Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) – O dólar operava em queda frente ao real nesta quarta-feira, movimento em linha com o fortalecimento de algumas divisas arriscadas no exterior, mas se afastava das mínimas do dia e começava junho em meio a receios renovados sobre as pressões inflacionárias globais e seu possível impacto na trajetória de aumento de juros dos principais bancos centrais.
Às 10:26 (de Brasília), o dólar à vista recuava 0,17%, a 4,7461 reais na venda, mas estava longe da mínima do dia, quando foi a 4,7227 reais, queda de 0,66%.
Na B3, às 10:26 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,27%, a 4,7860 reais.
A moeda norte-americana também caía contra algumas divisas arriscadas pares do real, como rand sul-africano (-0,9%), dólar australiano (-0,7%), peso chileno (-0,4%) e peso mexicano (-0,2%).
O enfraquecimento do dólar contra essas divisas vinha em meio à forte alta do preço de várias commodities no dia, como petróleo, soja e minério de ferro. Investidores também citaram algum alívio pela suspensão, nesta quarta-feira, de um lockdown imposto há dois meses em Xangai, centro financeiro da China.
No entanto, o dólar avançava contra uma cesta de divisas de países ricos nesta quarta-feira, apoiado pelos rendimentos mais altos da dívida norte-americana, que têm sido impulsionados nos últimos dias por temores de que a inflação elevada forçará os principais bancos centrais do mundo a apertar suas políticas monetárias com maior intensidade num momento bastante frágil para a economia global.
Na zona do euro, por exemplo, dados desta semana mostraram que os preços ao produtor subiram a ritmo recorde de 8,1% em maio, o que reforçou apostas de que o Banco Central Europeu (BCE) começará a aumentar os custos dos empréstimos em breve, o que poderia causar uma recessão, já que a região é particularmente vulnerável aos efeitos da guerra na Ucrânia.
Nos Estados Unidos, embora dados recentes tenham sugerido que a inflação já atingiu seu pico, investidores receberam com cautela comentários do diretor do Federal Reserve Christopher Waller, que disse no início desta semana que o banco central deve adotar aumentos de juros de 0,5 ponto percentual em todas as próximas reuniões de política monetária até que haja sinais convincentes de esfriamento dos preços.
“As condições atuais apontam para um ambiente desafiador para a América Latina”, disse o Citi em relatório divulgado na noite de terça-feira. “Ciclos de alta de juros nos EUA normalmente estão associados a menor crescimento na América Latina, depreciação cambial e maiores probabilidades de crises.”
Eles afirmaram que a situação da inflação nos Estados Unidos aponta para um aperto monetário mais agressivo e probabilidade crescente de uma recessão nos EUA, o que piora ainda mais as perspectivas para a América Latina, cujos países enfrentam muitos desafios fiscais domésticos.
A moeda norte-americana spot fechou a última sessão com variação positiva de 0,02%, a 4,7542 reais, mas recuou 3,83% contra o real em maio –maior queda desde março (-7,63%) e a mais forte para o mês desde 2009 (-10,26%). O resultado compensou os ganhos registrados em abril e deixava o dólar praticamente estável no acumulado do segundo trimestre.
No ano, a divisa perde 15% contra o real em termos nominais.