiram 3% na manhã de hoje (7).
Nesta semana, o consultor de energia Adriano Pires desistiu da indicação do governo para assumir o comando da Petrobras, logo após o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, recusar uma indicação para presidir o Conselho de Administração da empresa.
Coelho, cuja nomeação como CEO precisa ser confirmada em uma assembleia de acionistas na próxima semana, é relativamente desconhecido em comparação com os dois.
Mas a posição de Coelho sobre os preços dos combustíveis deve aliviar as preocupações dos investidores, já que o presidente Jair Bolsonaro está sob pressão para controlar os preços das bombas antes de uma disputa eleitoral acalorada em outubro.
Esses pontos de vista se alinham amplamente com o consultor de petróleo e gás Pires, que retirou seu nome de consideração depois que surgiram acusações de conflitos de interesse com clientes de longa data.
No final do mês passado, Bolsonaro decidiu pela destituição do atual presidente-executivo Joaquim Silva e Luna em meio a tensões com o aumento dos preços dos combustíveis.
O governo abordou Landim e Décio Oddone, CEO da petrolífera independente Enauta Participações SA, disseram duas fontes com conhecimento do assunto, embora ambos tenham recusado.
Coelho, pesquisador de longa data de estatal de pesquisa energética do Brasil, agora atua como presidente do conselho da PPSA (Pré-Sal Petróleo SA), empresa que administra os interesses do governo na produção da importante região petrolífera.
Por um ano e meio até 2021, ele também atuou como secretário de Petróleo, Gás e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia do Brasil.
Coelho e PPSA não responderam imediatamente aos pedidos de entrevista.
Em entrevista em outubro na televisão estatal, ele defendeu a atual política favorável ao mercado da Petrobras precificando seu combustível de acordo com os valores globais, dizendo que isso era necessário para evitar a escassez no país, que depende de importações.
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“Temos que ter preços no mercado interno relacionados aos preços de importação”, disse Coelho na época.
Em outra entrevista que Coelho concedeu ao receber um prêmio em meados de 2021, ele defendeu que a Petrobras mantenha o foco na produção de petróleo em águas profundas, de longe a divisão mais lucrativa da empresa.
Analistas e investidores ficaram animados ao ver o governo se contentar com um nome técnico. Ainda assim, eles alertaram que o risco de interferência política continua significativo, principalmente se os preços do petróleo continuarem altos e os eleitores brasileiros sofrerem nos postos de gasolina.
Embora esperemos uma reação positiva, escreveram analistas do Itaú BBA aos clientes ontem (6), “observamos que a empresa pode continuar enfrentando desafios recorrentes para garantir a convergência de preços em direção à paridade internacional”.
Fred Nobre, economista e líder da área de análise da corretora e gestora de patrimônio Warren, destacou que Coelho é “um quadro bastante técnico“.
“Acredito que o mercado absorveu bem essa nomeação. Agora, apesar de ser um nome técnico, foi um gestor relativamente mediano nos cargos que ele ocupou previamente, sem nenhuma grande conquista expressiva”, disse.
Nobre também disse o mesmo do indicado para presidência do conselho, Marcio Andrade Weber.
“A visão geral é que nenhum dos dois nomes têm conquistas expressivas no setor, mas diante do contexto e considerando que a gente está próximo de eleições, são dois nomes bons para tapar o buraco que a gente está vivendo no momento.”
Weber é engenheiro civil com especialização em engenharia de petróleo pela Petrobras, onde ingressou em 1976 e trabalhou por 16 anos.
O analista ressaltou que o governo precisava ter nomes antes da assembleia, no próximo dia 13.