Ao viajar de bicicleta pelas estradas da Argentina e do Brasil, Federico Vega se deparou com o universo do transporte de cargas. Segundo o empresário, ali ele percebeu que faltava logística no meio: burocracia, roubos e falta de infraestrutura eram alguns dos problemas que os caminhoneiros e donos de transportadoras se queixavam no dia a dia.
Durante os trajetos da viagem, Vega se comunicava o tempo todo com os caminhoneiros que passavam – eles ajudavam apontando caminhos e restaurantes, e tirando as dúvidas que surgiam durante o percurso. Foi assim que o empresário começou a entender como o setor funcionava e quais eram as dores da categoria.
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Vega conta que, nessa época, ele estava em um dos momentos mais felizes de sua vida. Ele tinha decidido encerrar a sua carreira de anos em um banco de investimentos em Londres. Mas abrir um negócio não era uma de suas metas.
“Eu não estava feliz trabalhando. Aliás, lembro que vi um estudo inglês que apontava que as pessoas que mais ganhavam dinheiro eram também as mais infelizes. Ou seja, ninguém gostava de trabalhar com o que trabalhava, só visavam o retorno financeiro. Mas eu entendo que o dinheiro dura pouco em comparação com a felicidade. Então comecei a pensar em coisas que tinham a ver com estradas, que era o que eu gostava”, conta o CEO.
“Quando fui realizar a viagem, eu realmente estava em uma fase muito boa da minha vida, mas nunca saí com o intuito de criar um negócio. Simplesmente aconteceu.”
O empresário argentino lembra que o primeiro passo foi conseguir ajuda tecnológica para desenvolver a plataforma. Concluída essa etapa, ele foi aconselhado por um advogado que o melhor caminho era tentar atrair investimentos de seu ex-chefe no banco.
Ele escutou 20 “nãos” até conseguir um sim. Vega também vendeu seu apartamento em Londres para investir o dinheiro na empresa –essa decisão fez os próximos investidores sentirem mais confiança no negócio, diz ele.
Pedalando em direção ao unicórnio
Com tudo o que viu durante as viagens de bicicleta, surgiu em Vega a vontade de eliminar as ineficiências do setor de transporte rodoviário de cargas na América Latina. Então, decidiu, finalmente, fundar a frete.com.
“A ideia nasceu quando percebi que o setor não era carente de dinheiro e sim de logística. Os trabalhadores ganhavam bem para transportar as cargas, mas tinham de lidar com o alto custo do combustível para ir atrás, por conta própria, dos fornecedores. E do lado das empresas, as transportadoras não sabiam como encontrar esses trabalhadores”, conta.
Segundo o CEO, a companhia conseguiu resolver esse problema por funcionar como um “Tinder” do setor, já que a plataforma utiliza tecnologia para tornar mais eficiente o relacionamento (“match”) entre embarcadores, transportadores e caminhoneiros.
Lá, as empresas publicam as cargas que precisam ser transportadas e, ao entrar no aplicativo, os trabalhadores autônomos conseguem escolher qual querem levar. A plataforma possui mais de 712 mil caminhões ativos.
Investimentos de grandes nomes do mercado
A avaliação como “unicórnio” – nome dado às startups que atingem US$ 1 bilhão em valor de mercado – veio na última rodada de investimentos, realizada em novembro do ano passado. A empresa captou mais de R$ 1 bilhão em um aporte liderado pelo conglomerado japonês de telecomunicações SoftBank e pela gigante chinesa de tecnologia Tencent.
Em seu passado, a empresa já atraiu como sócios investidores conhecidos, como Reid Hoffman, co-fundador do LinkedIn e do PayPal, Henry Kravis, fundador do KKR, e Jeb Bush, ex-governador da Flórida.
Além deles, o banco Goldman Sachs, Oscar Salazar, co-fundador do Uber, e Paulo Veras, fundador do 99, também estão entre os investidores que já apostaram na plataforma. Para Vega, a confiança tem um porquê: a empresa se consolidou ao estudar o mercado.
Foco em M&A
O cenário não é um dos melhores para as startups. A alta inflação, os sucessivos aumentos dos juros pelos bancos centrais e as incertezas globais contribuem para uma desaceleração de todo o setor de tecnologia, gerando demissões em massa nessas empresas.
Demissões nas startups: veja quais empresas demitiram mais
Ao ser questionado sobre como a frete.com tem lidado com o cenário, Vega diz que, diferentemente das outras empresas, o negócio tem um caixa sólido, o que faz com que ela vá na contramão dos desligamentos devido a falta de capital.
O CEO diz que “o happy hour acabou” e que o inverno será duro para o mercado global, mas o foco segue sendo uma performance benéfica. Apesar de continuar contratando, Vega não descarta demissões, mas, segundo ele, será um movimento normal seguido de análises da performance dos trabalhadores.
Para crescer, o fundador afirma que o foco está atualmente em fusões e aquisições (M&A). A companhia, inclusive, irá desembolsar R$ 300 milhões para realizar as transações: “Elas acontecerão em um momento em que a liquidez está mais restrita para as empresas de tecnologia, o que resultará em dificuldades. Tendo isso em vista, elas verão no negócio uma oportunidade para acelerar o crescimento.”
Para Vega, existem muitas empresas brasileiras interessantes que podem gerar valor para o setor como um todo. “Por estarmos diminuindo os custos e cuidando do dinheiro, os M&As ajudam a acelerar a estratégia da empresa”, diz o executivo.
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