Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) – O dólar fechou em alta contra o real nesta quinta-feira, em seu maior patamar em três semanas, após trocar de sinal várias vezes ao longo do pregão, ora reagindo à força da divisa norte-americana no exterior ora refletindo ingressos pontuais de recursos no mercado doméstico.
A moeda norte-americana à vista subiu 0,53%, a 4,9166 reais na venda, seu maior patamar para encerramento desde o último dia 19 (4,9194), e permanecendo acima de sua média móvel diária de 50 dias, patamar técnico importante.
Na B3, às 17:12 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,34%, a 4,9485 reais.
A sessão foi volátil, com a moeda passando boa parte das negociações sem direção clara. Na cotação mínima intradiária, o dólar spot caiu 0,51%, a 4,8656 reais, e, na máxima, alcançada pouco antes do fechamento, avançou 0,62%, a 4,9210 reais.
Os maiores patamares do pregão foram alcançados com impulso do exterior, afirmaram vários participantes do mercado, à medida que o índice do dólar contra uma cesta de pares fortes avançava 0,7% nesta tarde, beneficiando-se do enfraquecimento do euro em meio a temores sobre o impacto do aperto monetário do Banco Central Europeu (BCE) no crescimento econômico.
Nesta quinta-feira, a autoridade monetária da zona do euro sinalizou que começará a aumentar os juros no mês que vem, buscando enfrentar a inflação, mas arriscando minar a atividade num momento já desafiador para a economia, em meio à guerra na Ucrânia.
Além do BCE, disse à Reuters Fernando Bergallo, diretor de operações da assessoria de câmbio FB Capital, investidores seguem atentos aos próximos passos de política monetária do Federal Reserve, que se reúne na semana que vem para nova deliberação sobre a taxa de juros.
Caso uma importante leitura de inflação norte-americana a ser divulgada na sexta-feira mostre aceleração da alta dos preços na maior economia do mundo, podem crescer as apostas num posicionamento mais agressivo por parte do Fed –o que é amplamente visto como benéfico para o dólar. O banco central dos EUA já aumentou os juros em 0,75 ponto percentual desde março deste ano.
Já os momentos de queda do dólar no dia refletiram, em vez do noticiário local ou internacional, fatores técnicos, explicou Bergallo. Ele disse que o mercado doméstico recebeu fluxos pontuais de recursos que limitaram a força da moeda norte-americana em alguns momentos do dia, principalmente depois que o dólar atingiu a marca de 4,90 reais, patamar interessante para venda da divisa dos EUA por parte de exportadores.
Também rondaram os mercados locais especulações sobre o que a leitura mais fraca que o esperado da inflação ao consumidor de maio pode significar para os próximos passos de política monetária do Banco Central.
O IBGE informou nesta quinta-feira que o IPCA desacelerou a alta a 0,47% em maio, de 1,06% em abril, marcando a taxa mensal mais baixa desde abril de 2021 (+0,31%). A leitura veio abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters, de alta de 0,60%.
A inflação em 12 meses, por sua vez, ficou em 11,73% no período, contra 12,13% em abril e projeção de 11,84%.
“A leitura foi consistente com nossa crença de que a inflação já atingiu o pico e esperamos mais desaceleração à frente”, disse em nota a clientes David Beker, chefe de economia no Brasil e de estratégia para América Latina do Bank of America.
“Em suma, o resultado positivo fornece mais motivos para o Banco Central não avançar mais com o ciclo de alta de juros, corroborando nossa visão de uma última alta de 50 pontos-base em junho, levando a Selic para 13,25%.”
Mas outras instituições financeiras acreditam que o Banco Central será forçado a promover aumento adicional nos juros para além de sua próxima reunião, na semana que vem, nos dias 14 e 15. O Citi, por exemplo, espera ajustes de 0,50 ponto percentual tanto em junho quanto em agosto, o que levaria a taxa Selic –atualmente em 12,75%– a 13,75%.
Quanto mais alta a Selic, mais atraente tende a ficar o real para investidores que utilizam estratégias de “carry trade”, que buscam lucrar com a compra de moedas de retornos elevados. A visão predominante nos mercados é de que os juros altos foram os principais responsáveis pela desvalorização de 11,8% do dólar contra o real até agora em 2022.