O patrimônio líquido dos FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) estava em R$ 320,3 bilhões em setembro, dado mais recente disponível segundo a Anbima, associação que representa o setor. Embora abaixo do recorde de R$ 358,2 bilhões de abril, o total de recursos dos FIDCs em setembro cresceu 20,6% em 12 meses. Além dos bons números em termos de patrimônio, o total de FIDCs abertos atingiu inéditos 1.803. E o número de cotistas superou 35 mil. Nada mau, tendo em vista que esses produtos são restritos a investidores qualificados e profissionais.
A pujança dos FIDCs mostra uma redução na concentração do mercado de crédito. Esses fundos investem em direitos creditórios. Ou seja, eles compram fluxos de pagamentos futuros. Por exemplo, uma rede de varejo vende uma geladeira hoje em 12 parcelas no cartão de crédito. O pagamento total vai demorar um ano. Porém, a varejista pode receber antes vendendo os direitos para um investidor. Essa é uma prática tradicional no varejo e na indústria. Os FIDCs fazem isso em grande escala. Captam recursos de investidores e compram grandes lotes de recebíveis, como parcelas de cartão de crédito e financiamentos ao consumidor.
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Há algum tempo esse mercado era restrito a grandes empresas provedoras de crédito. Porém, as mudanças recentes realizadas pelo Banco Central (BC) para destravar o crédito estimularam esses produtos. A entrada das fintechs estimulou o mercado, e o aumento do volume de operações digitais nos últimos anos fez com que o mercado de FIDCs ganhasse mais relevância
“Desde que o BC entendeu que precisava abrir o mercado financeiro, as fintechs passaram a ter mais chances de penetração. 80% dos ativos de crédito do país estão nos cinco grandes bancos. Isso é um oligopólio. Empresas financeiras menores poderem conceder crédito é uma evolução com potencial de crescimento nos próximos anos”, diz Gabriel Nascimento, CEO da Ulend, plataforma de empréstimos e investimentos.
Crédito x FIDCs
Carlos Eduardo Benitez, CEO da BMP, explica que o aumento de crédito está relacionado com a evolução do mercado de FIDCs. Gerir uma carteira de crédito é um processo caro e trabalhoso. “Antecipar os recursos por meio de uma securitização via FIDC é mais leve, mais simples e mais barato”, diz ele. “Você não precisa de uma equipe com muitas pessoas, basta uma consultoria para originar o fundo e uma equipe de gestão, que é bem menor do que um departamento financeiro.”
Para os investidores, diz Nascimento, a vantagem desses fundos é permitir diversificar o portfólio. Os recebíves se originam de diversas fontes: agronegócio, indústria, pequenas e médias empresas, varejistas, entre outros. “Esses produtos não oferecem o risco e a volatilidade de produtos de renda variável como ações, e nem submetem o investidor à baixa rentabilidade de títulos públicos como o Tesouro Direto. Os rendimentos médios variam entre 12% e 14% ao ano”, diz o CEO da Ulend.
Para as startups financeiras, o combo é ideal. Gerido por profissionais, o fundo exige menos mão de obra. E é possível obter recursos com investidores para expandir o crédito para os clientes. “Os fundos abrem espaço para o que realmente importa, que é se concentrar no negócio”, diz o CEO da BMP, que atua na estruturação de fundos, construção de políticas de crédito e cobrança de inadimplentes.
Segundo a consultoria Uqbar, as fintechs estruturaram R$ 6,9 bilhões de FIDCs em 2020, quantia que dobrou em 2021 para R$ 14 bilhões.
Desafios e possibilidades
Para o CEO da Ulend, a concentração do crédito nos grandes bancos oferece uma excelente oportunidade de crescimento para os FIDCs. “As fintechs não possuem um grande caixa para expandir o volume de crédito em larga escala, fazer isso por meio dos FIDCs é uma solução”, diz Nascimento.
Existem desafios. Benitez explica que uma captação via FIDC passa a ser viável com uma carteira de crédito superior a R$ 30 milhões. Isso porque existem custos para a emissão de um produto financeiro, como os gastos com estruturação e gestão do fundo. Porém, isso não muda o potencial de descentralização do crédito das mãos dos grandes bancos. De acordo com Nascimento, essas empresas trabalham em diferentes nichos, muitos deles que estavam desassistidos pelo mercado antes. Esse é um motor que continuará forte nos próximos anos.
“O FIDC é uma forma de levar dinheiro que não está concentrado nos bancos para a economia. É um mecanismo que faz com que mais dinheiro se movimente no mercado, por meio de boas estruturas de securitização que protegem o investimento”, afirma Benitez.
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