Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) – O dólar oscilava em linha com a movimentação do mercado de câmbio internacional frente ao real nesta quarta-feira, após dados de preços ao consumidor dos Estados Unidos terem superado as expectativas do mercado, o que pode alimentar apostas num endurecimento ainda maior da política monetária do Federal Reserve.
O índice de preços ao consumidor subiu 0,3% no mês passado, taxa mais baixa desde agosto passado, disse o Departamento do Trabalho dos EUA. Isso representou forte desaceleração em relação ao aumento de 1,2% registrado em março, que foi o maior desde setembro de 2005, mas ainda ficou acima da previsão de taxa de 0,2% em pesquisa da Reuters.
Nos 12 meses até abril, os preços ao consumidor aumentaram 8,3%, de 8,5% em março. Economistas consultados pela Reuters projetavam avanço de 8,1% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Às 10:46 (de Brasília), o dólar à vista recuava 0,56%, a 5,1053 reais na venda. Pouco depois da divulgação dos números de inflação norte-americana, às 9h30, a moeda chegou a saltar 0,74%, a 5,1723 reais.
Na B3, às 10:46 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,56%, a 5,1360 reais.
O dólar também chegou a recuperar fôlego no exterior após a publicação da leitura de inflação, embora o movimento tenha sido passageiro. Seu índice frente a uma cesta de rivais fortes, que estava em queda de cerca de 0,3% pouco antes dos dados, passou a subir na esteira dos números, aproximando-se de picos em duas décadas atingidos no início desta semana. Às 10:46 (de Brasília), no entanto, o índice caía 0,48%, a 103,440.
Várias divisas emergentes pares do real também devolviam perdas registradas contra o dólar logo após a leitura de inflação, como pesos mexicano e chileno e rand sul-africano.
Segundo Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, a leitura de março do índice de preços ao consumidor dos EUA “reforça a parte do mercado que vai pedir uma aceleração para 0,75 (ponto percentual) no ritmo de alta de juros” do banco central norte-americano, o Federal Reserve, apesar das tentativas recentes da autoridade monetária de ancorar as expectativa num ajuste de 0,5 ponto, mesmo ritmo adotado em seu encontro de maio, que foi o mais forte em 22 anos.
Custos de empréstimos mais altos na maior economia do mundo tendem a tornar seu mercado de renda fixa –bem mais seguro que o de países emergentes– mais atraente, o que beneficia o dólar. Nesta quarta-feira, os rendimentos do título soberano norte-americano de dez anos, referência para investimentos, subiam a mais de 3%, devolvendo perdas registradas antes dos dados de inflação dos EUA.
O aperto da política monetária pelo Fed também tende a desacelerar a atividade econômica, o que tem elevado as preocupações do mercado sobre o crescimento global, que já tem sido ameaçado pelas consequências da guerra na Ucrânia e por lockdowns de combate à Covid-19 na China. Isso tem prejudicado o apetite de investidores por risco, elevando a demanda por ativos seguros, como o dólar.
Além da inflação norte-americana, agentes do mercado também digeriam nesta quarta-feira a notícia de que o IPCA subiu 1,06% em abril, acumulando ganho de 12,13% em 12 meses, segundo dados do IBGE. A taxa foi a mais alta para abril em 26 anos. A expectativa em pesquisa da Reuters era de alta de 1,00% no mês e 12,07% em 12 meses.
“Embora o resultado de hoje tenha ficado ligeiramente acima do esperado, confirmando a expectativa de novo ajuste na Selic na próxima reunião do Copom, o que deveria ser positivo para o câmbio, … a expectativa de mais aumento de juros nos EUA acaba se sobressaindo aos dados do mercado local”, o que explica a recuperação do dólar vista mais cedo nesta manhã, disse o Banco Ourinvest em postagem no Twitter.
O dólar spot fechou a última sessão em queda de 0,41%, a 5,1343 reais na venda.