Em um mercado global tomado pela turbulência, é preciso blindar, ao menos em parte, o portfólio de investimentos. Alguns ativos financeiros são menos influenciados pelo noticiário. São os chamados ativos descorrelacionados. O nome complicado apresenta um conceito simples. São investimentos cujos movimentos de alta ou de baixa são menos influenciados pelos humores do mercado financeiro ou, no caso brasileiro, pelas oscilações da política.
A política e a economia são bons exemplos. Uma das grandes ameaças econômicas é a adoção, pelo próximo presidente, de uma gestão sem responsabilidade fiscal. “O investidor não tem nenhum controle sobre o resultado das eleições e nem como será a gestão pública pelos próximos anos. Contudo, a boa notícia é que a escolha dos ativos para a sua carteira de investimentos está totalmente em suas mãos”, afirma Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management.
A recomendação do gestor é focar naquilo que se pode controlar. Neste sentido, diversificar os investimentos vai garantir mais controle e menos sustos ao longo do tempo. Isso favorece a tomada de decisões e a rentabilidade das aplicações.
“A diversificação é o único ‘almoço grátis’ no universo do mercado financeiro. É o instrumento mais adequado para aumentar a expectativa de retorno total, mas sem elevar, necessariamente, o risco”, diz Gonçalvez.
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Há poucas opções descorrelacionadas no mercado financeiro brasileiro. Porém, existem opções menos tradicionais, que oferecem rentabilidade atrativa no longo prazo e que servem de blindagem para as carteiras em momentos como o atual.
Conheça alguns investimentos descorrelacionados:
Startups
Uma opção para fugir da volatilidade provocada pela disputa eleitoral é o mercado de startups. Segundo Alcides Jarreta, cofundador da Efund, plataforma especializada em investimentos em startups, os resultados dessas empresas sofrem zero influência de qualquer política governamental ou de qualquer decisão do Banco Central (BC) sobre a taxa Selic.
“São empresas trabalhando e você está investindo diretamente nelas. Não é como na Bolsa, onde o discurso do político A ou B faz com que as ações subam ou desçam”, diz.
Jarreta faz uma analogia com um pequeno comerciante que quer vender a loja e procura estabelecer um preço. O estabelecimento comercial não vai valer mais ou menos porque o candidato X foi eleito, e não o candidato Y. Seu valor será definido pelos seus fundamentos, como potencial de crescimento e lucratividade. O mesmo raciocínio vale para as startups.
São itens como o modelo de negócio, o tipo de produto e a qualificação do time que determinam o potencial de crescimento e o retorno esperado pelos investidores.
Ativos alternativos
Outra defesa contra as incertezas são os ativos alternativos. Dois deles são muito descorrelacionados, investimentos em royalties musicais e em obras de arte.
“Royalty musical depende da execução da obra nos streamings, rádios, shows e em outras mídias. Quanto mais tocada, mais pode render. Obra de arte é um segmento totalmente independente, voltado à classe alta e cuja valorização independe até mesmo das condições econômicas de um país. Se não houver compradores de obras por aqui, basta negociar no exterior”, diz Arthur Farache, CEO da Hurst Capital, especializada nesses ativos.
Não que estes ativos estejam totalmente livres de riscos. Uma determinada canção pode não fazer o sucesso esperado no momento de sua originação e uma obra de arte pode demorar mais tempo do que o esperado para valorizar ao patamar projetado, mas nenhum cairá ou subirá por conta de comentários bem ou mal colocados pelos candidatos.
Esses investimentos até podem estar atrelados a índices de inflação como o IPCA ou a taxas de juros como o CDI ou a Selic, mas isso ocorre para garantir ganho real ao investidor.
“Se eles apresentarem recuo, mesmo assim o retorno será positivo, mantendo a proporcionalidade da rentabilidade em relação à inflação, por exemplo”, diz Farache.
ETFs
Considerando a liberdade de escolha, Gonçalvez, da Box Capital, relembra o conceito de que o melhor a ser feito é diversificar. A alocação em diferentes geografias, moedas, setores e classes de ativos é a maneira mais eficiente para proteger o patrimônio em diferentes cenários e rentabilizá-lo no longo prazo.
“Não é nada sofisticado, basta fazer o que precisa ser feito e manter a simplicidade”, diz.
Ele indica buscar oportunidades no mercado internacional, seja de maneira direta ou indireta. Investir lá fora está cada vez mais acessível ao investidor do varejo e oferece a proteção cambial e a possibilidade de investir nas maiores companhias do mundo. Uma forma de fazer isso é por meio da compra de ETF (Exchange Traded Funds), também conhecido como fundos de índice.
O objetivo do ETF é replicar a carteira teórica de um índice de mercado como, por exemplo, o Índice Bovespa (Ibovespa). Mas também é possível adquirir cotas de ETF com alta exposição em Bolsas de Valores de outros países.
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