Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) – O dólar caía frente ao real nesta quarta-feira, interrompendo sequência de sete ganhos diários consecutivos, embora tenha saído das mínimas do dia diante de ligeira recuperação da divisa norte-americana no exterior, antes da aguardada conclusão da reunião de política monetária do Federal Reserve, em que o banco central deve elevar os juros em 0,75 ponto percentual.
Investidores também aguardavam a decisão de política monetária do Banco Central do Brasil, que deve elevar a taxa Selic a 13,25%, de acordo com a maioria dos participantes do mercado.
Às 10:19 (de Brasília), o dólar à vista recuava 0,32%, a 5,1179 reais na venda, dando uma folga para o real após subir initerruptamente por sete sessões, período em que acumulou salto de 7,5%.
A moeda, no entanto, ganhou bastante terreno em relação à mínima do dia, de 5,0815 reais (-1,02%), depois que o índice do dólar contra uma cesta de moedas fortes devolveu perdas iniciais nesta quarta-feira, passando a rondar a estabilidade.
O índice havia saltado na véspera para nova máxima desde dezembro de 2002, num rali que foi alimentado por apostas num posicionamento muito agressivo do Federal Reserve na reunião de política monetária que se encerra nesta quarta-feira.
As expectativas de uma alta de 0,75 ponto saltaram para 89% na terça-feira, de apenas 3,9% há uma semana, de acordo com a ferramenta Fedwatch, da CME. Consequentemente, as expectativas de uma alta mais moderada, de 0,50 ponto, caíram para 11%. Uma semana antes, ajuste dessa magnitude era visto como praticamente garantido.
“Ativos de risco globais estão amanhecendo em tom de recuperação, com alta das bolsas, dólar mais fraco e fechamento dos juros desenvolvidos após um início de junho extremamente negativo e antes do evento mais esperado da semana: o anúncio de decisão de política monetária do Federal Reserve”, escreveu Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos.
Apesar da ligeira recuperação de ativos arriscados nesta quarta-feira –vista por alguns participantes do mercado como ajuste técnico depois das fortes perdas dos últimos dias–, a decisão do Fed “deve sustentar a cautela dos mercados olhando para frente, mesmo que boa parte deste novo aumento de 0,75 p.p. (do juro) já esteja bem precificado”, disse Beyruti.
Isso porque, embora ajuste intenso pudesse mostrar que o Fed controlará a inflação mais rapidamente, se os índices de preços demorarem para arrefecer ao mesmo tempo que ocorre uma desaceleração na maior economia do mundo em meio a juros altos –que tendem a restringir o consumo–, “o risco de estagflação aumenta”, afirmou o economista.
No Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, que encerra sua reunião mais tarde, após o fechamento dos mercados locais, deve subir a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, a 13,25%, segundo a visão majoritária no mercado. No entanto, a probabilidade de um aumento mais agressivo, de 0,75 ponto, cresceu para cerca de 30% recentemente.
Além disso, algumas instituições financeiras, como a XP, esperam que o Banco Central sinalize alta adicional da Selic na reunião seguinte, em agosto.
A XP justificou que, “embora a taxa básica de juros já esteja em um nível contracionista significativo e os números recentes da inflação tenham ficado marginalmente abaixo das expectativas, o balanço de risco para a inflação continua desafiador, principalmente com a perspectiva de uma política monetária muito mais restritiva nos países desenvolvidos”.
Quanto mais a Selic sobe, mais interessante fica o real para investidores que buscam lucrar com a compra de moedas de alto rendimento.
O dólar spot fechou a última sessão em alta de 0,43%, a 5,1341 reais, maior patamar para encerramento desde 12 de maio (5,1424).