Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar teve forte alta contra o real nesta sexta-feira, embora tenha fechado abaixo de cotações máximas acima da marca psicológica de 5 reais atingidas ao longo do dia, com dados de inflação norte-americanos mais elevados que o esperado desencadeando temores de endurecimento da trajetória de aperto monetário do banco central dos Estados Unidos.
A moeda norte-americana à vista encerrou a sessão em alta de 1,48%, a 4,9892 reais, seu maior patamar para fechamento desde o dia 16 de maio (5,0507 reais). Em relação à última sexta-feira, o dólar ganhou 4,43%, segundo avanço semanal seguido e o mais intenso desde o período findo em 26 de março de 2021 (+4,68%).
Na B3, às 17:11 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,63%, a 5,0140 reais.
Na cotação máxima intradiária desta sexta-feira, o dólar chegou a tocar os 5,0130 reais, alta de 1,96%, bem distante da mínima do pregão, de 4,8821 reais (-0,70%), atingida nos primeiros minutos de negociação.
A moeda norte-americana começou a ganhar fôlego –tanto no mercado local quanto no internacional– após o Departamento do Trabalho dos EUA informar que seu índice de preços ao consumidor acelerou a alta a 1% em maio, contra 0,3% em abril e expectativa de taxa de 0,7%.
O avanço acumulado em 12 meses foi de 8,6%, o mais intenso desde dezembro de 1981, com os preços da gasolina atingindo um pico recorde.
Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos, chamou a atenção para a disparada das taxas dos títulos do governo dos EUA na esteira dos dados de inflação, o que ajudou a impulsionar o dólar e a derrubar as ações globais.
Diante dos novos números de inflação, operadores de futuros atrelados à taxa básica de juros do Fed passaram a apostar na adoção de aumentos de 0,50 ponto percentual nos custos dos empréstimos em todas as próximas reuniões do banco central pelo menos até setembro, com alguma chance de ajuste ainda maior antes disso.
Anteriormente, não havia consenso sobre qual seria a magnitude do aumento de setembro, com parte dos mercados esperando uma desaceleração no ritmo de aperto para 0,25 ponto.
O próximo encontro de política monetária do Fed acontece na semana que vem, nos dias 14 e 15.
Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital, disse que a perspectiva de aperto monetário agressivo “deixa mais aflorado o sentimento de que a economia (dos EUA) pode entrar num cenário de recessão”, o que tende a azedar o apetite por risco dos investidores e levar a fugas de capital de ativos mais arriscados, como moedas de países emergentes.
Ao mesmo tempo, juros mais altos nos Estados Unidos impulsionam os rendimentos da dívida soberana do país, considerada a mais segura do mundo, o que costuma elevar a demanda por dólares.
No entanto, com a taxa Selic atualmente em 12,75% e devendo subir para 13,25% na reunião de política monetária do Banco Central da semana que vem, o Brasil também tem juros atraentes, ponderou Izac.
“O Brasil é um país que exporta commodities e taxa de juros; é o que a gente vende para o mundo. Nossa taxa de juros já está bastante alta, e, com a nossa inflação começando a recuar, a gente começa a ver nossa taxa real ficando cada vez mais atraente”, disse o especialista.
Dados de quinta-feira mostraram que o IPCA desacelerou a alta a 0,47% em maio, de 1,06% no mês anterior, marcando a taxa mensal mais baixa desde abril de 2021 (+0,31%).
Ao mesmo tempo, com os preços das commodities subindo no mundo inteiro desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, há espaço para resiliência do real ao longo de 2022, apesar dos riscos externos, da aproximação das eleições presidenciais de outubro e de receios fiscais domésticos, completou Izac.
Ele espera que o dólar opere abaixo dos 5 reais ao longo da maior parte do restante do ano.
A moeda norte-americana acumula baixa de 10,5% contra divisa brasileira até agora em 2022.
(Por Luana Maria Benedito; edição de Isabel Versiani)