Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar passava a cair contra o real nesta terça-feira, em sessão volátil devido à formação da Ptax de fim de mês, enquanto temores inflacionários nas principais economias do mundo –cujos bancos centrais podem ser forçados a intensificar o aperto monetário e arriscar uma recessão econômica– dominavam os mercados internacionais.
Às 10:20 (de Brasília), o dólar à vista recuava 0,64%, a 4,7227 reais na venda, rondando os menores patamares do dia, depois de mais cedo ter chegado a subir 0,58%, a 4,7805 reais.
Na B3, às 10:20 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,58%, a 4,7285 reais.
Vários participantes do mercado alertavam para a possibilidade de volatilidade ao longo da sessão devido à “briga” entre comprados e vendidos pela formação da Ptax, taxa de câmbio calculada pelo Banco Central que serve de referência para liquidação de derivativos. No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas posições.
O BC tem divulgado as taxas de fechamento diárias da Ptax –normalmente publicadas por volta das 13h– com atraso recentemente, devido à retomada da greve de servidores da autarquia.
Enquanto isso, no exterior, o clima era de aversão a risco, com as ações globais caindo e o dólar ganhando terreno contra a maioria das outras moedas diante de receios generalizados de inflação.
Dados desta terça-feira mostraram que a inflação na zona do euro acelerou para nova máxima recorde de 8,1% em maio na base anual, de 7,4% em abril, com um aumento generalizado dos preços indicando que a energia não é a única vilã e aumentando a pressão sobre o Banco Central Europeu (BCE), que, nos últimos meses, se mostrou mais relutante que o Federal Reserve em apertar sua política monetária.
“Inflação, o assunto da moda não perde força e continua a pesar fortemente sobre os mercados, se sobrepondo a boas notícias e elevando a tensão dos ativos como um todo, em um cenário cada vez mais nebuloso para os juros globais”, escreveu Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.
A incerteza sobre a política monetária vem em meio à percepção de que as principais autoridades monetárias do mundo estão presas num dilema entre combater a inflação com força ou evitar uma desaceleração da atividade num momento extremamente delicado para a economia global, em meio à guerra na Ucrânia.
“A inação ou ação limitada dos bancos centrais… pode levar à necessidade de atitudes pesadas contra a inflação, o que pode significar ainda mais recessão no futuro próximo, de forma a debelar o dragão já tão conhecido de emergentes”, avaliou Vieira.
Apoiando a alta do índice do dólar no exterior nesta terça-feira, movimento que pode influenciar o mercado de câmbio doméstico, os rendimentos dos títulos soberanos dos Estados Unidos avançavam com força no dia, depois de comentários mais duros de uma autoridade do banco central norte-americano.
Na véspera, o diretor do Fed Christopher Waller disse que a instituição deve estar preparada para aumentar a taxa de juros em 0,50 ponto percentual em cada uma de suas próximas reuniões até a inflação ser decisivamente contida.
O dólar spot fechou a segunda-feira em alta de 0,31%, a 4,7531 reais na venda.
Apesar da instabilidade vista nesta manhã, o dólar estava prestes a registrar desvalorização expressiva no acumulado de maio, de mais de 4%, o que marcaria seu quarto mês no vermelho em 2022 –ano em que recua mais de 15%.
(Edição de Camila Moreira)