Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) – A divulgação nesta quinta-feira do PIB brasileiro do primeiro trimestre acionou uma série de revisões de alta nos prognósticos para a atividade por parte de bancos, que seguem vendo ritmo mais fraco no segundo semestre, mas agora talvez na forma de uma desaceleração mais gradual.
O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro teve crescimento de 1,0% na comparação com os últimos três meses de 2021, acelerando em relação ao fim do ano passado, quando avançou 0,7% sobre o trimestre anterior. Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O Itaú Unibanco aumentou para 1,6% a taxa de crescimento esperado para 2022, de 1,0% do cenário prévio, e projeta elevação de 0,8% do PIB no segundo trimestre.
“Apesar do resultado abaixo do esperado, a divulgação do PIB do primeiro trimestre confirma que a economia teve um início de ano forte e consolida nossa percepção de que o primeiro semestre deve ter crescimento mais robusto do que se esperava inicialmente”, disse o banco em relatório de revisão de cenário, sem deixar de ressalvar, contudo, perspectiva de declínio de 0,4% do PIB tanto no terceiro trimestre quanto no quarto.
O Citi dobrou sua estimativa de expansão da economia neste ano para 1,4%, de 0,7% antes, depois de classificar a performance dos primeiros três meses do ano como “robusta” e citar que a recuperação no mercado de trabalho teve papel no impulso do consumo privado, que puxou os resultados de janeiro a março.
O JPMorgan prevê que o segundo trimestre do ano deverá ser “mais forte” do que o banco estava esperando e calcula aumento do PIB de 1,5% entre abril e junho sobre o primeiro trimestre do ano –em taxa anualizada com ajuste sazonal. O número cheio para 2022 foi elevado a 1,2%, de 1% do cenário anterior.
Flávio Serrano, chefe de análise macroeconômica da Greenbay Investimentos, calculou que o “forte” resultado do primeiro trimestre deixa um carregamento estatístico “na casa de” 1,5%, o que indica um segundo trimestre também positivo e eventualmente um crescimento do PIB de 2% no ano.
O Santander Brasil agora vê a atividade econômica em alta de 1,2% em 2022, bem acima do prognóstico anterior, de aumento de 0,7%, citando “surpresas positivas que melhoraram a perspectiva” para o primeiro semestre e a consolidação da reabertura econômica, a recuperação do mercado de trabalho e o fortalecimento de setores menos cíclicos relacionados às commodities.
Em revisão de cenário macro, o banco espanhol disse esperar variação positiva de 0,2% no PIB do segundo trimestre sobre o primeiro (com ajuste sazonal). Nas contas do Santander, entre julho e setembro a economia ficará parada, já sob efeitos de uma política monetária contracionista, e no quarto trimestre sofrerá retração de 0,4%.
O Credit Suisse não chegou a alterar suas projeções e segue vendo expansão de 1,4% na economia em 2022. O banco, conhecido por suas visões conservadoras, ainda espera esfriamento da economia por causa dos efeitos do aperto das condições financeiras, mas ponderou que os números divulgados mais cedo pelo IBGE sugerem que essa “desaceleração pode ser mais gradual do que nossa expectativa”.
“Internamente, as condições do mercado de trabalho melhoraram fortemente nos últimos meses, com a população ocupada atingindo o maior nível da história em abril, o que é favorável ao consumo. No exterior, vemos maior probabilidade de um cenário em que os preços das commodities permaneçam elevados (por exemplo, devido à retomada da economia da China e a prolongadas restrições de oferta)”, disse o Credit Suisse em relatório.
O Barclays adotou um tom mais sóbrio e se limitou a falar de “algum risco de alta (para a atividade) no curto prazo” devido a melhores condições no mercado de trabalho e a maiores gastos do governo antes das eleições.
O banco manteve prognóstico de aumento do PIB de 1,0% em 2022 e vê como “mais desafiadora” a segunda metade do ano, tanto por fatores internos –política monetária restritiva e incertezas eleitorais– quanto por temas externos –eventos geopolíticos na Europa e a política de Covid zero na China.
(Por José de Castro; colaborou Camila Moreira)