Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) – O dólar subia em meio a negociações instáveis na manhã desta sexta-feira, mas caminhava para registrar sua terceira queda semanal consecutiva, em linha com o enfraquecimento da divisa norte-americana no exterior em meio à redução de apostas num aumento muito agressivo nos juros pelo Federal Reserve.
Às 10:35 (de Brasília), o dólar à vista avançava 0,12%, a 4,7675 reais na venda, rondando os maiores patamares do dia, depois de trocar de sinal várias vezes ao longo da manhã. Na mínima da sessão, o dólar foi a 4,7450 reais (-0,35%).
A moeda mostrou alguma instabilidade a partir das 9h30 (horário de Brasília), conforme investidores digeriam dados de inflação norte-americanos amplamente em linha com o esperado. Segundo a leitura desta sexta-feira, o índice de preços PCE subiu 0,2% no mês passado, depois de ter disparado 0,9% em março.
Excluindo os componentes voláteis de alimentos e energia, o PCE subiu 0,3%, avançando pela mesma margem por três meses consecutivos. O núcleo do PCE, como é conhecido, aumentou 4,9% em abril na comparação anual, depois de ter subido 5,2% em março –seu segundo mês consecutivo de desaceleração.
Apesar da alta desta da manhã, no acumulado da semana, que deve ser sua terceira seguida no vermelho, a moeda norte-americana à vista cai cerca de 2% frente ao real, em linha com uma intensa desvalorização do índice do dólar contra uma cesta de rivais fortes no mesmo período.
O índice –que rondava a marca de 101,7 nesta sexta– estava a caminho de registrar sua maior baixa semanal desde o início de fevereiro, e já cede mais de 3% em relação a um pico em duas décadas acima de 105 atingido em meados deste mês.
A visão predominante nos mercados é de que o dólar tem perdido força porque riscos de uma recessão econômica nos Estados Unidos –reforçados após dados da véspera mostrarem contração maior que o esperado no país no primeiro trimestre deste ano– podem levar o banco central norte-americano a evitar movimentos muito agressivos nos juros.
“Começa a se consolidar nos EUA a visão de que a postura do Federal Reserve deverá ser mais branda do que o mercado esperava, pelo risco de uma recessão”, escreveram analistas da Levante Investimentos. “Apesar de os aumentos dos juros no curto prazo estarem praticamente definidos, a trajetória mais longa poderia sofrer alterações.”
As indicações mais recentes do Fed são de que a autoridade monetária adotará ajustes de 0,5 ponto percentual nos custos dos empréstimos em cada uma de suas próximas duas reuniões, e depois poderá fazer uma pausa para avaliar os efeitos do aperto na economia.
Isso desenha um cenário bem menos “hawkish”, ou duro no combate à alta dos preços, do que alguns operadores temiam. Apenas algumas semanas atrás, a aposta majoritária nos mercados era de que o Fed seria forçado a promover eventual aumento de 0,75 ponto percentual nos juros diante da inflação mais aquecida em quatro décadas nos EUA.
Desde março deste ano, o Federal Reserve já aumentou sua taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual.
Taxas de empréstimo mais altas na maior economia do mundo tendem a beneficiar o dólar, uma vez que atraem recursos para o mercado de renda fixa norte-americano, de forma que a redução de apostas em altas mais agressivas nos juros explica o recente arrefecimento da divisa dos EUA.
No entanto, estrategistas do Citi alertaram que os temores sobre o desempenho econômico do país podem, eventualmente, trabalhar a favor do dólar.
“Os temores de recessão nos EUA estão aumentando. Normalmente, as recessões dos EUA levam a um câmbio de mercados emergentes mais fraco, embora às vezes a força do dólar só comece quando a recessão estiver muito próxima ou até mais tarde”, disseram os especialistas em relatório desta sexta-feira.
Na B3, às 10:35 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,01%, a 4,7680 reais.
Na véspera, a moeda norte-americana spot caiu 1,23%, a 4,7619 reais na venda, valor mais baixo desde 20 de abril (4,6186 reais).