O dólar tinha queda frente ao real hoje (10), à medida que a moeda norte-americana pausava um rali recente no exterior, embora temores sobre intensificação do aperto monetário nos Estados Unidos e uma desaceleração econômica global continuassem no radar.
Às 10:38 (de Brasília), o dólar à vista recuava 0,42%, a R$ 5,1340 na venda, depois de mais cedo chegar a cair 0,79%, a R$ 5,1149.
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Na B3, às 10:38 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,61%, a R$ 5,1665.
Lá fora, o dólar caía contra várias divisas emergentes ou sensíveis às commodities, como pesos mexicano e chileno e rand sul-africano, moedas que, assim como o real, foram baqueadas nos últimos dias por uma disparada generalizada da unidade norte-americana.
A recuperação de moedas mais arriscadas nesta manhã era acompanhada de estabilidade no índice do dólar contra uma cesta de rivais fortes, movimento alinhado ao arrefecimento dos rendimentos da dívida soberana dos EUA em relação aos maiores patamares em mais de três anos, embora o índice continuasse próximo de um pico em duas décadas.
Evidenciando o ambiente de recuperação do apetite por risco no dia, todas as principais bolsas europeias avançavam mais de 1%, enquanto os futuros de Wall Street também apontavam saltos expressivos na abertura em Nova York, depois de uma sessão difícil na véspera. O Ibovespa, por sua vez, ganhava mais de 1%.
Apesar do clima mais ameno ontem (9), que participantes do mercado atribuíram a ajustes à medida que operadores realizavam lucros sobre os movimentos recentes, o “cenário internacional deverá continuar desafiador”, disseram em relatório analistas da Genial Investimentos.
“As exportações chinesas mostram desaceleração…, a guerra no leste europeu dá sinais de estagnação… e as dúvidas quanto à política monetária nos Estados Unidos continuam, o que indica que a volatilidade e o mau humor devem continuar a dominar o cenário no curto prazo.”
Em meio a expectativas de que o banco central dos EUA adotará ajuste de 0,75 ponto percentual nos juros em seu próximo encontro, em junho, muitos investidores chamavam a atenção para discursos de dirigentes do Fed ao longo desta terça-feira. Sinalizações mais “hawkish”, ou duras no combate à inflação, das autoridades tendem a beneficiar o dólar.
Enquanto isso, no Brasil, investidores digeriam a ata da última reunião de política monetária do Banco Central, em que a autarquia repetiu sinalização anterior de que vai promover alta inferior a 1 ponto percentual nos juros em seu próximo encontro e alertou para riscos econômicos e uma deterioração inflacionária.
No geral, a avaliação de investidores foi de que o documento – referente a encontro da semana passada, em que a Selic chegou a 12,75% – não trouxe grandes surpresas ou detalhes sobre os próximos passos de política monetária da autarquia.
“A sensação que o mercado vai ter é que o Copom continua atrás da curva com relação à inflação”, disse Thomas Giuberti, economista e sócio da Golden Investimentos, acrescentando que operadores podem começar a questionar a perspectiva do BC de que a Selic chegará a um dígito até o final de 2023.
“A inflação no mundo e no Brasil (está) muito complicada, persistente, (com expectativa) desancorada… O mercado hoje tem a convicção de que os bancos centrais estão atrás da curva na inflação. Isso é ruim, porque o mercado, no geral, fica desancorado; isso dá mais volatilidade na moeda, dá mais volatilidade no DI.”
As taxas dos principais contratos de DI caíam de 0,5 a 5 pontos-base na curva até janeiro de 2027. O alívio nos juros no dia era associado por investidores à recuperação do sentimento internacional.
O dólar já sobe 11% em relação às mínimas deste ano, na casa de R$ 4,60, atingidas em abril, embora ainda caia 8% no acumulado de 2022.
O desempenho estelar do real no primeiro trimestre – quando o dólar perdeu 14,5%, pressionado pelo patamar elevado dos juros básicos brasileiros e pelo ciclo de alta das commodities – foi minado nas últimas semanas por receios sobre o aperto do Federal Reserve e lockdowns de combate à Covid-19 na China.
Na véspera, a moeda norte-americana spot saltou 1,62%, a R$ 5,1554, máxima desde 15 de março (R$ 5,1584).