André Duek tinha 13 anos quando começou a trabalhar na empresa de vestuário da família. Na época, a Triton, que se tornaria uma das maiores marcas brasileiras do setor, tinha apenas três unidades. Hoje, 35 anos após o primeiro cargo na empresa, Duek não deixou o mundo dos negócios, mas optou por uma caminho muito diferente: motorhomes.
A mudança, apesar de drástica, está conectada com um novo propósito de vida. O empresário, que ficou 21 anos trabalhando dentro da marca familiar, começou como office boy em 1987 e subiu pouco a pouco na escada corporativa nos 18 anos seguintes.
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“Os membros da família trabalhavam basicamente nas áreas de vendas, marketing e estilo, mas ninguém queria cuidar das finanças. Por isso os meus tios, Tufi e Isaac Duek, que eram os donos da marca, me orientaram durante esses anos para que eu trilhasse esse caminho”, conta.
A formação escolhida, de administração, foi pensada na liderança financeira da marca, posto conquistado quando Duek tinha 30 anos e seu tio Isaac decidiu se aposentar. Sua primeira iniciativa na direção da Forum e Triton, em 2003, foi profissionalizar a empresa, focando em estruturar uma abertura de capital para 2010.
Em 2006, a empresa já estava formatada para começar o processo de IPO, mas não foi isso que aconteceu. “Em uma das conversas com o banco de investimentos que iria liderar a nossa abertura, eles nos perguntaram se já tínhamos pensado em vender as marcas”, conta Duek.
A família nunca tinha considerado essa possibilidade, mas o momento do mercado estava muito propício para fusões e aquisições naquele ano, segundo o empresário.
“Nós refizemos todo o processo para conseguir avaliar o valor da empresa. Recebemos em torno de dez propostas de possíveis compradores, mas tomamos muito cuidado na hora da escolha, já que nossa ideia era manter o legado da família e não apenas ganhar dinheiro.”
O comprador escolhido foi o grupo AMC Têxtil, que era dono de diversas marcas conhecidas do setor, como a Colcci. Na época, a operação movimentou cerca de R$ 250 milhões, uma das maiores envolvendo empresas brasileiras até então.
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Com a venda da empresa, Duek se aventurou em outras empreitadas. Criou uma empresa de investimentos, abriu três restaurantes, geriu a marca da sobrinha, Carina Duek, e criou uma empresa de marketing esportivo.
Ele se dividiu entre as diversas funções de 2008 até 2012, enquanto seu tio Tufi cumpria as cláusulas de não concorrência após a venda da Forum e da Triton.
Naquele ano, Duek precisou tomar uma decisão que mudaria o rumo de sua vida. Ele se mudou para os Estados Unidos com a sua família e fundou a Duek Realty, em sociedade com a corretora de imóveis Carolina Lara e com Tufi, que tinha 10% do negócio.
“Acho que minha missão na moda foi cumprida. Vivi uma história linda de uma família que começou do zero e construiu um dos maiores conglomerados de moda do Brasil. Eu tenho muito orgulho de ter participado de tudo isso. Mas eu queria seguir o meu caminho, o caminho do André”, explica ele sobre a mudança de rumo.
O empresário, que já investia em imóveis no exterior, conta que usou o conhecimento adquirido para levantar a corretora. Ele conta, no entanto, que criar uma companhia do zero, sem o peso do nome e fora do seu país natal foi um enorme desafio, mas trouxe resultados.
“Em exatos dez anos de vida, fizemos transações de 2 mil imóveis, incluindo aluguel e venda, acumulando aproximadamente US$ 500 milhões”, diz.
Duek afirma que o modelo aplicado em seu negócio foi o que fez a empresa ter destaque. Com muitos clientes brasileiros, a corretora de imóveis fornecia assistência gratuita àqueles que se mudavam para os Estados Unidos, auxiliando desde o processo de ida para o país, até o pedido para o green card e a compra dos imóveis.
“Eu indicava o meu advogado, meu contador, o meu banco, a escola que minhas filhas frequentavam. Acredito que isso fez as pessoas ganharem confiança no nosso serviço”, diz Duek.
Em 2019, a One Sotheby’s, empresa mundial de compra e venda de imóveis, fez uma proposta para adquirir a corretora de Duek. “Nós vendemos com um contrato de sete anos e ganhamos a função de criar e gerenciar um grupo de corretores brasileiros aqui na Flórida, que recebeu o nome de Duek Lara Group”, comenta o empresário.
De acordo com ele, a expectativa é bater US$ 1 bilhão em vendas até 2025 e continuar crescendo a comunidade de corretores brasileiros, que ainda não é grande nos Estados Unidos.
“Dos 120 mil profissionais do setor da Flórida, 1.000 são brasileiros. Logicamente não vamos querer os mil na nossa equipe, mas talvez 40 ou 50”, explica.
Pouco antes da venda da corretora, em 2015, outro negócio brilhou os olhos de Duek, o turismo com motorhomes. A vontade de viajar em um desses veículos surgiu muito antes de o empresário perceber que poderia ser um negócio.
“Eu estava procurando um negócio para montar e calhou de um amigo meu, que morava na Suíça, vir para os Estados Unidos. Eu sugeri de montarmos o Duek Motorhomes, já que tinha uma rede de conhecidos e conseguiria investidores, mas falei que não poderia tocar a operação”, conta.
Eles começaram comprando um motorhome de alto padrão para entender se o negócio funcionaria. Depois de obterem bons resultados, o par teve a ideia de sublocar o restante da frota.
Segundo Duek, muitas pessoas nos Estados Unidos compram esses “trailers” mas não os utilizam todo o ano. Além de o proprietário receber os aluguéis mensais, a empresa também se ocupa da manutenção.
Em 2020, pouco antes da pandemia, os dois empresários venderam 22% da empresa. O valor captado foi destinado aos planos de expansão – a empresa abrirá uma filial na Califórnia.
Além disso, Duek também está estruturando uma plataforma para conectar mil agências de turismo brasileiras ao serviço.