O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, abriu o jogo: o banco central dos EUA acredita que a melhor maneira de combater a inflação é desacelerar a economia deliberadamente – daí o aumento da taxa de juros.
A verdadeira causa da inflação monetária é a criação de dinheiro em excesso. A cura é estabilizar o valor do dólar. Ponto final. O Fed fez isso do fim dos anos 1980 até o fim dos anos 1990, quando seu então presidente, Alan Greenspan, atrelou o dólar ao ouro de forma aberta, mas frouxa. O período ficou conhecido como a “grande moderação”. Infelizmente, Greenspan abandonou depois essa abordagem, primeiro apertando a política monetária e depois dando uma guinada de 180 graus e deixando o valor do dólar cair, o que levou ao catastrófico boom da habitação e à crise financeira de 2007-2009.
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Quanto à taxa de juros, o Fed deveria deixá-la em paz. O preço do “aluguel” do dinheiro deve ser definido livremente no mercado por quem dá e por quem toma o empréstimo.
A dor desnecessária na energia
As concessionárias estão alertando para a possibilidade de graves quedas de energia no verão norte-americano em muitas partes do país. Essa crise não é resultado de um aumento imprevisível do uso da eletricidade, mas sim de políticas irrefletidas.
Há anos, os governos exigem que as concessionárias usem cada vez mais fontes renováveis de energia – provenientes principalmente de turbinas eólicas e painéis solares – em vez de combustíveis fósseis e usinas nucleares. Muitas usinas elétricas a carvão e a gás vêm sendo fechadas. Várias centrais nucleares foram ou estão em vias de ser desativadas, e as substituições estão atrasadas.
O problema é que a tecnologia das fontes alternativas de energia é cara, e essas fontes são incapazes de atender às necessidades atuais de eletricidade.
Os defensores das energias renováveis dizem que elas são necessárias para combater as mudanças climáticas, mas pense nos riscos ambientais envolvidos no que seria preciso para substituir nossas fontes de energia tradicionais. Nas próximas décadas, seria necessário um aumento de 1.000% na mineração para fornecer os minerais necessários. Escavar milhões de hectares em busca desses minerais geraria custos ambientais terríveis.
Em contraste, uma usina de gás natural de 100 megawatts é do tamanho de uma casa típica – e fornece energia suficiente para 75 mil residências.
Como o especialista em tecnologia Mark Mills e outros já apontaram, gerar uma quantidade semelhante de eletricidade em um parque eólico exigiria 26 quilômetros quadrados de terreno, 20 turbinas eólicas, 50 mil toneladas de concreto, 30 mil toneladas de minério de ferro e 900 toneladas de plástico não reciclável para as pás.
Armazenar a eletricidade gerada para haver disponibilidade 24 horas por dia exigiria 10 mil toneladas de baterias da classe Tesla. Multiplique esse parque por alguns milhares, e a dispendiosa inviabilidade dessa transição ficará bem clara.
Ou veja os custos. Nos últimos 20 anos, US$ 5 trilhões foram gastos por governos para desenvolver essas alternativas. No entanto, a quantidade de energia fornecida em todo o mundo pelos combustíveis fósseis caiu de 86% para 84%; US$ 5 trilhões por apenas 2% de mudança.
Basta pensar no que esses US$ 5 trilhões poderiam ter feito se tivessem sido usados para combater doenças fatais, produzir mais alimentos e fornecer água limpa, tão necessária em muitas partes do mundo.
Porém, sob forte pressão política, as concessionárias norte-americanas estão se preparando para gastar enormes somas de dinheiro nessas alternativas energéticas caras e ambientalmente perigosas.
O fato é que o gás natural é um combustível limpo, como até os europeus, tão preocupados com o meio ambiente, reconhecem hoje. E a energia nuclear não apresenta problemas relacionados às emissões de dióxido de carbono.
Está na hora de fazermos uma análise não emocional de como podemos atender às nossas necessidades energéticas de forma realista.
A vantagem dos EUA
Quando se trata de fornecer energia de maneira sustentável e abundante, os EUA têm uma vantagem enorme e totalmente subestimada sobre as outras nações. Aqui, pessoas e empresas podem deter direitos minerais.
Em outros países, as pessoas podem ser donas de terras, mas o governo detém e controla estritamente os minerais e recursos naturais, como petróleo, gás, carvão, cobre, ouro, prata e assim por diante, situados abaixo da superfície dos imóveis das pessoas. Se você descobrir petróleo no seu quintal, azar o seu: ele pertence ao governo. Isso tem implicações profundas que costumam ser ignoradas.
Devido à propriedade privada dos direitos minerais nos EUA, as pessoas e empresas privadas têm um forte incentivo para procurar minerais. Eles podem lucrar com a descoberta, a extração e o processamento desses recursos naturais. Isso estimula a exploração.
Os EUA contam com empresas de petróleo e gás de primeira linha, mas também têm um enorme e vibrante setor de exploradores independentes. Muitas vezes, eles são mais ativos e ágeis do que seus equivalentes gigantes. Em certas partes do país, onde a geologia pode ser favorável, os donos de imóveis particulares estão abertos a explorar o que pode haver sob a superfície de suas terras – ou a vender os direitos de locação a outras pessoas. Nesse caso, se for encontrado petróleo, o proprietário terá direito a royalties.
Esses direitos individuais levam a muito mais exploração. A geologia do sudoeste dos EUA não é diferente da encontrada do outro lado da fronteira, no México, mas a exploração de petróleo e gás naquela parte dos EUA é muito maior do que a realizada no México.
Por quê? Porque o setor de petróleo do México é propriedade do governo. Não existe um equivalente mexicano dos exploradores independentes norte-americanos.
A abordagem singular dos direitos minerais pelos EUA também gerou um ambiente empresarial inovador. Enquanto em outros lugares o governo exerce rígidos controles sobre como os minerais são extraídos e processados, as empresas norte-americanas podem experimentar novas maneiras de fazer isso.
Essa liberdade de experimentação permitiu que os perfuradores realizassem os avanços revolucionários na perfuração lateral e no fraturamento hidráulico que fizeram a produção de petróleo disparar no país. O gás natural, um combustível limpo que se pensava estar se esgotando nos EUA, tornou-se abundante. Isso levou à nossa independência energética, que agora está em risco devido à antipatia do governo Biden pelos combustíveis fósseis.
Apesar da experiência dos EUA, a abordagem mexicana de controle governamental de cima para baixo predomina no resto do mundo. Por exemplo, há uma enorme quantidade de gás natural esperando para ser encontrada e processada na Grã-Bretanha, na Europa e em outros lugares. O fato de as pessoas não terem a propriedade e o controle dos minerais sob a superfície de suas terras ao estilo norte-americano é um enorme obstáculo.
Steve Forbes é presidente e editor-chefe da Forbes norte-americana. Escreve editoriais para todas as edições da versão impressa da Forbes, com reprodução na edição brasileira da revista, com o mote “Fato e Comentário”. Amplamente respeitado por seus prognósticos econômicos, ele é o único escritor a ganhar o prestigioso prêmio Crystal Owl Award quatro vezes.
Artigo publicado na edição 98 da revista Forbes, em junho de 2022.