Para investir no mercado financeiro e garantir um retorno satisfatório aos seus clientes, a gestora Giant Steps, que tem a XP como sócia minoritária, não conta apenas com uma equipe de economistas.
Como uma gestora quantitativa, o seu time é igualmente composto por físicos, matemáticos e cientistas da computação dedicados a desenvolver programas computacionais para reagir rapidamente às variações do mercado e, assim, aproveitar as oportunidades que aparecem.
A Giant é, atualmente, a maior gestora quantitativa do Brasil e foi uma das primeiras do tipo a surgir no país. O interesse dos investidores brasileiros por essa abordagem, porém, ainda é limitado. Nos EUA, os fundos quantitativos já representam cerca de 30% do mercado – já aqui, a penetração é de pouco mais de 2%, segundo dados da Pandhora Investimentos.
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O funcionamento da gestora é baseado no uso de inteligência artificial e algoritmos que permitem consultar diversas bases de dados e identificar oportunidades no mercado financeiro de maneira rápida e certeira. Dessa forma, ela se diferencia das gestoras tradicionais ao embasar boa parte das suas operações no uso intensivo de tecnologia.
“Nós não tentamos prever o futuro”, diz Rodrigo Terni, cofundador da Giant Steps. “Em vez disso, ganhamos vantagem na velocidade de reação e na capacidade de testar as nossas teses.”
Segundo ele, a gestora busca prestar atenção na “história que os dados contam”. Ela possui uma equipe de cerca de 13 pessoas que desenvolve teses de investimentos, e outra de 13 funcionários que são responsáveis por colocar essas teses em prática em diferentes cenários para testar se elas se sustentam.
“No geral, essas equipes não se gostam muito”, brinca Rodrigo. Essa forma de organização, porém, evidencia outra característica que a gestora considera uma vantagem: a descentralização. Ou seja, em vez de contar com a figura central de um gestor que concentra a tomada de decisões, a Giant delibera essa função para quase 30 pessoas diferentes.
“Acredito que nós desenvolvemos um dos processos mais robustos de gestão no Brasil hoje”, diz ele. “Atualmente, temos R$ 8 bilhões em ativos sob gestão, mas já estamos investindo no crescimento da equipe para encarar os próximos R$ 20, R$ 30, R$ 40 bilhões que devem vir nos próximos dez anos.”
Rodrigo e seu irmão, Flavio, são os cofundadores que trouxeram o interesse pela tecnologia para a empresa. Já Christian Iveson e Jorge Larangeira, a outra dupla de cofundadores, foram os responsáveis por trazer a experiência do mercado financeiro “tradicional”, com passagens por instituições como JPMorgan, UBS e BNP Paribas.
Todos eles têm alguma experiência na gestão de investimentos, e isso ajudou na elaboração dos fundos da Giant Steps. O principal deles é o Zarathustra, que a gestora descreve como um radar global que procura “momentos de pânico ou de euforia em que existam oportunidades pontuais e rápidas para obter forte resultado.”
Desde a sua criação, em 2012, o fundo Zarathustra acumula alta de 351,94%, contra avanço de 62% do Ibovespa. No primeiro semestre de 2022, a valorização foi de quase 9%, contra queda de 5% do índice brasileiro.
O pior desempenho mensal do fundo foi em maio de 2017, quando ele recuou 9,39% devido ao impacto do chamado “Joesley Day”. O dia foi marcado pelo vazamento de uma conversa entre um dos donos da JBS, Joesley Batista, e o então presidente Michel Temer, sobre Eduardo Cunha, que presidia a Câmara dos Deputados à época.
No dia seguinte ao vazamento, em 18 de maio, o Ibovespa encerrou o pregão com queda de 8,8%. “O Joesley Day foi um foi um remédio amargo, mas bom”, avalia Rodrigo. “Para nós, qualquer informação nova é útil. Nesse caso, nós aprendemos com o que aconteceu e conseguimos nos preparar para caso acontecesse de novo.”
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Segundo ele, esse momento de provação chegou no ano seguinte, em 2018, quando a greve dos caminhoneiros travou o país por algumas semanas. O Ibovespa recuou 10% e 8% nos acumulados mensais de maio e junho – já o fundo Zarathustra encerrou os meses com desempenhos positivos de 3% e 6%, respectivamente.
Segundo os fundadores, essas vivências ajudaram a aprimorar as operações da Giant Steps, embora o reconhecimento não tenha sido imediato. Os irmãos Terni relatam a história da empresa com a XP, com quem eles dialogaram por anos em busca de investimentos, mas sem sucesso. Segundo eles, o principal obstáculo era fazer com que os investidores entendessem e confiassem na proposta quantitativa da gestora.
“A barra era sempre mais alta para nós. Eles falavam, ‘Quando vocês tiverem investimento em banco de dados, nós voltamos a conversar’. Aí a gente voltava com isso e eles falavam, ‘Que bom! Agora quando vocês tiverem X em ativos sob gestão, nós voltamos a conversar.’”, relata Rodrigo. “Mas, no fim das contas, isso nos ajudou bastante.”
A parceria finalmente chegou em junho do ano passado, quando a XP adquiriu uma participação minoritária na gestora por um valor não revelado. Com o aporte, a empresa elaborou planos de aumentar os investimentos em tecnologia, abrir um escritório fora do país – possivelmente em Londres – e diversificar os seus produtos.
A empresa agora tem focado o mercado de criptomoedas, confiante que o momento atual de quedas é apenas passageiro. No final do ano passado, ela lançou o fundo Satoshi, o primeiro do Brasil com benchmark em bitcoin. Agora, o seu objetivo é lançar uma gestora com foco exclusivo em criptoativos, que ainda não tem data de estreia.
A Giant Steps pretende encerrar o ano com R$ 14 bilhões em ativos sob gestão. Além disso, quer disseminar a proposta de gestão quantitativa no Brasil, apesar do cenário macroeconômico desafiador, com uma taxa Selic a 13,25% ao ano, que tende a tirar os investidores dos fundos multimercado e levá-los para a renda fixa.
“Com certeza, no futuro, vão surgir competidores bem interessantes no mercado brasileiro de gestão quantitativa”, diz Rodrigo. “Mas, por enquanto, estamos em uma posição confortável de liderança, e somos bastante confiantes na estrutura que conseguimos montar e no alcance que teremos com ela.”
Kadima Asset Management, Pandhora Investimentos e Murano Investimentos são outras gestoras brasileiras com abordagem quantitativa. Também é possível investir de maneira “quanti” em fundos específicos de gestoras tradicionais, como é o caso do fundo Daemon Nous Global, da Daemon Investimentos, e do fundo Seival FGS Agressivo, da Seival Investimentos.