Por Howard Schneider e Julie Gordon e Leika Kihara
WASHINGTON (Reuters) – Os banqueiros centrais globais, que ficaram sob os holofotes por contornarem uma depressão causada pela pandemia com ação rápida há dois anos, estão agora tropeçando no rescaldo de uma onda de inflação que ninguém previu ou tem sido capaz de evitar.
Se a resposta deles à crise econômica desencadeada pela pandemia pareceu ousada e voltada para o futuro, com sua lista de novos programas e estímulo monetário maciço, os últimos meses têm se provado uma fase errática, até mesmo constrangedora, de previsões fracassadas, mea culpas embaraçosas, maior escrutínio político e algumas evidências de perda de confiança.
Gerenciar a inflação é fundamental para a missão de um banco central, e de grandes atores como o Federal Reserve e o Banco do Japão até instituições regionais como o Banco do Canadá e o banco central da Austrália, eventos recentes deram um golpe em sua credibilidade, provocando no processo a probabilidade de recessão.
“Eles tinham os olhos tapados. Eles não queriam entreter qualquer conversa sobre risco estável ou ascendente para a inflação em resposta a estímulos massivos em todo o mundo, do governo e monetário”, disse Derek Holt, diretor de economia de mercado de capitais do Scotiabank.
“Acho que eles tinham essa evidência mesmo enquanto 2020 se desdobrava”, mas se mantiveram com programas de emergência por mais um ano, e avaliaram um aumento inicial da inflação como transitório.
O resultado: em pouco mais de uma semana, o Fed aumentou a taxa de juros em 0,75 ponto percentual, primeiro aumento desse tamanho desde 1994; o Banco Central Europeu buscou novos planos de emergência para controlar os spreads dos títulos governamentais; o Banco Nacional Suíço aprovou uma alta inesperada dos juros; as previsões do Banco da Inglaterra insinuaram uma estagflação em desenvolvimento; e o presidente do Banco do Japão, Haruhiko Kuroda, foi forçado a pedir desculpas após críticas a comentários de que as famílias haviam “aceitado” preços mais altos.
A situação difícil de Kuroda era emblemática.
A inflação no Japão superou 2% na base anual em abril, baixa em comparação com os aumentos de mais de 8% nos preços ao consumidor vistos recentemente nos Estados Unidos, por exemplo, e atingindo efetivamente a meta de 2% do Banco do Japão após décadas de preocupação com o problema oposto, uma deflação.
No entanto, a noção de famílias aceitando preços mais altos provou ser tabu, algo que os banqueiros centrais e autoridades eleitas em todo o mundo estão rapidamente reaprendendo após uma geração em que os preços foram mantidos baixos por uma variedade de forças, incluindo a globalização, o que a pandemia pode ter corroído.
“Cada um desses bancos centrais está operando com algum tipo de estrutura de gerenciamento de risco e, na verdade, desde a crise financeira (2007-2009) … a corrida era sobre quem ia ser mais flexível que o outro”, a fim de sustentar o crescimento e o emprego em um ambiente de preços baixos e até mesmo em queda, disse Ed Al-Hussainy, analista sênior de juros da Columbia Threadneedle.
“Agora isso está indo ao contrário … O risco de erro se deslocou para o outro lado da rua”, na forma de inflação que ameaça ficar mais alta e levar consigo as expectativas de salários e preços.
Os críticos dizem que os próprios bancos centrais são responsáveis por manterem as taxas de juros muito baixas por muito tempo e imprimir dinheiro demais para a economia absorver –particularmente uma economia na qual o fornecimento de bens e serviços sofreu seus próprios contratempos.
Os banqueiros centrais argumentam que muito do choque de preços atual está além de seu controle, com a inflação tornando-se mais intensa e persistente por eventos como a guerra da Ucrânia ou o retorno ainda incerto da China ao seu lugar na cadeia global de fornecimento de bens.
Quaisquer que sejam as causas, o impacto tem sido sentido de forma aguda pelas famílias. Diante do aumento dos preços de alimentos e energia que lhes foi dito que seriam temporários, a crença de que os bancos centrais atingirão suas metas típicas de inflação de 2% a qualquer momento começou a ser corroída –algo preocupante que começou a moldar as próprias reações dos bancos centrais.
(Reportagem de Howard Schneider; reportagem adicional de Julie Gordon, Leika Kihara, Sam Holmes, Balazs Koranyi e Wayne Cole )