Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar fechou em expressiva queda nesta terça-feira, a maior desde agosto do ano passado, e terminou abaixo da marca psicológica de 5 reais pela primeira vez em quase duas semanas, com operadores embarcando numa onda de vendas da moeda norte-americana com aval do exterior, onde ativos de risco brilharam em meio a notícias em várias frentes que ofereceram alívio após dias de instabilidade.
O dólar renovou a mínima do dia depois das falas iniciais do chefe do banco central norte-americano, Jerome Powell, e, ainda que tenha tomado algum fôlego posteriormente, manteve firme baixa até o fim do pregão à vista.
Powell disse que o banco central dos Estados Unidos “continuará insistindo” em apertar a política monetária até ficar claro que a inflação está arrefecendo. “Se não virmos isso, teremos de considerar agir de forma mais agressiva para apertar as condições financeiras”, acrescentou.
Ainda assim, a leitura é que as declarações não trouxeram muitas novidades. “O mercado até podia esperar uma possível surpresa no tom, mas que não veio”, disse Cleber Alessie, gerente da mesa de derivativos financeiros da Commcor DTVM, lembrando que, dessa forma, o mercado teve caminho livre para seguir no modo risco ativado, conforme verificado desde cedo.
Previsões animadoras de empresas dos EUA e o otimismo em relação à flexibilização da repressão chinesa ao setor de tecnologia e à Covid-19 ajudaram a elevar o apetite direcionado a ativos de risco desde o começo do pregão.
O resultado foi forte queda global do dólar; rali em moedas pares do real, como o dólar australiano; salto nos juros dos títulos do Tesouro dos EUA; e firmes ganhos nas bolsas de valores mundiais e nas commodities.
Aqui, o dólar à vista caiu 2,14%, a 4,9428 reais na venda. A baixa percentual é a mais intensa desde 24 de agosto de 2021 (-2,25%). O patamar de encerramento é o menor desde o último dia 4 (4,9020 reais).
Fazendo jus à fama de moeda volátil, o real ostentou o melhor desempenho entre as principais divisas mundiais nesta terça-feira, dias depois de figurar por vezes na ponta de baixo.
O dólar operou em queda por toda a sessão, variando de 5,0134 reais (-0,74%) a 4,9268 reais (-2,45%), menor patamar intradiário desde 4 de maio.
“O câmbio tem motivos para estar abaixo de 5 reais (por dólar)”, disse Alessie, da Commcor DTVM, citando “respeitoso” diferencial de juros a favor do real, atratividade do mercado brasileiro de ações e preços das matérias-primas ainda elevados. “Se o pior tiver passado, o mercado pode buscar um dólar de 4,85 reais.”
(Edição de Isabel Versiani)