Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar caiu acentuadamente nesta quarta-feira, movimento completamente descolado do exterior que deixou o real com o melhor desempenho global na sessão, performance que operadores atribuíram a razões técnicas, mas não deve impedir a divisa norte-americana de marcar seu melhor mês desde o início da pandemia de Covid-19.
A moeda norte-americana à vista caiu 1,44%, a 5,1911 reais na venda, desvalorização diária mais intensa desde o último dia 15 (-2,07%), ao menor patamar em uma semana.
Na B3, às 17:02 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 1,52%, a 5,1955 reais.
A baixa veio na contramão da valorização de 0,6% do índice do dólar contra uma cesta de rivais de países ricos nesta tarde.
“Esta queda do dólar por aqui já faz parte do início da tradicional briga da taxa Ptax de final de mês, com os vendidos (agentes que apostam na queda da moeda norte-americana contra o real) desde hoje tentando mostrar a sua força”, comentou Jefferson Rugik, presidente-executivo da Correparti Corretora.
A Ptax é uma taxa de câmbio calculada pelo Banco Central que serve de referência para liquidação de derivativos. No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas ou vendidas em dólar, o que geralmente eleva a volatilidade.
Operadores também atribuíram parte do enfraquecimento do dólar nesta sessão a um ajuste técnico, depois que a divisa fechou em 5,2671 reais na véspera, nível mais alto para um fechamento desde 4 de fevereiro passado (5,3249), em seu 13° avanço em 16 sessões.
É natural, depois de movimentos expressivos na moeda, haver momentos pontuais de correção na direção oposta, conforme operadores realizam lucros.
Apesar do enfraquecimento pontual –mais atrelado a fatores técnicos do que ao clima doméstico ou internacional, ambos tensos nesta quarta-feira–, o dólar ainda avança 9,19% no acumulado de junho, e está prestes a marcar seu maior ganho mensal frente ao real desde março de 2020 (+15,92%), quando os mercados financeiros do mundo inteiro foram abalados pelo choque inicial da Covid-19.
No segundo trimestre como um todo, o dólar ganha 8,99%, embora ainda esteja 6,86% abaixo do patamar para encerramento do ano passado.
Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital, disse que o recente rali da moeda norte-americana é reflexo de uma inflação persistentemente alta no mundo inteiro, que desencadeou respostas de política monetária muito agressivas por parte dos principais bancos centrais, como o Federal Reserve, que já subiu os juros em 1,5 ponto percentual desde março.
Isso por, sua vez, acendeu medos generalizados de uma recessão global, já que taxas de empréstimo mais altas pesam sobre os gastos das famílias e das empresas.
“Enquanto esse cenário continuar pairando, essa recessão seguir à vista e a inflação, descontrolada, a gente deve ver o investidor migrando para ativos mais livres de risco, como o dólar e a dívida dos Estados Unidos”, disse Izac, que afirmou enxergar maior dificuldade para um retorno da moeda norte-americana a patamares inferiores a 5 reais.
O dólar passou boa parte de 2022 abaixo desse patamar psicológico importante, e chegou a ir a 4,6075 reais na menor cotação para fechamento do ano –quando foi pressionado pelo nível elevado da taxa Selic, atualmente em 13,25%.
Além de choques exógenos, o mercado de câmbio doméstico também enfrenta riscos nacionais, como a aproximação das eleições presidenciais de outubro, disse Izac, notando que esse é um período historicamente marcado por volatilidade.
Investidores têm acompanhado com cautela a tramitação no Congresso da PEC dos Combustíveis, que prevê aumentos nos valores do Auxílio Brasil e do vale-gás e criação de voucher para transportadores autônomos de carga, com impacto total estimado em 38,75 bilhões de reais.
As medidas são vistas pelos mercados como eleitoreiras, fiscalmente danosas e com possível efeito inflacionário de longo prazo.
(Edição de Isabel Versiani)