Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar caiu acentuadamente contra o real nesta quinta-feira, acompanhando movimento internacional de arrefecimento da divisa norte-americana, embora alguns participantes do mercado continuassem alertando para o ambiente, no geral, menos favorável a ativos arriscados.
Depois de chegar a perder 2,03% na mínima do dia, a 4,8800 reais, a moeda norte-americana à vista fechou em queda de 1,24%, a 4,9194 reais, seu menor patamar para um encerramento desde o dia 4 deste mês (4,9006). Com esse desempenho, o dólar spot ficava a caminho de registrar queda semanal de cerca de 2,7%.
A divisa fechou bem perto de sua média móvel linear de 50 dias, de 4,8947 reais –nível técnico importante que, quando cruzado, pode desencadear ordens automáticas de venda do dólar, derrubando ainda mais seu preço.
O recuo desta sessão esteve alinhado ao comportamento do dólar no exterior, onde seu índice contra uma cesta de rivais fortes chegou a perder mais de 1%, indo a seu menor patamar em duas semanas.
Isso deu gás às divisas emergentes ou ligadas às commodities, com rand sul-africano, dólar australiano e peso chileno, moedas cujo movimento o real tende a acompanhar, subindo entre 1,2% e 2,0% nesta tarde.
Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho, disse à Reuters que houve uma disparidade entre os mercados de câmbio e de ações nesta sessão: o apetite por risco reinou entre as moedas, tendência que as principais bolsas não acompanharam. [.NPT] [.EUPT]
Segundo ele, isso aconteceu porque, enquanto os mercados de câmbio focaram expectativas de que a China estimulará a economia e relaxará seus duros lockdowns de combate à Covid-19, as ações refletiram resultados corporativos decepcionantes de grandes empresas de varejo dos Estados Unidos.
Rostagno afirmou que dados fracos sobre a economia norte-americana –mostrando aumento nos pedidos semanais de auxílio-desemprego e desaceleração num índice de atividade manufatureira do Fed de Filadélfia– ajudaram a alimentar as perdas do dólar nesta sessão, uma vez que “uma atividade mais fraca do que o esperado pode eventualmente ajudar o banco central americano na tarefa de controlar a inflação”.
Embora caia 11,7% no acumulado de 2022, o dólar ainda está 6,8% acima da mínima de encerramento de 2022, de 4,6075 reais, atingida no final de abril, e alguns participantes do mercado enxergam pouco espaço para a moeda revisitar esses patamares em meio ao cenário global cada vez mais arisco.
Estrategistas do Citi notaram em relatório desta quinta-feira que “o câmbio latino-americano enfraqueceu ao longo do último mês, à medida que a aversão ao risco aumenta e o ‘carry’ se torna menos favorável nesses ambientes de aversão a risco”.
O termo “carry” faz referência a estratégias que lucram com diferenciais de juros entre duas economias. Elas impulsionaram o real no primeiro trimestre deste ano –período em que o dólar caiu 14,5%–, quando um longo ciclo de aperto levou a taxa Selic a dois dígitos, num momento em que o banco central dos Estados Unidos estava apenas discutindo começar a endurecer sua política monetária.
Desde então, o Federal Reserve já começou a subir os juros, a ritmo mais agressivo que o inicialmente previsto pelos mercados, o que tem despertado temores de desaceleração do crescimento global, uma vez que condições mais apertadas tendem a frear o consumo.
Nesse contexto, o Citi piorou sua expectativa para a performance do real no curto prazo, vendo a divisa em 5,15 por dólar nos próximos três meses, de 4,70 previstos para o mesmo período antes. A projeção de médio prazo –para os próximos 6 a 12 meses– também piorou, a 5,30 por dólar, contra previsão anterior de 5,20.
“Embora os preços das commodities permaneçam elevados em níveis favoráveis para o real, o recente fortalecimento do dólar levou a uma desvalorização considerável” da moeda brasileira, completou o Citi. “Olhando para frente, a escalada de riscos internos depois das eleições (de outubro) em meio a condições monetárias globais mais restritivas devem levar a mais depreciação do real.”
Na B3, às 17:08 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,98%, a 4,9375 reais.
(Edição de Isabel Versiani)